Diz-se muitas vezes, brincando, que o sexo oposto deveria vir com manual de instruções. O que até tem cabimento, se pensarmos em todos os desencontros e desentendimentos provocados por formas diferentes de pensar e agir, e ainda mais de sentir, e que seriam tão facilmente evitados se soubéssemos mais sobre o outro. Mas não é sobre relações de que venho falar, ou até é, mas não amorosas. Extrapolando um pouco o conceito, diria que um manual de instruções que acompanhasse qualquer pessoa seria útil, e especialmente entre amigos. Uma lista com as coisas que tal pessoa gosta e desgosta, registos de personalidade, modos de acção e sinais de reconhecimento de emoções, como avisos a desagrados e formas de evitar ataques de fúria. E este livrinho, bem estudado por todos os que nos rodeiam e connosco convivem diariamente, evitaria tantas situações constrangedoras ou simplesmente aborrecidas, que tornaria a nossa vida bem mais fácil e agradável.
No meu caso, por exemplo, os meus amigos saberiam que há pouca coisa que eu odeie mais na vida que falar ao telefone, e que o meu limite de tolerância anda ali pelos 3 minutos. Para mim, o telefone serve para dar recados e transmitir mensagens concisas, nunca para conversar, e que estender uma conversa mais do que o mínimo indispensável torna-se para mim um suplício. O facto de a partir dos 3 minutos eu começar a responder em monossílabos deveria, por si só, ser um sinal de que a conversa se está a tornar muito longa, mas não, esse sinal é sistematicamente ignorado, pelo que acabo por ter de recorrer ao plano B, que consiste em simplesmente despachar a pessoa o mais rapidamente possível, com a melhor desculpa que encontrar. Como não sei mentir -isto também não podia ser só defeitos -, pode descansar o amigo frequentemente despachado, que a desculpa é sempre verdadeira, embora, ainda assim, desculpa. E não é por mal, que não é, e quem me conhece bem sabe que posso passar umas 8 horas seguidas à conversa sem descanso, mas ao telefone é que não.
Felizmente, o meu pai também não é grande fã do aparelho, pelo que as nossas conversas nos telefonemas para saber se está tudo bem, se resumem, na maior parte das vezes, a dizer que está tudo bem, e a dar conta de alguma coisa que precise ser falada. O resto, é conversado por e-mail, que é coisa muito mais do meu agrado.
E para perceberem melhor o quanto detesto mesmo falar ao telefone, a título ilustrativo dou que de bom grado trocaria meia hora ao telefone pelo mesmo tempo a lavar louça, e sem luvas. Por isso, se me quiserem manter contentinha e simpática, contenham-se e vão directamente de A a B, sem contar o caminho inteiro entre os dois. E ambos só temos a ganhar: eu não me enfado, e vós não sois despachados.
Termino reafirmando que sou bastante radical no que concerne a motivos de exclusão, e admito que excluiria sem pensar duas vezes a maior parte dos meus amigos homossexuais. Bem como boa parte dos heterossexuais. Alguns deles que me são bem próximos, e por isso mesmo, porque sei o que a casa gasta. Mas, em ambos os grupos, conheço pessoas responsáveis, que sabem bem o que fazem, e cujo sangue poderá fazer falta e servir a alguém que dele precise. E estas pessoas não merecem ser discriminadas.