5 de janeiro de 2012

Lucia e o sexo - post com bolinha

No outro dia, acho que foi na passagem de ano, cheguei a casa e estava a começar a dar o Lucia e o Sexo, um filme com certa nomeada - e até prémios - de que já tinha ouvido falar, mas que nunca tinha tido oportunidade de visionar, embora tivesse curiosidade. Apesar de serem aí umas quatro da manhã e eu já ter bebido uns canecos, e para colmatar a minha falha cultural relativamente a tal filme de culto, decidi ficar a ver, tentando perceber a razão para o entusiasmo sem ser o facto da Paz Vega se fartar de aparecer toda nua. Infelizmente, e por falha minha decerto, não consegui entrosar-me muito na história, como passarei a explicar. 
Provavelmente será nesta altura que deverei avisar que isto contém imensos spoilers, e que se tencionam ver e eventualmente até gostar do filme, deverão parar por aqui, sob pena de ficarem ligeiramente influenciados pela minha opinião, além de ficarem a saber a história todinha, com suas coincidências e reviravoltas quase mais mirabolantes que nos filmes de M. Night Shyamalan, intercaladas com muita Paz Vega nua - não sei se já tinha referido esta parte - pelo meio.
Ora bem, o romance de Lucia - a Paz Vega nua - com o escritor começa com ela a dizer-lhe num bar que está perdidamente apaixonada por ele desde que leu o seu livro, que gosta de o seguir na rua, que quer viver com ele, e coisas assim ao género "every breath you take", e ele, como qualquer pessoa normal, em vez de fugir da stalker e chamar a polícia, apaixona-se por ela logo nesse instante, vão-se embebedar, e leva-a para sua casa de onde ela já não sai mais, começando uma linda relação com muitas polaroids à mistura - naquela altura ainda não havia iPhones.
Entretanto, anos antes, ele tinha tido uma one night stand com uma tipa numa ilha, sem ter trocado mais detalhes que nomes próprios, data de nascimento - ele fazia anos - e a cidade onde vivia, Madrid. A tipa engravida, e como qualquer pessoa normal, decide mudar-se para Madrid, uma cidade pequena de 3 milhões de habitantes - de facto é melhor que São Paulo - mais ou menos na esperança de o encontrar, já que sabia imenso dele, ou seja, o nome próprio. 
Um dia o agente do escritor diz-lhe que tem uma amiga de uma amiga que conheceu uma tipa que vinha da ilha da queca mágica e que tinha uma filha com idade correspondente à mesma, e que se chamava Luna em honra da noite de amor ao luar. O escritor, como qualquer pessoa normal, em vez de tentar contactar a mãe da criança e esclarecer a paternidade, começa a frequentar o parque infantil onde a miúda brinca na companhia da babysitter, tornando-se íntimo de ambas. 
A babysitter conta-lhe que a sua mãe, como qualquer pessoa normal, é estrela porno, e que tem um novo namorado, por quem ela, babysitter, se sente atraída. Também, como qualquer pessoa normal, a babysitter gosta de se satisfazer no sofá da sala, na casa onde vive com a mãe e padrasto, enquanto vê os filmes porno onde figura a sua mãe a pinar, o que por sua vez corresponde mais ou menos à ideia de turn on de toda a gente normal. Depois devo ter fechado um bocadinho os olhos porque não percebi se se envolveu de facto com o padrasto, ou se era só imaginação dela, mas adiante. O escritor então envolve-se com a babysitter, e como qualquer pessoa normal, numa noite em que a mãe da criança vai sair, vai lá a casa para fazer o amor com rapariga, depois de adormecer a filha. 
Entretanto devo ter passado pelas brasas de novo, e não percebi muito bem, mas a criança é atacada pelo cão rottweiler, e o escritor, como qualquer pessoa normal, em vez de ficar a ver o que acontece à filha, chamar ambulância e tal, salta pela janela e foge. A criança morre, e a mãe volta para a ilha sem nunca saber nada sobre ele, nem o seu envolvimento com a filha. Depois disso ele, e como qualquer pessoa normal, inicia uma relação virtual com ela, sem nunca revelar a sua identidade.
Nesta altura, enquanto o escritor vai escrevendo um romance sobre toda esta história, por andar um bocado deprimido, a relação com Lucia sofre muito, e os espectadores também, já que eles deixam de ter sexo e já há uns bons vinte minutos que a Lucia não aparece nua. Depois devo ter fechado mais um bocadinho os olhos, mas  pelo que percebi, a babysitter e a mãe estrela porno suicidam-se ambas por causa do triângulo amoroso. O escritor entretanto também tenta suicidar-se, e a Lucia, como qualquer pessoa normal, em vez de ficar para saber o que aconteceu ao homem da sua vida, se está vivo ou morto, se precisa dela ou assim, pensa: já sei, vou mas é descobrir-me para a ilha onde o meu namorado possivelmente falecido teve uma noite escaldante com outra mulher. E pronto, lá vai ela para a ilha, o que dá muito jeito ao filme, porque tem muita praia, e volta a haver montes de oportunidades de a pôr a aparecer toda nua. 
Chegando à ilha, e depois de ter um ataque de choro porque não servem paella para uma pessoa, o que a faz sentir muito só e abandonada, Lucia conhece um tipo que a leva para uma pensão que, por coincidência, é da mãe da filha morta do namorado escritor, com quem o tipo tem uma relação carnal. Por sua vez, e coincidência também, este tipo é na verdade o namorado da estrela porno e padrasto da babysitter da filha da dona da pensão e do namorado de Lucia, que ali se refugiou após o duplo suicídio. Lucia torna-se confidente da mãe da filha do namorado escritor putativamente falecido, que lhe conta do seu amigo virtual e do romance que escreveu, levando Lucia a perceber toda a relação, e tratarem-se da mesma pessoa. 
O filme acaba em bem quando o escritor acorda do coma, e vai para a ilha em busca da Lucia, encontrando-se por coincidência - surpresa! - com a mãe da filha, que o reconhece imediatamente, apesar de só se terem visto uma vez à noite há uma data de anos, a quem pede finalmente perdão - embora ela não soubesse de nada -, de seguida reunindo-se com Lucia, o seu grande amor, e ficando todos amigos e felizes e contentes.
Resumindo, um filme que até poderia, ou melhor, só poderia ter resultado se tivesse sido realizado pelo Almodóvar. Infelizmente não foi.
Fin. 

29 comentários:

  1. LOLOL Adorei.
    Eu gostei muito desse filme, quando saiu era algo bastante prá frentex. Visto assim a história é estúpida, mas os filmes espanhóis dos 80/90 e até 00 são todos assim. Gosto de filmes espanhóis porque davam-me/dão-me visões e perspectivas do mundo que o cinema americano/português nunca deu/dará. O francês toca lá perto (mas é mais clean) mas o espanhol é o melhor. Veja-se a porcaria do Jamón, Jamón ou o Juani, coisas assim. Até o Almodóvar tem a sua parte de leão de estupidez nos filmes, situações sem pés nem cabeça, nada más lejos de la realidad. Mas eu não queria realidad, eu queria histórias impossíveis, "amores rotos" e refeitos, lágrimas com sangue e fodas mal dadas. É, gosto do cinema espanhol :)

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  2. Ainda estou abananada com a tua crítica iluminada. E com o riso que ainda não me largou.
    Tu no teu melhor.

    E não é que quando anuncias que a Lucia vai para a ilha descobrir-se me lembrei (o pensamento é uma coisa tão caprichosa!) da nossa Scarlettzinha?

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  3. Ah ah ah ah ah ah ah tens piada, tens mesmo piada. O filme é ridículo se for analisado ah ah ah ah ah ah ah ah não voltarei a ver um filme espanhol sem uma ponta de criticismo à la Luna ah ah ah ah MALVADA!

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  4. Já não vou ver o filme que me parece tão alucinado e idiota que nem sei como é que conseguiste perceber essa história toda até ao fim. Mas mandei umas boas gargalhadas com o teu post. Lindo!

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  5. :D olha, adorei, adorei, adorei. Deve ser o argumento do século, sei lá. Isso foi filme de culto, foi? Geeeee.

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  6. não vou ver o filme, mas fiquei deliciada com a tua história!

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  7. Cá vai uma opinião masculina:
    Para ver a Paz Vega nua há um filme melhor.
    The Human Contract
    http://www.imdb.com/title/tt1109477/

    (a história não é tão parva, mas anda lá perto)

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  8. Obrigada por este momento hilariante. Adorei a tua visão do filme. LINDO!!!

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  9. Juanna: eu se calhar teria gostado do filme e achado muito profundo (e muito à frente) aí há 10 anos. Agora foi o tempo todo a pensar: wtf?

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  10. Ao resto: proponho que vão ver o filme e depois me digam de vossa justiça.

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  11. Entretanto disseram-me que era tradição de longa data passarem filmes porno na noite de passagem de ano. 30 anos e nunca tinha percebido.

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  12. Agora fazes critícas literárias à la juvenal?

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  13. Ska: nao percebi. mas devo dizer que foi apenas com o que fiquei desta obra cinematográfica.

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  14. Esta crítica deveria ser emoldura. Out standing!

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  15. O truque da compreensão de certas obras é, em parte, algo que fizeste. Dormir pelo meio.

    Muitas vezes, o sono corta parte do argumento que faz a coisa transbordar do nível absurdo-catastrófico para um bastante mais aceitável absurdo-elitista-pseudo-cultural.

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  16. Tive exactamente a mesma reacção quando vi o filme, podia ter sido bom,faltou-lhe um bom bocado.

    E estou completamente de acordo quanto ao fabuloooosoooo Almodóvar, se ele tivesse pegado no filme era uma completa obra prima.

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  17. O Almodóvar tem uma sensibilidade e capacidade incrível de humanizar e dar dimensão às personagens, e de pegar em histórias mirabolantes e fazer delas obras primas. Neste caso os personagens nunca passaram de bidimensionais, meras caricaturas, não conseguindo dar profundidade ao filme.

    (mesmo a Lucia, personagem princiopal, o que sabemos da personalidade dela, do seu eu? sabemos que é empregada de mesa, que seguia o escritor, que se junta com ele, e que tem ataques de choro quando nao servem paella para dois pq nao consegue estar sozinha, mas mais nada, tudo superficial. o mesmo com o resto dos personagens.)

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  18. LOL eu apanhei o filme na parte em que ela está no apartamento do gajo e basicamente aquilo era: uma fotografia, um pinanço; uma festa no cabelo, outro pinanço... xD
    cheguei a casa com o meu namorado e um casal amigo, ficámos os 4 a olhar para aquilo e só nos ríamos, era tão parvo... xD

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  19. De certeza que deve haver muito crítico pseudo intelectual que ia adorar esta tua visão..eheheheheh

    Boa escrita, divertida ;)

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  20. o melhor resumo que li do filme.
    touché x)

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  21. Bem com isto tudo acho que tenho que ir ver a Paz Vega nua....

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  22. Referencia ao senhor juvenal, o anormal, que mantem o ''melhor blog do universo''.

    sobpressaonaoconsigo.blogspot.com

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  23. Luna, contado por ti tem muito mais piada. Nós ( eu e a malta) começamos a ver e... decidimos desligar e jogar buzz!

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  24. Ska: pronto, já percebi. mas ele é melhor. (o senhor dos aneis está muito bom)

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  25. Sim, nem eu sugeri o contrário.

    Mas achei o estilo parecido. Acho que de resto todas as críticas cinéfilas deveriam ser feitas assim.

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  26. Já fiz umas a sério, como esta:

    http://horas-perdidas.blogspot.com/2009/09/o-remorso.html

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  27. Acho que deverias começar aqui uma rubrica com crítica de cinema. Mas só com filmes de que não tenhas gostado. Que te parece?

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  28. Esta descrição é fantástica! Concordo com a Julie!

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