Não, não vou revelar fantasias eróticas nem episódios tórridos dignos de bolinha no canto superior direito, apesar do engano ao qual o título pode levar. Nada disso: estou com gripe. E o que é que o resto do mundo tem com isso? Nada, nadica, mas apetece-me partilhar a agonia da clausura com as 4 ou 5 (estarei a ser presunçosa?) pessoas que lêem isto.
Há 5 dias – 5! – que deambulo vagarosamente entre a cama e o sofá, seguida por todos os medicamentos que familiares e amigos vão sugerindo, sempre com as melhores das intenções, sem saber quando vou cair para o lado com uma overdose. Há 5 dias que deixei todos os vícios e passo os dias deitada no sofá a ver televisão, comando na mão, almofadas, mantas, saco de água quente. Há 5 dias que não vejo amigos, bebo um café ou fumo um cigarro, se bem que desconfio que hei de fumar um maço inteiro compulsivamente quando puser o pézinho fora de casa.
Aprendi que ler, ou qualquer outra actividade construtiva, se torna impossível quando a cabeça parece explodir e um simples movimento de olhos é doloroso. Aprendi que a programação da tarde, durante a semana, é dedicada a quem está em casa à tarde, durante a semana. Aprendi que o corpo humano, por mais confortável que seja o sofá, não foi feito para passar 24 horas deitado em inacção.
Assim venho redimir-me do que tenho escrito ultimamente. Como costumam dizer, pela boca morre o peixe – seria pertinente mudar para peixa ou peixe fêmea? – que neste caso sou eu. É bom sair ao sábado, mesmo para o sítio de sempre com os amigos de sempre, mesmo sem fazer nada de especial! E tardes de domingo perfeitas? Tendo em conta que as vivi intensamente nos últimos dias e, sabendo que terei mais uma dessas hoje mesmo, terei de reformular o conceito. E o conceito exige como condição o termo “esporadicamente”. E já tenho saudades de ter fome, e de comer com gosto, sem ser só sopa.
E depois deste acto de retractação pública, espero para a semana poder escrever com a inspiração de quem vive o mundo e não de quem o vê através do pequeno ecrã.
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