7 de janeiro de 2005

A noite


A hora de dormir foi sempre, ou desde que me lembro, o momento em que, invariavelmente, reflicto sobre os acontecimentos e questões que me coloco no dia a dia, desde as mais absurdas às mais concretas, das mais profundas às mais triviais… Um emaranhado de ideias e pensamentos que me vêm à mente nesse preciso instante em que apago a luz e me proponho a dormir.

Penso no dia que passou, nos acontecimentos que o marcaram, ou mesmo naqueles que, de tão banais, não mereceram sequer especial atenção à luz do sol. Mas, no escuro, aparecem-me tão nítidos, associados a porquês sobre causas e efeitos, razões obscuras e incompreensíveis que procuro descortinar naquele silêncio apaziguador que só a noite proporciona.

É esse impasse de espera, enquanto o sono não chega, o eventual responsável pelo encontro diário com minha verdadeira personalidade e os meus ideais, a origem dos meus sonhos, o catalisador da grande parte das minhas resoluções, o causador de dúvidas e questões existênciais, o tempo de recolha a mim mesma, ao meu ser e minhas convicções, onde, mentalmente, traço os planos da minha vida e daquilo que há de vir.


Starry Night


Se, por vezes, lamento não ter sido abençoada com sono fácil, aquele se diz merecerem os justos, a verdade é que esse tempo, de voltas e voltas na cama, é, sem dúvida, um dos mais importantes na construção do que sou. Não imagino a minha vida sem estes instantes de solidão, de isolamento do mundo e dos outros, em que existo apenas eu e os meus pensamentos.

Revejo o dia, a semana, o ano, toda a vida. Penso nos amigos, família, conhecidos, ou mesmo desconhecidos, pessoas que nunca conheci e que nunca irão cruzar o meu caminho. E ponho-me as questões que servem de partida às minhas reflexões inconsequentes, perguntas sem resposta que me disponho a tentar adivinhar.


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