Senha verde por favor!

O primeiro contacto com a realidade da classe proletária – sim, estou a dramatizar a primeira visita ao que desconfio se tornará muito familiar Centro de Emprego, de modo a formalizar a entrada adiada no mundo do trabalho - pode ser verdadeiramente traumatizante. Piii! – com isto pretendo imitar o som irritante da mudança de número do ecrán que indica a vez na lista de espera. Piii! Repete-se com uma frequência não constante. Pi!!! Piii! Hmmmm, “informações”, “inscrições”, hmmmm, deve ser esta… senha verde, número 24. Piii! Outra vez, olho o ecránzinho da senha verde que vai no 10 enquanto procuro um lugar seguro para me sentar. A sala apinhada de gente com ar gasto em esperas habituais. Piii! Não, não me vou sentar ao lado da loura que tira macacos do nariz! Piii! Bolas, é prá senha amarela! Piii! Outra vez, Piii! de novo! Talvez nem tenha de esperar muito. Ohhh, tinha de ser, lei de Murphy aplicada, a senha amarela anda sempre mais rápido.
Sou atendida, inscrição para emprego, sim, estágios, sim… Formação profissional? Sim! Informações? “Aguarde um bocado enquanto preenche os papéis que já vêm ter consigo”. Hmmm… Já preenchi… Já preenchi há muito tempo… Já preenchi há muito muito tempo! Arrisco em perguntar com quem devo falar: - Olhe desculpe, formação profissional? - Senha amarela por favor. – Mas já falei… - Senha amarela! – Sim, pois, mas mandaram-me para aqui… - Senha amarela, lá em baixo! – Mas já tive lá em baixo com a senha verde e mandaram-me aguardar aqui… - Hmmm… Então aguarde, já a chamam… E chamaram, quando já me imaginava a tremer de frio encolhida a tentar dormir no desconforto das cadeiras da sala de espera, como costumo ver nos aeroportos nos vôos nocturnos, por se terem esquecido de mim, mas isso já não tem interesse nenhum! Piii! Espero não ter pesadelos: Piii! Senha verde! Piii! Senha amarela! Piii!