25 de fevereiro de 2005

Vícios da Primária


Volvidos quase 20 anos da entrada para a escolinha e do início da minha vida de estudante, que ainda continua, fui-me relacionando e aprendendo a conhecer vários tipos de pessoas que invariavelmente, pelos seus comportamentos e atitudes, me remetem para a primária e o tempo dos joelhos esfolados e mochila às costas.

Desde aí se vão vislumbrando os traços do que se há de ser, e se vão aperfeiçoando as qualidades e defeitos que viremos a apresentar mais tarde, desenvolvendo egoísmos e manhas, apenas disfarçados por revestimentos mais polidos e sofisticados. Mas raspando bem a superfície, facilmente encontramos as crianças desdentadas da 1ª classe, guardadas num espacinho especial da nossa memória. E facilmente correspondemos os novos colegas adultos com o marrão, o queixinhas, o rebelde ou o palhacinho da turma.

Nunca fui muito organizada, fiz a faculdade sem ter cadernos, dependendo da boa vontade de almas generosas na época de exames, e por isso sei ver quem são aqueles que partilham espontaneamente e os que mostrarão relutância em emprestar apontamentos, num egoísmo mesquinho e medo de serem ultrapassados, numa competição pelo 1º lugar que pode ser ameaçada.

Hoje revivi esses tempos, quando sugeri a um colega que no fim do módulo me emprestasse os seus apontamentos, oferecendo-me para passar para computador as ideias principais, num resumo organizado, que enviaria depois aos restantes colegas. À falta imediata do “Claro que sim!” percebi instantaneamente que o silêncio se devia a uma acelerada busca mental de uma desculpa para dizer que não – porque esta gente nem sequer tem coragem de negar directamente – e não me surpreendi ao ouvir que “possivelmente não iria perceber a letra”. Bardamerda!

Volto em grande velocidade à primária e derrapo em frente à marrona da turma, a melhor aluna, altamente competitiva e egoísta, para quem ajudar os mais fracos era pecado e o certo era delatar os copiões. E agradeço aos meus pais terem-me educado tão bem. Sempre fui boa aluna – era a 2ª e secretamente odiada pela marrona – mas nunca me preocupei em ser a melhor, e o facto de ajudar os outros, deixar copiar os testes e passar papelinhos com respostas às mais difíceis, concedeu-me muitas amizades.

Quanto aos apontamentos, sei perfeitamente quem mos dará com agrado, sem ter medo de ser prejudicado, vê-se pela cara e pelo sorriso espontâneo. Quanto aos outros, não sejam picuinhas, porque à falta de cadernos vou buscar os livros – ao contrário de muita gente nunca me assustei com calhamaços, de certeza melhor escritos e mais cuidados que os gatafunhos escritos à pressa entre mudanças de slide, e aí atenção, posso mesmo ficar a saber mais!

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