Mil Vidas

Gostaria de ter mil vidas, para poder viver em todas as cidades pelas quais me apaixonei ao visitar, e que no regresso me deixam saudade e aquela sensação estranha de que soube a pouco. Queria conhecê-las por dentro, embrenhando-me nelas até desvendar todos os seus segredos, da única forma possível de conhecer uma cidade: vivendo nela.

A facilidade de adaptação que sempre me acompanhou é a grande culpada, existem poucas cidades que tenha visitado onde não tenha pensado ser capaz de lá viver. Como gostaria de poder viver uma vida itinerante, ser eternamente estudante Erasmus, vivendo 6 meses em cada lugar, conhecendo suas gentes, partindo deixando saudades mas com a alegria da certeza de nova aventura, novas ruas, praças, jardins, cafés, bares por conhecer.

Porque me apaixonei por Salamanca, aqui tão perto e afinal tão longe, que se vê a pé, e onde antigo e moderno convivem em plena comunhão e harmonia no tom amarelado da pedra e no vermelho dos escritos, falando do respeito pela arquitectura e paisagem que ainda não aprendemos.

E pela vida nas suas ruas, pelo fugir ao cinzentão português tão enraizado que nos faz olhar com desconfiança e desagrado os hermanos espanhóis tão mais vivos e alegres, tão naturais, tão sem medo do “parece mal” e do pânico do ridículo. As ruas, as praças, os cafés, os bares cheios de gente, que canta, dança, se diverte sem pensar na opinião dos outros. As tascas onde ao balcão se comem costillas lambuzadas acompanhando um copito de vinho ou caña, ou o balcão da churreria onde confortámos o estômago já de manhã, na lenta volta para casa. Soube-me a pouco.

Hasta la vista Salamanca!