7 de junho de 2005
Capítulo III – A Morta
Pode ler o Capítulo I em As Sombras.
Pode ler o Capítulo II em L'Chaim Shedim.
Pedro juntou-se discretamente ao grupo de mirones que se tinha formado junto ao local do crime. Um incrível aparato policial tinha sido montado à porta de casa da curvilínea vizinha, facto inédito naquele bairro tradicionalmente tranquilo, onde apenas por duas ou três vezes tinha sido chamada a GNR, para resolver pequenas disputas no café do Joaquim em noites de bola. A agitação era geral e a estupefacção estampava-se nos rostos dos seus vizinhos, ainda incrédulos e curiosos quanto ao acontecido, procurando perceber o que realmente se tinha passado, e arriscando já comentários e explicações sobre o insólito crime.
Pedro tentou inutilmente furar por entre a multidão, o aglomerado tinha crescido e as conversas cruzadas tornavam impossível decifrar qualquer palavra trocada entre os agentes da judiciária. Era escusado, não conseguiria descortinar nada por ali. Conseguiu apenas esclarecer a identidade do cadáver que tinha visto ser transportado num saco de plástico preto. Era ela, a vizinha. Estava morta e ele sabia que o seu assassinato se devia indubitavelmente à caixa que lhe tinha entregue na véspera.
Tentou disfarçar o terror que o invadia, enquanto tentava pensar no seu próximo passo. Os seus pensamentos são subitamente interrompidos por uma voz estridente:
- Não me está a ouvir?”, interpolava-o a D. Margarida do talho, conhecida por ser a maior bisbilhoteira do bairro. - Não acha que foi passional? Ela andava a pedi-las, pavoneava-se por aí naqueles trajes e está-se mesmo a ver, meteu-se com o marido de alguma que lhe fez a folha! - Anuiu com a cabeça, enquanto se desculpava com uma súbita enxaqueca para escapar à conversa. Fugiu para o único sítio que se lembrou, apesar de pressentir ser o menos seguro de todos: a sua casa.
Meteu a chave à porta e abriu. Estranhou não ter dado as duas voltas habituais, não costumava deixar a porta no trinco, mas atribuiu-o à perturbação causada pelos acontecimentos da noite anterior, com certeza tinha-se esquecido. À porta estava já o Faísca saltitante, de trela na boca e a abanar o rabo, ansioso pela voltinha da tarde. Pareceu-lhe especialmente agitado, provavelmente pela sua chegada tardia, de mais de uma hora de atraso. Pelo menos alguém mantia a normalidade e a rotina, pensou, enquanto lhe afagava o focinho e lhe segurava na trela para o passeio diário.
A volta foi mais curta que de costume. Apesar da companhia relaxante do seu fiel amigo, não podia controlar o medo que sentia, nem concentrar-se e com calma decidir qual o passo seguinte. Entrou em casa, pousou as chaves, arrumou a trela do Faísca e descalçou-se. Só ao entrar na sala percebeu a verdadeira causa da porta destrancada, enquanto um turbilhão de ideias e sentimentos o inundavam e enchiam de dúvidas. Sentiu o coração na boca e tentou balbuciar algo, mas perdeu a fala. Ali estava ela, serena, comodamente sentada à sua espera com a caixa sobre o colo, fazendo festas ao Faísca que tinha entretanto corrido para ela sem estranhar. Não entendia mais nada, quem seria então a mulher assassinada dentro do saco preto? Uma voz sensual rompeu finalmente o silêncio:
- Desculpe, mas não sabia a quem mais recorrer…
Pode ler o Capítulo IV em Devaneios.
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Para quem temia escrever mistérios...
ResponderEliminarIsto está a andar bem, não está?
E aquela Margarida do talho é um mimo. As gajas são terríveis, e quando toca a inveja, ui, ui.
Confesso que estava com medo, mas afinal nem custou assim tanto.
ResponderEliminarFoi um bocado feito às três pancadas e agora vejo que mudava algumas coisas. A pressa é inimiga da perfeição. Azarito!
ResponderEliminarbolas pá, deixas-me já um corpo nas mãos e ainda agora cheguei! tou a pensar em duas versões mas... ou mana gémea separada À nascensa tipo tvi versão barata oua outra nao digo
ResponderEliminarui ui !
ResponderEliminarespero que não se importem de esperar por mim, à velocidade que isto vai, amanhã de manhã já vai na minha vez! lol
Só posso contribuir amanhã à noite! aviso desde já!
lol
ui ui !
ResponderEliminarespero que não se importem de esperar por mim, à velocidade que isto vai, amanhã de manhã já vai na minha vez! lol
Só posso contribuir amanhã à noite! aviso desde já!
lol
pá! eu continuo a perguntar! Porquê Pedro?
ResponderEliminarainda muito ensonado mas já está...
ResponderEliminarPita, não sei!!!
Confesso q o q mais m agrada é a atribuição dos nomes das personagens...é curioso como, à menina do talho, eu teria chamado qualquer coisa como...Graciete.
ResponderEliminarÓ Pedrinho, é por isso q tu agora assinas "Pita"? lol
ResponderEliminarEstou a gostar realmente muito do ritmo e do rumo que esta corrente está a tomar. Ainda bem que a morta não era a vizinha! Se fosse, o Roque tinha que escolher outra gaja para a cena de sexo impressionante!
ResponderEliminarbah... não gostei... a gaja não tinha nada que morrer... essa cena é a mesma coisa que ter um filme com a angelina jolie e ela aparecer apenas nos primeiros 5 minutos...
ResponderEliminarO mistério adensa-se... Como é possível ser vizinha ?!?
ResponderEliminarGostei !!!
Porquê Pedro?, perguntam.
ResponderEliminarNão tinha nenhum nome e tinha ce começar a história. E lembrei-me daquilo que, mais ou menos por estas palavras, Jesus disse a Simão: a partir de hoje, vais chamar-te «Pedro», pois tu serás a pedra sobre a qual edificarei a minha igreja.
E prontos, Pedro seria a pedra a partir da qual seria escrita a história.
Eu cá gosto dos nomes postos até agora, à excepção da história surrealista do Machadix.
ResponderEliminarÓ Roque a gaja não morreu... nós é que pensávamos.
Mr V, devo dizer que por essa explicação, tb eu pergunto PORQÙÊ PEDRO?!?!?!?!
ResponderEliminarTudo menos referencias relegioso-cristãs, não, por favor!!!
...mas está bem. Pelo menos tem uma razão de ser!
e eu pergunto a todos vocês "porque não Pedro"???
ResponderEliminarSim, porque não Pedro?
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