16 de julho de 2005

Desgraças

Odeio a frase “Já passei por muito…”, tantas vezes usada como arma de arremesso ou cartão de visita, como se as desgraças da vida fossem motivo de orgulho ou atestado de superioridade moral. Tretas, não são! Desgraças são apenas isso mesmo, desgraças, e todos passávamos muito melhor sem elas. Ou pelo menos quem não almeje ser a personificação barata de uma Marisol ou qualquer protagonista ceguinha ou paralítica órfã de novela sul-americana. Que não se aguentam as coitadinhas das gatas borralheiras, que tanto gostam de ser alvo de pena que merecem mesmo continuar de joelhos postos na tijoleira a lavar escadas.

As agruras da vida não são lições, são uma grande merdinha e existem apenas para perturbar as nossas vidinhas e retirar-nos um pouco da nossa alegria para distribuí-la aos pobres. Não são uma forma de nos melhorarmos enquanto pessoas ou de nos tornarmos mais sábios, apenas nos ensinam a reagir e adaptarmo-nos à posição em que dói menos, tornando-nos mais maleáveis e resistentes à dor, ainda que cheios de contracturas e lesões na coluna vertebral, torta de tanta adaptação forçada.

Não acredito nas teorias da libertação pelo sacrifício ou sofrimento, as pessoas são infinitamente melhores quando são felizes, e os desgraçadinhos, por trás da capa de sofredores conformados, apenas invejam a sorte daqueles que não foram tocados pela desgraça. Invejam-lhes a alegria, a felicidade, o riso solto sem a sombra da tristeza no olhar ou a liberdade de escolher onde ir e quando ir, sem se prenderem com doenças ou outras preocupações.

Mas neste país em que tanto se gosta de descrever ao ínfimo pormenor a infelicidade alheia e ainda mais a nossa, parece que os problemas servem de autopromoção, mais ainda se lhes juntarmos um bater no peito convicto e umas quantas lágrimas gordas. Aí sim, ganha-se a admiração da sociedade. E é vê-los feitos abutres, sedentos de mais pormenores, perguntando por cada detalhe, para satisfazer o desejo mórbido de coleccionar desgraças para a troca, enquanto comentam as novelas da TVI.

Mas como dizia Vinícius de Moraes: “É melhor ser alegre que ser triste” e o melhor mesmo é enxotar os problemas e não fazer da desgraça um modo de vida, tirando de cada dia o que tem de bom e tapando com as alegrias as tristezas. Continuando a viver. Que ninguém é melhor por ser infeliz.

10 comentários:

  1. assino e re-assino.

    detesto o tipo de pessoa que está sempre a lamentar-se, que trabalha muito, que corre tudo mal, que isto, que aquilo...

    éé! viver já é bom demais para não aproveitar todos os momentos.

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  2. Tens toda a razão, Lunita. Tanta que eu até vou escrever sobre isso.

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  3. Muito bom post, Luna! Tens toda a razão: há que combater a lamentação com uma boa dose de boa disposição! :) Jinhos

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  4. ai mulher tou todo apanhadinho deste lado esquerdo todo salv'seja. Isto é do calor...

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  5. Como se disse no filme do herói: «para que é que uma pessoa cai?», «Para se levantar de novo.»

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  6. Quando eu caía ainda levava porrada. Eu caio, o tanas!

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  7. Respiras????
    Já é quase quarta...
    :))))

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