Ainda no rescaldo do debate Soares/Cavaco que não pretendo comentar, surge-me de novo uma questão recorrente também ela já muito debatida cá por casa sobre a mesa de jantar: o que separa as gentes das letras e das ciências?
Começo pelo óbvio, a formação de base, que leva a uma série de pretensas superioridades de uns sobre outros e a atitudes sobranceiras que se tornam enfadonhas e repetitivas.
Se por um lado as gentes crescidas em formação maioritariamente humanista olham com desdém os incultos primários que só ligam aos números, por outro aqueles que enveredaram pelas ciências riem maliciosamente dos devaneios artísticos de quem não poucas vezes se afasta da realidade pé-na-terra embalado por sonhos megalómanos.
A verdade é que é preciso gente que olhe para os números, e que olhe bem. Que saiba o que são ordens de grandeza, que dez mil não é o mesmo que um milhão, e que 37645 ou 38000 são a mesma coisa para efeitos de ideia global de um valor. Que repare nos desvios orçamentais, que veja o inconcebível, e que a perguntas de teor quantitativo não responda: "Não faço a mínima ideia!" ainda que artisticamente isso tenha pouco valor. Que embora não saiba ao certo quanto mede a Árvore de Natal Gigante, saiba dizer que estará na ordem de grandeza da centena de metros - são 72 ao que parece - mas não são 10 nem 200.
Claro que é preciso gente preocupada com a cultura, mas o constante atirar à cara de "Não leu isto's" e "Não leu aquilo's", não tem cabimento quando não se sabe calcular uma probabilidade simples nem se tem qualquer cultura científica. É que ciência também pode ser cultura!
E não, não vou votar Cavaco, mas que precisamos de quem olhe para os números, ai isso precisamos.
Antunes apresenta-se como um tipo porreiro. Para mais informações visitar a sua humilde casa.
ResponderEliminarBoas.
ResponderEliminarÉ uma estupidez quem assume essa dicotomia (os Letras saõ todos marados, fumam ganzas, fazem sexo com animais e votam Bloco; os Ciências são uns betos, cx de óculos, frustados sexuais, votam à Direita, etc). Basta pensar que o maior poeta, Fernando Pessoa, era um homem de contas. Isso não o impediu de ser genial na poesia, como bom escriturário comercial.
Além disso, cada vez mais a ciência tende a admitir que é não exacta, é subjectiva, portanto. Por outro lado, a Literatura está passar por uma fase de limpeza do excesso, para tornar linear e «exacta» a narrativa (vejam, por exemplo, Gonçalo M. Tavares). A autora tem razão quando afirma que a ciência também pode ser cultura. Peca apenas em utilizar utilizar o verbo Poder, em vez do verbo
Ser: A ciência tb é cultura) Sim, o contrário tb é verdade. A cultura tb é ciência. Se não o fosse, as áreas de arquitectura, design, música, etc., tinham que ser colocadas noutro «departamento». Perguntem a um bom músico profissional, quantas escalas matemáticas ele teve que aprender...
Um beijo
Carlos Malmoro
Carlos Malmoro