1 de março de 2006

Assim meio em jeito de resposta

Tantas vezes tem vindo à baila o tema que corro o risco de me tornar cansativa. Mas arrisco-me, como sempre, impulsionada por este post do Geração Rasca e os comentários subsequentes. Mas aborrece-me a discussão, a controvérsia, e por isso aqui vai.
Existe uma escrita no feminino? Penso não haver espaço para dúvidas: é claro que sim! E por admiti-lo ninguém pretende desvalorizar a escrita praticada por mulheres nem nada que se pareça, mas placidamente aceitar que existem diferenças além das igualdades e pontos de vista femininos e masculinos. E só o feminismo fundamentalista não dá espaço a essa diferença e à aceitação da mesma com orgulho, em vez de encará-la como uma forma de diminuição condescendente criada pelo sexo dominante.
Peguemos nalguns exemplos bem ilustrativos, como as fantásticas Vieira, Rititi ou as meninas da Sociedade Anónima. Poderiam ser os seus blogues escritos por homens? Nem pensar! Não são assumidamente mulheres nos seus escritos? Sem dúvida. E no género oposto, não são o Espumadamente ou Estado Civil blogues incontestavelmente masculinos? Também assim me parece.
Porque nos blogues de cunho marcadamente pessoal, em que quem o escreve conta essencialmente a sua visão pessoal do mundo e a forma como com ele interage, o sexo conta, muito, e está sempre presente. Porque quer queiramos ou não, ao nascermos mulheres ou homens, é assim que enfrentamos a vida, a sociedade; é assim que nos relacionamos com os outros e mais, correndo o risco de parecer uma redundância, a forma como os outros se relacionam connosco, o que é ainda mais importante. Porque o nosso sexo é determinante nas atitudes dos outros para connosco, na forma como nos vêem; como nos tratam; como nos julgam; no modo como somos acolhidos pelo mundo e no lugar que ocupamos nele; e, consequentemente, na forma como vemos o ambiente que nos rodeia.
O que traz à baila uma segunda pergunta, não menos pertinente: poderão as mulheres escrever sem ser no feminino? Mais uma vez, não tenho dúvida alguma: podem com toda a certeza! Quando pretendem manifestar as suas opiniões ou observações num âmbito meramente intelectual, onde se pede uma visão objectiva, racional e impessoal, quando não está em causa a sua vivência concreta mas a global, quando se põe de parte o senso comum e o conhecimento empírico da experiência para expôr um pensamento lógico, uma reflexão, uma análise elaborada sobre um qualquer tema que peça imparcialidade.
Pessoalmente, a criação de um blogue pessoal, onde o meu sexo deixa pouco espaço a dúvidas, foi um desafio. Habituada a monografias, relatórios, teses, onde a escrita se pede estritamente impessoal, sendo o ideal que nem se perceba que foi escrito por uma pessoa - quem sabe daqui a uns anos se insiram apenas os dados científicos ou resultados experimentais e um compilador electrónico trate do resto - a escrita feminina tornou-se um escape. O espaço da gaja histérica que há em mim e que não existe, nem pode existir, no meu meio profissional.
Poderia aqui postar dezenas de páginas escritas por mim onde garanto não haver o mínimo indício do meu sexo, personalidade, gostos, idade ou inclinação sexual. Claro que esses textos são, no geral, uma grande seca!
O que nos leva ao foco de toda a questão: se assim quiserem, as mulheres poderão escrever no feminino. Ou então não. É, no fundo, apenas uma questão de escolha.

11 comentários:

  1. Pela largueza do texto e laconismo da conclusão devemos concluir que essas "monografias, relatórios, teses," ás vezes também levam muita "palha"?

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  2. És um génio, como acertaste? É que é mesmo assim, tudo palha, que a única coisa que não interessa em artigos científicos são os resultados...

    Quanto ao laconismo da conclusão, apesar da sua simplicidade, quis ilustrar os argumentos que me levaram a ela. Mas lá está, se calhar bastava escrever as últimas 3 linhas para pessoas sobredotadas entenderem perfeitamente o meu ponto de vista sem se torturarem a ler tanta palha.
    Quem sabe possas dizê-lo melhor?

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  3. Concordo plenamente: gaja que é gaja escreve como gaja e todo o seu texto tresanda a gaja. O mesmo acontece com o gajo, cheira-se a kilómetros. Agora, gaja que escreve como gajo, ou gajo que escreve como gaja... bem, isso já há aí muita mistura, muito transvestimento, muita coisa estranha, muito recalcamento... mas creio que se conseguirá qualquer coisita!

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  4. Olá Luna!
    Concordo inteiramente contigo. Recordo-me com alguma saudade dos tempos de Faculdade, em que nos exames as meninas escreviam resmas de papel enquanto que os rapazes faziam telegramas.
    Boa noite!

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  5. E as gajas escreviam sempre os testes com aquela letra certinha e arrumada, enquanto os meus iam todos riscados e com letras engalfinhadas umas nas outras.

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  6. Devias concerteza fazer bem melhor... só que aí deixava de ser a MINHA opinião no MEU blogue para ser a TUA, e o que é um blogue senão um espaço onde podemos manifestar a NOSSA opinião?
    Não tens um? Usa-o.
    Talvez depois escrevas um testamento para no fim concluir apenas que um bom texto tem apenas 3 linhas e é escrito em 3 segundos. Ahh, é verdade, só fazes isso sobre o café.

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  7. Cara Luna, porque é que insistes nesse mau feitio? Só leste o "post" do café? E só leste o meu comentário mais acintoso? Tenho mais "posts" e mais comentários por aqui. Estou certo que debaixo dessa pátina de indiferença e fúria sufragista está um ser sensível, como eu, que se comove com a leitura do Príncipe Feliz do Oscar Wilde.
    Tréguas? És sempre bem vinda no meu blog e continuarei a visitar o teu. Se não gostasse de te ler não viria cá. Não sou masoquista. Estou certo de que não lês os meus posts pela mesma razão ;-) Ou não?

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  8. Hárpia: Obrigada pela correcção, na verdade reparei no erro mas tava com demasiada pressa e por isso não voltei atrás para o corrigir, logo eu que costumo ser uma picuinha nessas coisas. Mas estava mesmo atrasada e ficou assim mesmo!

    Johnny: Nunca li o Príncipe Feliz, mas li o Dorian Gray que já deve servir. Quanto ao mau feitio, foi mais uma forma de ilustrar o facto de ser inconfundivelmente gaja e escrever como tal.
    O que me irritou nem foi a crítica ao que aqui escrevi, uma vez que o blog é uma forma de distracção e não uma obrigação, mas teres posto em causa o meu trabalho e consequentemente aquilo que eu levo mesmo a sério.
    Tréguas ;)

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  9. Como ainda vagueio meia perdida pelos blogs, e muitos deles são anónimos, um bom truque para ver se são de "gajos" ou "gajas" é apurar a existência de posts sobre as bilhas de gás... Parece que podem ser políticos, cientistas, jornalistas, médicos, advogados - perdoem o exagero - que não resistem! Mas claro que ler meia dúzia de posts é suficiente para se apurar o sexo...

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  10. Luna ser mulher não é ser inferior se alguem o quer fazer parecer coitados e tens razao blogs sao pessoais nossos e escreve-mos o que nós der na bolha...
    E depois ser gaja é muito muito bom coitados como ainda sonham que são eles que movem e mandam no mundo..
    Otários são sempre eles que pagam os casacos de peles... mas não eles estão a papar...
    beijo
    NINA

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