Morreu o Dino dos Morangos com Açúcar e instalou-se o drama nacional. Esquecem-se que o drama não é ter morrido o Dino, a quem me dava vontade de dar estalos a cada vez que aparecia no ecrã, mas ter perdido a vida um puto de 22 anos, chamado Francisco, filho de alguém, neto de alguém, amigo de alguém. Uma vida interrompida cedo demais, pela morte mais estúpida que pode existir: acidente de viação. Uma das maiores causas de morte em Portugal.
Quase todos temos um Dino na nossa vida. O meu chama-se Rita. A Rita cheia de garra e ânsia de viver que morreu estupidamente num violento acidente, entupida em álcool e cocaína, tal como o condutor do carro que escapou ileso. A Rita que tinha tudo para uma vida cheia de sucessos menos o desespero de querer tudo de uma vez. A Rita que queria viver depressa demais e acabou por se espetar numa curva por excesso de velocidade.
Recebi a notícia da sua morte via SMS quando estava em Sorrento, esperando calmamente o barco que me levaria a Capri, rodeada de um cenário idílico e um sol acolhedor, tão pouco apropriados para notícia tão triste. Lembro-me do choque e da sensação de irrealidade: não pode ser, a Rita não pode ter morrido! Ainda hoje me custa a crer e me lembro dela com o seu gin tónico na mão rodeada de amigos e conversando alegremente.
Penso sempre nela a cada notícia de uma morte estúpida. Como nos muitos que todos os dias perdem a vida ou pior, ficam estropiados, tetraplégicos, condenados a uma cama até ao fim dos seus dias por um minuto de inconsciência, de excitação, de adrenalina. Há que ganhar consciência da má condução que se pratica neste país, da taxa de mortalidade nas estradas, da pressa desenfreada, da competição nas estradas em que ser ultrapassado é uma afronta e esperar 5 segundos por boa visibilidade é perda de tempo. Há que ganhar consciência de que conduzir em excesso de velocidade não é bom e muito menos é motivo de orgulho declarar solemenente e de peito inchado que se fez "Lisboa-Algarve em menos 2 horas e foi sempre prego a fundo acima de 200". Há que condenar moralmente, há que ter vergonha da inconsciência, e não gabar-se dela como sempre oiço fazer.
Porque enquanto não nos convencermos que não somos os melhores condutores do mundo nem totós se respeitarmos os limites, muitos mais Dinos continuarão morrer, apenas sem a TVI para chamar a atenção.
Sensacionalismo ridículo que ultrapassa o cerne da questão: a TVI gosta de fazer sofrer, mas de educar, está de chuva. Lamento a morte do Francisco, que só conheci no Sábado; lamento as estradas portuguesas continuarem a ser um cemitério; lamento sermos burros e irreponsáveis e pensarmos que a sorte está sempre do nosso lado.
ResponderEliminarE só para mais uma acha na fogueira, num comentário "à la Luna":
ResponderEliminar1- menos mal que não "levou" mais ninguém com ele nem colheu nenhum automobilista em sentido contrário.
2- Não entendo tantas "homenagens" na blogosfera. Só falta reclamar o Panteão Nacional ao lado da D. Amália...
3- Lamento informar que nem sabia quem ele era. Pode ser que no próximo 10 de Junho lhe dêem uma medalha póstuma e então seja esclarecido.
Condenar moralmente: disseste tudo. Enquanto não houver essa consciência neste país, vai continuar a repetir-se o cenário.
ResponderEliminarÓ Odiador: mas tu ainda existes?
ResponderEliminarSabes que isto sem nos conhecermos não dá, tu podes ser um grande camafeu e eu é só gajos giros. ;)
Mas eu acredito que se morresse num rush de adrenalina ia ser o melhor momento da minha vida... humm... ou então não; também podia ser o melhor momento da minha morte. Não importa.
ResponderEliminarQuanto ao "Dino": estou a trabalhar com antigos colegas e amigos dele, e senti a morte dele não pelo mediatismo mas pelo o outro lado, e acho que algo foi omitido... para não parecer mal.
ResponderEliminarQuanto aos apressados na estrada: confesso que tb eu já fui uma acelera, mas hoje em dia acho que conduzo mais devagar e com mais atenção, e irrita-me a falta de jeito para conduzir que muitos portugueses têm (em lisboa e sintra particularmente).
Quanto à Rita: Estive na sua despedida, e lembrei-me de ti...
Não tinha uma amizade com ela, mas às vezes lembro-me daquela energia, sempre tão intensa!
Brindemos um dia destes com um gin tónico à sua memória.