6 de setembro de 2006

Sem parar

Podia chegar aqui e escrever sem parar, sem parar digo eu, sobre todas as merdas que me ocupam o espírito enquanto volto para casa no trânsito caótico da IC19, em que mais nada tenho que pensar a não ser no que poderia escrever aqui e não escrevo. Não escrevo porque me aborrece sentar nesta cadeira sem mais destino que pespegar palavras soltas fingindo sentido para manter a ilusão de vida própria e ideias originais que alimentam o ego.
Mas não o faço, retomo a vida rotineira, banho e jantar, cozinha e sofá, que me chamam invariavelmente e ocupam o espaço que seria preenchido pelas palavras que não escrevo aqui.
Podia escrever sobre a noite passada, abrasadora de insónia, em que pela primeira vez me sentei no parapeito da minha janela a fumar um cigarro observando a noite, sentindo o vento quente da serra desbravando a minha pele, em que as luzes ao longe pareciam perto e desfocadas, trazidas até mim como um espetáculo de fogo de artifício em que era a única espectadora acordada. Vinte seis anos e nunca me tinha sentado no parapeito da janela a fumar enquanto admirava a noite. Curioso como coisas banais assim nos apanham desprevenidos e nos põe a pensar no que jamais fizemos e está ali mesmo ao nosso alcance, como um simples abrir de portadas. Dava um belo post, se quisesse.
Mas não quero. Não agora.
Esta cadeira é demasiado pequena para mim no momento. A vida espera-me lá fora. Até já.

6 comentários:

  1. A vida é assim... De um momento para o outro damos conta que há coisas alí mesmo que não tinhamos ainda percepcionado!!

    Um Até já..... voltando com noticias!!

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  2. "Não escrevo porque me aborrece sentar nesta cadeira...
    Mas não o faço, retomo a vida rotineira, banho e jantar, cozinha e sofá, que me chamam invariavelmente e ocupam o espaço que seria preenchido pelas palavras que não escrevo aqui."


    E então? As coisas não deixam de existir por não estarem escritas.

    "...pela primeira vez me sentei no parapeito da minha janela a fumar um cigarro observando a noite..."

    É óptimo, não é? :-) Funciona com cigarros, charros e chá; pelo menos.

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  3. Nada como um bom momento de nostálgica introspecção para recuperar a "joie de vivre"!!!
    Só me preocupa essa sombra da "cadeira demasiado pequena"...;)))
    Aproveita o momento e manda lixar o blog!

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  4. E não te apeteceu escrever... Até já!

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  5. Compra um gravador, daqueles portáteis, de jornalista, e começa a disparatar quando estiveres encalacrada no trânsito da IC 19. Depois transcreve para o PC quando chegares a casa, ou melhor ainda, arranja um programa de reconhecimento de voz, e poupas nos dígitos.

    Vais admirar-te com essa nova faceta da escrita, a espontaneidade feita de frases curtas e concisas que normalmente caracterizam o discurso directo marcado pelo desconforto de estar a murmurar para uma máquina.

    Até lhes podias chamar algo tipo "Posts vocais" (vocalizados era mais preciso, mas também menos lírico), e inaugurar uma ideia verdadeiramente original na blogosfera.

    :/ :)

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