Comovo-me facilmente com a miséria, e a consciência de pertencer a uma classe média privilegiada com origens na alta burguesia transmontana, aliada a uma educação embebida nos ideais de esquerda da revolução francesa, com especial atenção à igualdade, sempre me fez sentir um pouco culpada por nunca ter passado necessidades, por contribuir tão pouco para o bem estar de quem precisa e, puxando ao meu pai e usando palavras de minha mãe, constantemente envergonhada por ter dinheiro - ainda que não muito.
E talvez seja por isso que fico com um aperto no peito cada vez que recuso uma esmola, e me sinto uma verdadeira cabra capitalista quando digo que não tenho os trocos que cinco minutos à frente irei enfiar numa qualquer máquina de tabaco.
Felizmente problema tem vindo a melhorar - pudera, desde 1998 a ir todos os dias para Lisboa de transportes públicos! - e lá fui ganhando uma certa imunidade e a capacidade de olhar para o lado, desde que não me peçam directamente. E aí cai tudo por terra, pedem-me directamente olhando nos olhos e eu sei que o preço do não será uma consciência pesada por não sei quanto tempo que não se aligeira por mais argumentos de que vai tudo para a droga.
Ora isto tudo para dizer que há uns tempos, estava eu em casa, na vivenda pequeno-burguesa de arredores onde habito desde que me lembro, quando me bate à porta um pobrezinho. À falta de liquidez de soldo e de víveres que lhe pudesse dispensar, o pobrezinho lá me disse que tinha uma "miúda" assim mais ou menos do meu tamanho e eu - monga! monga! monga! - lá fui arranjar um saco com umas roupas em bom estado que já não vestia para dar ao homem.
Ainda fiquei uns dias a pensar se não lhe podia ter dado mais, quando hoje, à entrada do meu portão, vejo um volume amarrotado, ensopado e estraçalhado no meio da estrada, algum cão que o terá arrancado do lixo, para reparar depois ser uma das minhas camisolas, que num momento de generosidade fraternal ofereci.
E senti-me ultrajada, gozada e especialmente, muito, mas mesmo mesmo muito estúpida.
Ok, tens razão, mas vale a pena ajudar, esse não precisa, mas ha mts outros que precisam, não te deixes afectar, quando te pedem olha bem nos olhos das pessoas, vê-se tão bem quando realmente precisam, eu faço isso, já fui enganado, mas ñ desisto, ás x falhamos mas tb já ajudei pessoas, e ñ hà sentimento igual á compaixão.
ResponderEliminarEntendo-te perfeitamente... já passei mais ou menos pelo mesmo algumas vezes, mas tu fizste a tua parte! Pena é que depois de situações como esta paguem os justos pelos pagadores...
ResponderEliminarNão, tu não foste estúpida. o estúpido foi ele!
ResponderEliminarWho's to judge anything or anyone, when we all are being judged all the time?
ResponderEliminarO gajo pensou: "olha pelos olhos, esta dá pra enganar"; "hoje umas camisolinhas, amanhã quiça 20 euritos"
(Antes de mais, obrigado. ;-) )
ResponderEliminarPena? Compaixão? Ou seja: "não vou fazer nada por aquele tipo mas vou ter pena dele; assim sinto-me melhor e parece que fiz alguma coisa"?
Penas têm as galinhas. Por muito cruel que seja, cada um tem o que merece. E se cada um acreditasse que tinha o que merecia e que toos os outros tinham o que mereciam, quem distinguia um pobre (em dinheiro), rico (em tempo) de um rico (em dinheiro), pobre (em tempo)?...
Ninguém. E porquê? Porque ninguém se preocuparia com os outros.
Ideais de esquerda não vão bem com a culpa católica. É como beber água com pêssegos. :-)
Deixa lá as esmolas e compra um brinco (um só!).
Não pode é pagar o justo pelo pecador... Eu cá ajudo quem considero que merece ser ajudado e, olha, que a minha formaão académica apesar de me dar um certo faro para distinguir os "pobrezinhos", não me lvra, também, de algumas frades... Agora, só leva mesmo aquela velhinha que está todos os dias à saída do Cais Sodré...
ResponderEliminarE se quiseres ajudar com qualidade, voluntaria-te numa associação com uma causa com a qual te identifiques. Eu fi-lo e agora é bem mais fácil ajudar...
Porque o homem tem direito a não gosta do que tu lhe deste, bem fazia ele em ter-te dito: "Não quero". Mesmo pedinte, também tem opiniões.
ResponderEliminarSou como tu e já apanhei os meus dissabores, mas penso que não lhes podemos dar importância sob pena de sermos injustos com quem realmente precisa.
ResponderEliminarPara mim o final da história coincide com o momento em que dou. Não dou para a pessoa, dou por motivos egoístas, para aplacar a consciência e por ter sido ensinado a compartilhar. A partir daí, não tenho interesse nenhum no que o pedinte faça com o que lhe dei. É problema dele e da sua consciência.
Gostei do blog.
Deixa lá Luna, isso acontece a todos. Por isso eu estou como a música do Chico: "Hoje eu só tenho uma pedra no meu peito. Exijo respeito não sou mais um sonhador. Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor, e dou risada de um grande amor....Mentira!"
ResponderEliminarEu sempre disse que debaixo desse mau génio há uma alma atormentada e sensível. O importante é que sejas fiel a ti mesma e ás tuas convicções (e isso és!) por isso...
P.S.- Muito me honra a distinção de figurar na lista ali à esquerda. Já começava a desesperar...;))) Subi um posto na tua consideração????
A mcm tem toda a razão: o estúpido foi ele...Quanto mais não seja porque um dia pode precisar...
ResponderEliminarMeus queridos:
ResponderEliminarrealmente o que mais me chateia foi ter dado um saco de roupa cheia a quem o meteu no lixo, já que todos os anos tenho o cuidado de separar o que já não visto e continua em bom estado, e encaminho para instituições que a distribuem. Sou incapaz de deitar fora algo que possa servir a alguém.
Se o homem cá voltar a aparecer - o que duvido - leva uma corrida em osso que nem sabe de que terra é! ;)
Johnny: a lista de links vai sendo actualizada, mas não regularmente. Na verdade morro de preguiça de mexer nos links, fazer copy-paste de html, dá um trabalhão, pelo que muitas vezes sou negligente quanto à adição de novos blogs, não que seja algo pessoal. Mas tu já lá figuras há uns tempinhos.
Na volta, a côr não o favorecia, olha que esta... Já vi gente a trocar roupa na Zara por menos.
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