3 de janeiro de 2007

Ditongos

Não tem. Lamento. A mais pálida e remota hipótese. Aquela hipótese hipotética, a hipotesinha pequenininha minúscula, a hipotética hipótese que hipoteticamente se pode ter considerando a hipótese hipotética de ganhar o totoloto: não tem.
É que apesar de não sermos capazes de qualquer associação de ideias, aprendemos com os séculos a papaguear o que vos ouvimos dizer de cor. A velha questão do não és tu, sou eu e do não te mereço a que nos habituaram. E o respeito, ah! o respeito... Só as mulheres respeitam o respeito como prémio de consolação, iludindo-se com a ideia de não serem consideradas umas quaisquer. Respeito na rejeição é pena. Pena mascarada de sentimentos nobres para disfarçar o facto de não vos querermos na nossa cama. Golpes de misericórdia cobardes de quem não tem coragem de trespassar o coração e aponta ao ombro. Não mata, magoa só um bocadinho: não o suficiente para apagar o fogo, deixa-se uma chama acesa, just in case. Há que salvaguardar o futuro. Pois ainda que não saibamos conjugar conceitos, o desejo de sermos objecto de devoção e o medo de se nos esgotarem os recursos está-nos no sangue. E para isso nem precisamos de saber ler e escrever.
Ao Tiago, com carinho
*Antes que se comece a imaginar seja lá o que for, devo informar que se trata apenas da resposta abusiva a uma pergunta retórica.

2 comentários:

  1. não consigo deixar de ver que dói... bem lá no fundo, que transborda à superfície
    adorei, achei marcante
    feliz 2007
    voltarei

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  2. .....

    E se estamos conscientes de tudo isto.... porque fazemos sempre os mesmos erros? E somo levados??? Esta essêcia humana às vezes mais valia ir pó raio que a partisse!

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