16 de janeiro de 2007

Se eu fosse do não

Eu gostava de ser a favor do não, a sério, era muito mais fácil. Toda a conjuntura do não é tão mais bonita, com os seus passarinhos e borboletas e cores pastel e criancinhas loiras com lacinhos cor-de-rosa nos caracóis dourados e suas mãezinhas de 12 anos também com lacinhos cor-de-rosa e ar de felicidade enquanto confessam enlevadas que têm saudades de ir brincar com os amigos como dantes, e frases de defesa da vida e do milagre que ela é, e vamos fazer amigos entre os animais - desculpem, entusiasmei-me - e arco-íris, e fotos das mamas da monica bellucci a amamentar - again, sorry - e representações da virgem com o menino e mais as lágrimas pelos não gemidos e rituais de sagração da maternidade, que lindo. É uma posição muito mais confortável. Até porque os defensores do não são, no máximo, chamados de hipócritas - pronto, e atrasados mentais também - mas de qualquer forma é bem menos desagradável que ser constantemente apelidado de assassino de criancinhas.
E haviam de me ver, se eu fosse do não. Papava-os todos com uma argumentação tão pró-vida que até os do movimento me acusariam de fundamentalista. Começava logo por declarar o direito inviolável à vida desde o momento da fecundação, direito esse de tal forma sagrado que nem em casos de violação de miúdas de 10 anos se poderia discutir. Deficientes: tanto direito como os restantes, ou andamos aí a matar deficientes na rua? Não, pois não? Então, nem que tivesse apenas 3 células: é uma pessoa, tem que nascer. E as mulheres infanticidas: cadeia com elas! Acho que até sugeriria a restauração da pena de morte só para condenar as tipas, se bem que isto soaria um pouco contraditório no meio das borboletinhas e mensagens pró-vida, mas há países onde esta é a pena para os assassinos, não é? Pena de morte. Trau. Forca com elas! O que eu me divertiria a defender o não... Acho que ainda mais que a Mafalda!
É mesmo uma pena eu preocupar-me a sério com a vida real das nossas mulheres, era muito mais giro da outra forma.

6 comentários:

  1. Tenho vindo ultimamente por cá só para ler os teus artigos do SIM, gosto da frontalidade e clareza das ideias.
    Infelizmente tem havido cada vez mais hiprocisia com os movimentos do não, parece que até já não posso fazer um coito interruptus, pois já é considerado um aborto em massa...

    Boa continuação

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  2. Já não há pachorra... É com cada argumento que já tive quase a distribuir uns estalos! Sim porque perguntaram-me qual era o meu sentido de voto e quando eu disse que ia votar sim, grita uma madame histérica: 'Faz muito mal!!!' Tanta hipocrisia e tanta moralidade e só tenho visto mesquinhez e idiotice da parte dos defensores do não. Irrita-me, irrita-me, irrita-me, irrita-me!!!!

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  3. Gostei especialmente deste seu post!

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  4. Desculpe. Defende o "Sim" a quê?

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  5. Anónimo: de canas a concelho. É disto que se tem estado a falar não é?

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  6. Gostei bastante aqui do estaminé. Dos posts por que passei os olhos na diagonal acabei por ler este com mais atenção. No âmbito da tua argumentação, acho que devo acrescentar o seguinte a favor do NÃO:

    Então e os espermatozoidezinhos, hã? Também são seres vivos! Ou seres unicelulares não contam? Os unicelulares também têm direito à vida! Mais do que votar NÃO vamos incluir o acto de masturbação masculina no foro criminal! Próximo passo: fazer um site para impressionar a populaça com milhares de cartinhas imaginárias escritas pelos espermatozóides: "Pai, estava eu refastelado no quentinho dos interior dos teus tomates quando senti algo. Algo estranho. De repente vi-me impelido para a frente e eis senão quando mando uma violenta cabeçada num bidé. Pai, eu que queria tanto ter sido técnico de contas...".

    Enfim...

    Parabéns pelo blogue! Já está nos favoritos.

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