A pergunta era inevitável, e por mais que tenha fugido a reuniões não colectivas acabaria por chegar a hora de a ouvir, e mais, ter de fingir que a quero responder. Começo a rir, como sempre que estou nervosa, sinto-me a corar e olho para os pés enquanto entrelaço madeixas com os dedos: Não sei. Sorrisinho amarelo. Ele sabe perfeitamente que eu não sei e acho que a própria pergunta é só uma forma de me pressionar a tomar uma decisão. Trata-me como se eu fosse uma miúda. Uma miúda quase com trinta anos - odeio dizer isto -, mas uma miúda. Com ar de miúda ainda por cima, que isto de não ter crescido tira-nos sempre autoridade - hei de ter quarenta anos e o odioso companheiro da minha madrinha continuará a chamar-me la petite com o seu ar de babão enquanto eu finjo não perceber uma única palavra de francês -. Por si não acabava o mestrado nem daqui a 50 anos, Pois, eu sei... , só que não sei o quero fazer, ou melhor, tenho algumas ideias, não tenho é a certeza de como realizá-las ou mesmo se tenho tomates para isso. Mas já decidiu se quer fazer doutoramento?, sei lá, mas tenho mesmo de responder a isso agora?, Se calhar é melhor começar a pensar nisso, eu sei, tem razão, e quero sim, só não sei se quero já ou se prefiro arrumar ideias e ganhar certezas relativamente a onde e em quê, Com que média é que acabou mesmo?, foda-se, estúpida, estúpida, estúpida, monga, idiota, mas porque é que te baldaste tanto às aulas, tu nem eras burrinha de todo, mas o medo de não viver o suficiente, ai esse medo, Com catorze, sorrisinho ainda mais amarelo, custava muito, estúpida, custava, teres ido mais vezes às aulinhas? Pois, com o mestrado fica com 15 e se publicar talvez tenha hipótese, só pode estar a brincar, alguma vez na vida eu ia publicar esta merda?, posso ser a criatura mais preguiçosa do mundo, mas não sou desonesta, Bem, vá pensando nisso e veja lá se consegue acabar até ao fim de Fevereiro. Sim chefe, sim.
Ponto nº 1: Dar um prazo de 3 semanas é tempo a mais. Trabalhamos melhor com o pânico de última hora e as duas primeiras semanas são para engonhar.
ResponderEliminarPonto nº 2: Tudo é publicável, mesmo tudo. Arranjo-te provas se necessário. É cá com cada atentado à ciência que se vê por aí...
Ponto nº 3: Se estás virada para doutoramento, óptimo. Se não é isso que queres, fazer um é a morte do artista (principalmente numa área que não se gosta).
Ponto nº 4: Já experimentaste a indústria? Uma vez lá, dificilmente se volta a pensar na universidade e em altos estudos. Aconselho pelo menos uma tentativa.
Ponto nº 5: O café provoca tremedeira (isto não tem nada a ver com o post).
Qual indústria? Deves pensar que eu tirei engenharia química. ;)
ResponderEliminarEles andam aí... São poucos, mas eles andam aí ;)
ResponderEliminar(P.S.- Devo ser das poucas pessoas que hoje em dia não escreve "andem")
São estes (teus) momentos de inspiração que me apaixonam.
ResponderEliminarComo não frequento os teus escritos diariamente e como não faço a minima ideia de quando publicaste esta transcrição, não posso dizer-te em que dia te deveria ter dado os parabéns por uma coisa tão bem escrita.
ResponderEliminarNão fosses tu da minha terra.