A Bela e o Mestre

E quando pensava que já nada me poderia surpreender, eis que a TVI, essa cadeia que tanto nos tem habituado a programas de especial qualidade, nos brinda com A Bela e o Mestre, um reality show que promete ser uma coisa muito bonita.

E em que consiste, perguntam vocês? Não sei muito bem, mas entre duas trincas na tosta que preparei para o almoço, enquanto assistia extasiada a uma repetição do programa, percebi consistir numa espécie de pigmalião intelectual, onde rapazitos inteligentes tentarão fazer milagres nas belas cabecinhas ocas das suas companheiras de programa. Tudo bem recheadinho de clichés, está claro. Elas todas boazudas e burras que nem um soco, rindo-se sempre muito mesmo ao não conseguir reconhecer Woodie Allen, Agustina Bessa-Luís, Catherine Deneuve ou Vladimir Putin, olha que engraçada que eu sou, sentadinhas sobre a mesa com as suas micro-saias. Até nisso a TVI conseguiu ter mau gosto, ao sentar as meninas em cima da mesa. Já agora, porque não vesti-las de colegiais, meias pelo joelho, totós e saias de pregas, e dar-lhes uns açoites no rabo a cada erro? Em termos de humilhação não acrescentaria grande coisa e deliciaria os espectadores, garanto.
Os tipos, por seu lado, foram retratados como os verdadeiros cromos, uns grandes totós, está bem de ver, como se todos saídos da torre de electrotécnica do técnico, onde qualquer mulher que entrava se sentia a miss portugal, embora o meu olhinho de lince tenha vislumbrado um ou outro mais engraçado. Ainda estou para perceber como é que tipos supostamente inteligentes se metem nisso e se deixam ser gozados por um gajo que faz anúncios montado num burro e os trata como taradinhos sexuais.
Enfim, acabei de comer e desliguei, mas acho que o que vi chegou para fazer um retrato mais ou menos fiel daquela merda. Não há dúvida de que a TVI insiste em chamar-nos estúpidos a toda a hora. Só me espanta é que ainda haja quem ache muita graça a isso.