Após um desgosto amoroso em que fomos particularmente mal tratados, desprezados e humilhados, em que nos sentimos o pano de chão de quem tão miseravelmente nos deixou, pouco nos dá tanto alento como a secreta esperança de nos podermos vingar um dia. Acalentamos essa esperança enganando-nos a nós próprios, convencendo-nos que o desejo de vingança supera a vontade de voltar a ter o traidor nos braços. Hás de cá vir, repetimo-nos mil vezes, hás de cá vir, ensaiando uma atitude implacável e gélida altivez. Pobres de nós, iludidos com a ideia de vingança pelo que nos fizeram passar, sem perceber que enquanto a desejamos nunca a conseguiremos cumprir porque ainda amamos. Queremos fazê-los sofrer, sim, regozijar-nos com o seu sofrimento, mas só um bocadinho, para depois abraçá-los e consolá-os e viver felizes para sempre.
Mas os dias vão passando, os meses, os anos, e aqueles a quem jurámos virem comer na nossa mão não vieram, a promessa vai caindo no esquecimento e a nossa vida vai lentamente retomando os eixos. Novas vivências, novas paixões, novas aventuras, novos amores. E quando nada o faria prever aquele a quem já esquecemos volta mesmo, de rabinho entre as pernas, a querer festas. E não foi nada disto que tínhamos planeado, já não nos interessa, já não queremos saber, já não sentimos nada e só queremos que nos deixe em paz. E voltamos costas com indiferença. Não por vingança, mas por já não fazer qualquer sentido. E se por um lado essa frieza serve a vingança como ninguém, por outro já não nos dá prazer algum, como um prato preferido requentado mil vezes e finalmente frio esquecido sobre a mesa.
Mas os dias vão passando, os meses, os anos, e aqueles a quem jurámos virem comer na nossa mão não vieram, a promessa vai caindo no esquecimento e a nossa vida vai lentamente retomando os eixos. Novas vivências, novas paixões, novas aventuras, novos amores. E quando nada o faria prever aquele a quem já esquecemos volta mesmo, de rabinho entre as pernas, a querer festas. E não foi nada disto que tínhamos planeado, já não nos interessa, já não queremos saber, já não sentimos nada e só queremos que nos deixe em paz. E voltamos costas com indiferença. Não por vingança, mas por já não fazer qualquer sentido. E se por um lado essa frieza serve a vingança como ninguém, por outro já não nos dá prazer algum, como um prato preferido requentado mil vezes e finalmente frio esquecido sobre a mesa.
Nem mais.
ResponderEliminarboa descrição.
ResponderEliminarLindo texto! Sobretudo depois de ontem ter estado a pensar nos diálogos imaginários que uma pessoa cria na sua cabecinha para uma situação que, muito possivelmente, nunca acontecerá. Dou por mim a imaginar tiradas dramáticas, a pensar no que os outros argumentarão e no que eu responderei a isso! É lindo!! Lolol!
ResponderEliminarMuito bem escrito, e ainda melhor descrito!
ResponderEliminarSó se odeia quem se ama. E nessa perspectiva a ideia de vingança serve que nem uma luva.
ResponderEliminarAlimenta-se o ódio com essa ideia até se descobrir que afinal ainda se ama. Que se não se amasse não se odiava. O processo de reabilitação é lento.. moroso.. o tempo passa... até não restar nada.
A vingança perde o sentido quando a pessoa já não nos diz nada.
O conteúdo é quase lugar comum, já por lá passaram tantos de nós - se não por todas as fases, por algumas certamente.
ResponderEliminarMas a forma é absolutamente brilhante. Tal como a capacidade de observação: o que está à vista de todos só alguns iluminados vêem.
Mais uma merecida vénia.
De saloio para saloia.
Muito bom! Concordo com a Pipoca, é com cada narrativa mental... Que bom que era não poder aplicar a vingança já.
ResponderEliminarO problema é quando depois de anos de narrativas mentais a única coisa que faz sentido é um "toma juízo, já passou tanto tempo". É fodido...
ResponderEliminarNaaaa! Há que manter o rancor vivo. Se for preciso escreve-se a razão da raiva, para nunca nos esquecermos da maldade extremamente grave que nos fizeram.
ResponderEliminarhow i understand you...
ResponderEliminarÉ esse o problema da justiça poética. Quando a poderíamos saborear, cai na indiferença e sabe a um copo de vento. E o mais engraçado é que aposto que é precisamente essa a atitude que castiga mais aquele que já não nos apetece castigar.
ResponderEliminarSubscrevo :)
Belo texto... uma cruel e sempre dolorosa verdade!
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