Não vás por aí

Meu caro, confesso que já esperava contestação desse lado. E numa primeira análise bem humorada diria: como é que adivinhaste? Olha aqui o meu bivô! Numa segunda, no entanto, entristece-me a facilidade com que levaste esta tese para o puritanismo primário e uma certa castidade hipócrita. Até porque não sou apologista dum, nem doutra. Em nada condeno as opções de um ponto de vista moral, longe disso. E aqui para nós, já se faziam minetes antes de se adoptar a moda pueril. O que está em causa, mais do que a opção estética ou funcional, é o que ela implica em termos de insegurança relativamente ao corpo e à sensualidade que dele advém. Juntando a todas as outras preocupações e inseguranças clássicas, que seguramente reconhecerás como entrave ao desfrute pleno do sexo livre de medos e inibições, o receio de não agradar estendeu-se ao pito. O "hoje não", inventando uma desculpa qualquer, por não se o ter impecavelmente depilado. E isso, meu caro, parece-me grave. Qualquer que seja a opção adoptada, quer seja careca, minimalista - termo roubado a um amigo e por mim altamente apreciado -, ou au naturel, dificilmente uma mulher voltará a ter a certeza confortável de corresponder às expectativas do outro. E se mesmo a nível estético admito ter dúvidas - das várias experiências, o estilo minimalista sempre me parece mais equilibrado -, são as implicações psicológicas e o sofrimento auto-imposto - que não por opção pessoal mas como condição que se crê necessária para se sentir desejada - que daí derivam, que verdadeiramente me incomodam.