6 de maio de 2008

Dever cívico?

Hoje, durante as minhas habituais leituras matinais, deparei-me com este texto da Charlotte. Ora, se por um lado, humanamente, me reconheço nas questões levantadas e nas suas preocupações, e não, não é aceitável que um quinto da população portuguesa viva em condições de pobreza, do ponto de vista ideológico ou político não posso estar completamente de acordo. E talvez nisto resida um pouco a razão de eu ser de esquerda. É que nas maravilhas do capitalismo, da oferta e da procura, das leis do mercado e da competitividade, há sempre aqueles pobres coitados que nunca mas nunca serão competitivos, que nunca mas nunca serão os melhores em nada e que perderão sempre em tudo. E o que é que a sociedade faz a essas pessoas? Na natureza a coisa é resolvida facilmente: os mais fracos morrem e pronto. Temos muita pena quando vemos a gazela que corre menos a ser apanhada pelo leão, mas paciência, é a lei da selva. No entanto, aqui no mundo dos humanos, a coisa é um bocadinho mais complicada. O que se faz a esta gente? Dizem-me os amigos de direita: aí é que entra a caridade. Parece-me bem. Só há um problema: e se as pessoas não quiserem ser caridosas? Passeando por downtown e passando pelas centenas de detritos humanos que dormem em caixas de cartão e comem do lixo gerados por esta sociedade, uma das mais ricas do mundo, creio poder dizer que a caridade não é, de todo, suficiente. E aqui entra o conceito de voluntariado como dever cívico. Perecer-me-ia muito bem, se todo o conceito de voluntariado não assentasse exactamente no facto de ser dependente da vontade. E impondo o voluntariado ou a caridade como obrigação, ambos deixariam de ser voluntários. Então e o que se faz se não houver vontade? Criará a sociedade formas de persuasão? E nesse caso, não estará a sociedade/estado a chamar a si a responsabilidade de agir e ajudar os mais desfavorecidos, obrigando cada um a contribuir com um pouco de seu para dar ao outro que tem menos? E não estaremos então numa sociedade em que o todo se responsabiliza pelo indivíduo e em que cada um contribui através dos impostos de forma a assegurar mínimos de subsistência, saúde e educação? Esse conceito já existe e, ou muito me engano, ou parece-me que se encontra numa doutrina chamada socialismo.

3 comentários:

  1. Será que a brasuca também plagia este? A contra argumentação – especialmente se bem feita – talvez seja um exercício demasiado pesado para a laia demonstrada.

    BTW: grande post!

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  2. Enquanto colocavas as questões já eu estava a pensar q isso é socialismo, n "caridadezinha". Penso q a diferença é q o 1º responsabiliza(-se) e tenta corrigir, o 2º mantém a situação, na melhor das hipóteses atenua, mas n põe termo às diferenças.
    Excelente post, como todos os outros ;-)

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  3. e como é que se distingue entre quem n pode mesmo ou quem não se esforça o suficiente?

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