17 de janeiro de 2009

Anger management


Quantos são?

Eu, uma pessoa que consegue manter a calma e sangue frio em quase todas as situações de crise, conseguindo agir racionalmente e sem nunca entrar em histeria, o que, juntamente com a minha contida afectividade me valeu o título carinhoso de "the rock" ou "o rochedo" por parte da minha ex-flatmate do coração, tenho um calcanhar de aquiles, que, a bem dizer, é bem mais que um calcanhar, é um corpo todo, se me é permitida a expressão.
E, se não é assim tão fácil tirar-me do sério, levando-me ao limite da minha paciência - o que eu gostava de usar antes um push me to the limit, que ficava tão melhor -, o que será conseguido através de grande insistência e contestação pelo uso de argumentos absurdos, com que me sinta atacada, qual animal selvagem, o enfado inicial passa a atitude defensiva, a atitude defensiva a irritação, e a irritação a explosão de fúria, dando origem àquilo que eu chamo os momentos em que me transformo em psicopata - bem, psicopata talvez seja demasiado forte, digamos antes gaja completamente descontrolada e fora de si, o que, como muitos saberão, já é mau o suficiente - e liberto o Hulk aprisionado em mim, indo tudo à frente, como se diz na gíria. Para o bem da humanidade em geral, e os meus próximos em particular, acontece poucas vezes, mas o cansaço, a fome, o mau humor matinal, e, porque não, o estado hormonal, potenciam grandemente estes eventos, onde não é bom estar ao pé de mim e muito menos ser o seu causador.
Uma das últimas vezes que aconteceu foi durante a apresentação de um trabalho de grupo, onde me vi obrigada a defender uma ideia com a qual discordei desde início. Estando muito cansada, irritada e descontente em geral, depois de perguntas insistentes e idiotas, a gota fez transbordar o copo quando me perguntaram se a nossa formulação injectável - intramuscular - não podia entrar directamente para a circulação sanguínea e matar o paciente. Sob o olhar atónito e boquiaberto do meu flatmate, que na assistência me olhava com a expressão "está louca", e que creio ter desde então passado a ter um bocado medo de mim, dei por mim agressivamente a responder que "claro que sim, especialmente se injectarmos directamente na jugular", acompanhando com o gesto de espetar algo no pescoço. Valeu-me uma companheira de grupo, que tomou conta da discussão, antes que eu assassinasse o inquiridor. E esta nem foi muito grave, se pensarmos na vez em que explodi em pleno tribunal, onde a advogada de acusação me perguntou umas 400 vezes se eu tinha a certeza e podia garantir que o meu amigo, de quem era testemunha, não tinha feito aquilo de que era acusado e acabei a responder que "também não podia garantir que ele nunca tivesse matado ninguém, porque realmente não estava com ele 24 horas por dia, mas que achava que não". Felizmente, a juíza, pessoa de bom senso, e possivelmente temendo a segurança dos presentes, achou por bem terminar o interrogatório, declarando que "a testemunha já respondeu várias vezes que nunca viu nem nunca ouviu dizer que". Antes disso, tinha-me passado também durante a instrução e acabado a discutir com o juiz, com a advogada de defesa a levar as mãos à cabeça, mas que resultou apenas no maior sermão de sempre, talvez por ser miúda e o juiz até ter achado piada à coisa.
Lembro ainda as vezes em que, esquecendo-me do meu metro e meio, enfrentei pessoas bastante maiores que eu, arriscando-me a ficar sem dentes da frente, como quando puxei a mão atrás e preguei o maior chapadão da minha vida num tipo que estava a bater numa amiga minha, só depois me lembrando que se batia nela não teria grandes pruridos em bater também em mim, e "ai que agora vai ser a minha vez".
Não foi, nunca foi. Talvez por sair de mim e deixar de ter medo, talvez por de repente me sentir invencível, e com mais 2 metros de altura, talvez por isso transparecer e assustar as pessoas normais, não sei. Mas umas aulinhas de yoga, muito inspira e expira e conta até 100 eram capazes de não me fazer mal.

8 comentários:

  1. Heheheheheh.
    Personalidade é ainda qualidade.
    Belo relato!

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  2. Personalidade vincada! E mesmo nos teus ataques de fúria ainda consegues mantêr o sentido de humor, o que acho delicioso. Gostei muito do post
    Pipoca

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  3. Cuidado contigo! És um mau feitio à solta! :))

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  4. Se respondes mal, mas és provocada primeiro não é nada de grave. Seria pior se à minima coisa estalasses e viesse essa parte agressiva de ti, desde logo, à superfície. Ai sim, precisarias de anger management classes.
    Agora o que li, acho normalissimo. Embora, não seja nada que um cursozito de gestão de stress não ajude a acalmar.
    *****

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  5. Querida Luna então e os meus ataques de fúria? São raros, raríssimos, acontecem quase sempre em alturas de TPM, mas saiam da frente que até eu fico com medo de mim mesma. Depois chego a casa e ponho-me a pensar para mim mesma "Mas tu és parva? Nunca mais aprendes.Qualquer dia dás-te mal."

    Mas olha também detesto aquelas pessoas que nunca os têm. Que estão sempre bem. Que não têm opinião formada sobre nada. Que vão sempre pelo que os outros dizem. Antes assim. :-D

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  6. Isso de só ficar irritada depois do uso insistente de argumentos parvos não é a única razão para tu te passares... acho que se repetirem o teu nome insistentemente e recorrendo a um timbre de voz próprio de um boneco da rua sésamo durante uma distância de 3 km no interior de um autocarro também resulta... ou estou enganado?

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  7. Porque é que achas que eu deixei de andar de autocarro?

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