23 de abril de 2009

Partilhar casa

Quando se decide partilhar casa com (quase) desconhecidos, 3 coisas podem acontecer (ou melhor, até pode acontecer uma quarta, mas não é de todo o caso):
  1. Correr muito bem e tornarmo-nos grandes amigos, confidentes e companheiros, acabando a sentirmo-nos quase família. É o ideal e só nos mudamos por motivos de força maior. Aconteceu com a minha ex-flatmate do coração em São Francisco. Miss you every day, snif!
  2. Correr muito mal, e acabarmos a odiar-nos mutuamente, mantendo a convivência nos mínimos e a comunicação no estritamente necessário. Arranjar outra casa rapidamente torna-se uma prioridade. Felizmente, não é o caso.
  3. Correr nem bem nem mal, assim assim. Não nos tornarmos íntimos, mas também não nos detestarmos. A convivência é pacífica e amena, sem conflitos. O único problema: não nos sentirmos à vontade, nem em casa. Sentimo-nos na casa de outrem, com quem é preciso manter alguma formalidade. Todas as desvantagens de se partilhar casa, sem as vantagens do companheirismo e companhia às refeições*. É esse o caso.
Foi quando percebi que não me sentia a viver na minha casa, mas na casa dele, que a decisão que se vinha formando na minha cabeça foi tomada. Seis meses depois e não me sinto à vontade para ir tomar o pequeno almoço em pijama, ou esparramar-me descabelada no sofá em domingos preguiçosos de telecomando na mão, ou trazer pessoal para casa depois de noites de copos para comer qualquer coisa ou crashar nos sofás. A certa altura percebi que faço cerimónia na minha própria casa. Que me sinto obrigada a pedir desculpas no dia seguinte se resolver ter lá amigos até tarde. Quase parece que vivo com o meu pai, com a diferença que o meu pai é mais divertido e me faz mais companhia.
Quando conversei com ele, parecia que estava a acabar uma relação: o problema não és tu, sou eu. E é (quase) verdade, embora eu no fundo saiba que o problema é ele e não eu, que sou bem mais dada. Porque ele é (quase) o flatmate perfeito: calmo, sossegado, que se deita cedo, sai pouco e não faz barulho. Ou seja, não chateia (mas também não fala). Só que eu chateio. Eu sou a pessoa que traz amigos para casa às 4 da manhã para mais um copo . Que não se importa de ter todos os fins de semana gente a dormir-lhe na sala. Que estava habituada a que a sua casa fosse a casa do povo, salvo seja. Que faz noitadas e faz barulho quando chega a casa. E quero sentir-me livre de o fazer, sem ter de pedir desculpas depois, e sem me sentir mal por isso. E após seis meses a não ser eu, a ser demasiado bem comportada, chega a altura de procurar onde possa fazer o que me der na telha sem dar satisfações a ninguém.

*No dia dos meus anos, jantei pizza congelada sozinha. Nunca pensei que isso me acontecesse alguma vez na vida.

9 comentários:

  1. Acho bem. Porque percebo. You go girl!

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  2. Nem mais! A privacidade é uma das liberdades mais caras. Nos dois sentidos!

    Felicidades.

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  3. A mim aconteceu-me a 3ª situação...

    Vivo com duas raparigas, há semanas em que nem as vejo e na maioria dos dias acabo mais por as odiar do que por gostar delas...
    Nem sequer posso dizer que as conheço porque so' sei o 1º nome delas e nem sequer entrei no quarto de uma...
    Mas vou ver se consigo arranjar outra casa porque, como dizes, assim sinto que não estou na 'minha' casa e talvez tenha melhor sorte com a companhia :)

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  4. Bota mudar de casa, mas rapido... 8)
    Bjinho*

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  5. Eu tenho 3 ex-flatmates que são literalmente como se fossem minhas irmãs. Ai as saudades que eu tenho das minhas meninas!! Com elas nunca jantei pizza congelada :)

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  6. Bons dia
    Já me aconteceu de (quase) tudo. Colegas de casa que se tornaram irmãs, colegas de casa que me eram indiferentes e colegas de casa que não suportei.
    Por estranho que pareça o pior é quando elas/es nos são indiferentes. É que se as detestamos, a situação resolve-se depressa, mas se "apenas" nos são indiferentes tornamo-nos estranhos na nossa própria casa.
    O ideal é mesmo ter alguém com quem partilhar uma refeição de massa com ovo estrelado (um grande petisco quando estava na faculdade) às 4h da matina, ou com quem sair de casa de madrugada de pijama e enroladas em mantas apenas porque está uma tempestade fabulosa sobre o mar, ou alguém a quem possamos acordar, seja a que horas for, para contar que estamos novamente apaixonadas....
    .... não tenho nada a ver com isso, mas... muda de casa!!!! :)

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  7. Essa de comer sozinha nos anos.. deixou-me assim com um nó na garganta. É que aconteceu-me o mesmo, e cada vez que me lembro disso, choro como se fizesse dói-dói.

    Desejo-te toda a sorte!

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  8. Boa sorte na procura de casa Luna. Já morei em muitas casas em todos os sítios onde vivi: Leiria, Rio, Milão. Muitas vezes. Demasiadas vezes. A questão do flatmate que se torna um grande amigo aconteceu-me na 5a casa em que morei em Leiria. Desde então tenho andado no limiar entre o assim-assim e aquelas pessoas que odiamos. Por isso acredito que o melhor é mudar, até encontrarmos "the one". :)

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