Já visitei a casa de Anne Frank três vezes. Comove-me sempre. Não tanto as paredes com escritos tirados do livro, as janelas veladas ou divisões pequenas, claustrofóbicas, que serviram simultaneamente de prisão e refúgio para oito pessoas, e nem sequer as fotografias de uma infância feliz da pequena Anne. Comovem-me os vídeos com testemunhos de quem os ajudou, de quem tentou fazer o certo ignorando o enorme risco que corria, revolta-me saber que foram apanhados por denúncia, certamente por alguém que toda a vida apaziguou a consciência com desculpas forjadas de que era a lei, e estava a cumprir o seu dever cívico, e que não sabia que iam para o matadouro, afinal como podia saber, pequenas mentiras para se convencer da sua inocência como fazem todos os filhos da puta. Comove-me principalmente esta fotografia em tamanho real e o que ela transmite. Vê-la é sempre um murro no estômago e um nó na garganta que me impedem de respirar. A enorme tristeza e amargura resignadas num pai que é o único sobrevivente ao campo de concentração e volta para contar a história de uma filha morta. Um pai que afirma ter descoberto com espanto a Anne por dentro da criança alegre que com ele convivia, uma Anne muito mais madura, muito mais observadora e crítica do que ele poderia imaginar, e que numa enorme lucidez afirma que os pais nunca conhecem realmente os seus filhos.
"One single Anne Frank moves us more than the countless others who suffered just as she did, but whose faces have remained in the shadows. Perhaps it is better that way: If we were capable of taking in the suffering of all those people, we would not be able to live."
-Primo Levi
deve ser interessante essa visita.
ResponderEliminarJinhos meus
Concordo, concordo, concordo. Também eu me comovi, também eu senti um aperto no estômago enquanto por ali andei, também eu me arrepiei.
ResponderEliminarjá li o diario da anne e gostava muito de visitar o anexo. infelizmente, ainda fica longe
ResponderEliminarEsse livro do Primo Levi de onde veio a citação (Os que se salvam e os que sucumbem) devia ser lido por toda a gente. Bem como o "Se isto é um homem".
ResponderEliminarNunca fui a Amsterdam, mas é uma visita que não deixarei de fazer. E, um dia, com coragem, lá irei a Auchwitz - nunca se deverá esquecer o mal que o homem foi capaz de fazer ao homem (esta também é de Primo Levi, mais ou menos, que não sei de cor).
Estive na casa de Anne Frank em Abril último. Nunca lá tinha estado e tinha lido o diário há muitos anos. Mas fiquei como tu, ante esta fotografia. Mais do que o anexo, os jogos, as citações. Esta fotografia, a solidão deste pai que sobrevive a toda a família.
ResponderEliminarI., a citação de que falas, em inglês é: "Those who forget the past are deemed to repeat it." Já estive em Auschwitz e saí sem palavras. E acho Auschwitz devia ser visita obrigatória, para que nunca, nunca se esqueça o passado.
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mariana
Parabéns pelo blog Ana!
ResponderEliminarAcompanho-o há algum tempo mas só hoje comentei. Por timidez, talvez nunca o tenha feito, mas hoje tinha de o fazer!
Concordo com tudo o que disse. Já visitei o Anexo e alguns campos de concentração, inclusivé Bergen-Belsen onde morreu Anne e a irmã Margot.
A foto espelha toda a angústia de um pai que regressou "sózinho" daquele pesadelo.
A frase de Levi é brilhante, comovente e verdadeira!
Um nó na garganta e uma dor!
Barbara
Adorava ir, sem dúvida alguma!
ResponderEliminarBeijinho
Eu também me comovi, mesmo muito. As duas pessoas que fizeram essa viagem comigo viram-na como se um outro "museu" se tratasse. Eu não. O diário dela marcou a minha adolescência. Aquelas paredes, aquele anexo, aquele pai...tudo me deixou de coração apertadinho.
ResponderEliminarFui a Amesterdão várias vezes e nunca consegui ir lá a casa, seja porque estava em recuperação, seja lá porque foi. Mas hei-de ir. E recentemente fiquei com vontade de ir a Auschwitz, depois da referência feita por David Lodge no livro "A vida em surdina". São lugares da história carregados de remissão para lições de vida.
ResponderEliminarLi o livro, primeiro. Visitei a casa onde estiveram escondidos, depois, e voltei este ano. É realmente comovente. As paredes respiram de emoções vividas e há um aperto em nós, que a visitamos. É um sentimento de impotência perante uma injustiça gigante que aconteceu com milhões de pessoas...
ResponderEliminarPois, eu fui só este ano e comoveu-me, por tudo o que descreves. Por ver uma parede adornada por uma jovem como tantos outros, com sonhos nunca realizados. Intelig~encia premiada com a morte... Mas pior do que isso foi ter ido a semana passada a Auschwitz (I e II, este mais conhecido por Birkenau) e ficar simplesmente devastada. Como foi possível? E como é possível que coisas semelhantes se continuem a passar? COmo?
ResponderEliminarRecomendo-te este extraordinário documentário, Anne Frank Remembered, que aliás ganhou um Oscar.
ResponderEliminarhttp://www.amazon.co.uk/Anne-Frank-Remembered-Region-NTSC/dp/B0001977JM/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=dvd&qid=1245679916&sr=1-1
Beijinho.
Sim. Sai-se de lá com o coração apertado e a dar graças pela vida leve que se tem.
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