15 de setembro de 2009

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É sempre com um misto de sentimentos que deixo Portugal e volto para casa. Sim, casa. Cada vez mais é aqui que sinto ser a minha casa, e não lá. É um sentimento estranho, porque não me sinto minimamente identificada com este país e esta gente, dos quais não falo a língua, numa sociedade onde muito dificilmente me integrarei e onde sei que não quero passar o resto da vida. Mas é aqui que vivo, que tenho a minha casinha, as minhas coisas, as minhas rotinas, a minha vida. E ir a Portugal lembra-me cada vez mais disso, que já não vivo lá, e que cada vez menos ali pertenço. Talvez pela ironia dos amigos que morrem de saudades enquanto estou fora, que sentem muita falta, perguntando-me vezes sem conta quando volto, nunca terem tempo para estar comigo quando realmente lá estou. Talvez por ver que se habituaram a viver a sua vida sem mim, sem contar comigo, mostrando-me que ninguém é insubstituível. Ou porque pelo hábito de viver sozinha me exaspera por vezes o superproteccionismo paternal, e ter de cumprir rotinas que já não são as minhas. Talvez porque não me sinta mais dona de mim e da minha vida, mas a ter de viver em função dos outros e das suas disponibilidades. Talvez muita coisa. A verdade é que, apesar da merda que está o tempo, sabe bem voltar a casa.

14 comentários:

  1. My thoughts exactly! Tb moro fora e acontece-me exactamente a mesma coisa.

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  2. "E ir a Portugal lembra-me cada vez mais disso, que já não vivo lá, e que cada vez menos ali pertenço." É, não é?

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  4. Ué! E ninguém necessita de uma fascineira por aí?

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  5. Revejo-me nas tuas palavras...

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  6. isso dos amigos não terem tempo não é de viver fora... é da idade. eu, por exemplo, consigo estar mais vezes com amigos que vivem fora do que com amigos que vivem dentro.

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  7. voltei ontem do porto... e sinto o mesmo... casa já não é bem lá!
    tenho alguma pena, mas estou onde quero estar e por isso "casa" é aqui e cada vez menos lá!

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  8. Como te compreendo. As relações alteram.se, não fazes parte do dia-a-dia e as piadas escapam-te.

    Mesmo assim, dou por mim a pensar que, mesmo estando fora de Portugal há quase 3 anos, tomaria a mesma decisão novamente.

    E, amigos, amigos... as relações só ficaram mais fortes. O resto não conta.

    Desculpa a intromissão, mas leio-te há já algum tempo e hoje deu vontade de "responder".

    Bjs Rita

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  9. :) Mas casa é onde te sentes bem, tanto faz q seja agora como dentro de 2 anos, que seja aqui ou na (estúpida) da China :)

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  10. E não te sentes sozinha, por vezes?

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  11. Chiça, mulher, que acabaste de descrever um sentimento que me tem vindo a assomar mas que ainda não está suficientemente sólido para que o conseguisse escrever. Ainda só estou fora de Portugal há 9 meses.
    Mas acho que tens toda a razão. Toda.
    E ninguém lá percebe como é que de repente passamos a ser "apátridas", em que "home" já não é lá, mas tb ainda não é o novo país.

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  12. O Lar está onde o construímos, o que nos rodeia apenas fará parte da nossa construção interior, é um sentimento normal sentires Portugal não ser mais a tua casa...Pois construiste o teu lar noutro sitio, o teu lar...e sabe sempre tão bem voltar...quer esse lar esteja em Portugal, ou na China, porque no fundo é o nosso lar, aquele que nos identifica e faz sentir aqui dentro...

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  13. Ola,

    Ja leio o teu blog ha algum tempo e ja mais que uma vez me apeteceu deixar um comentario. Hoje, ao ler este post... bem, nao consegui evitar! Desculpa pela ousadia.

    Moro quase ha 3 anos em Gent (nao muito longe de ti), e percebo perfeitamente o que dizes sobre ca e la!

    Quanto a la, a minha (pouca) experiencia ensinou-me que no Natal é mais facil encontrar as pessoas que no resto do ano. E sim, somos nos que temos que nos adaptar as disponibilidades deles, porque eles habituaram-se a viver sem nos terem fisicamente presentes.

    Quanto a ca... Sim, nao sei como mas é aqui a minha casa! Embora eu esteja numa fase em que nao sinto 100% que aqui é a minha casa, mas ja nao sinto que la seja a minha casa. As vezes sinto que nao sou de lado nenhum, espero que nao sintas isso!

    Coisas de se ser emigrante... acho eu...

    Beijinho e se bem vinda a este tempo "maravilha"... Estranha-se e nunca se entranha!! :-)

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  14. Ha uns anos atras tive uma professora universitaria italiana em Otava q nos dizia q nao se sentia nem Italiana, pais aonde tinha nascido e vivido mais de 20 anos, mas tb nao se sentia canadiana pais q ja vivia ha mais de 35 anos. Hoje em dia sinto o mesmo. Portuguesa de nascimento, canadiana ha mais de 20 anos. what am I????

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