22 de novembro de 2010

Começar do zero

Poucas pessoas sabem o que é começar do zero. Chegar a um aeroporto do outro lado do mundo, apenas com duas malas, e ir até um hostel onde se ficará alojado até se arranjar algo permanente. Depois começa a busca, as visitas às casas, a comparação de preços, o estudar das áreas, até se encontrar algo de que se goste e se possa pagar. Alugar uma casa, chamar um táxi para nos levar mais as malas, receber a chave, deixar a bagagem na casa completamente vazia, e imediatamente seguir até ao rent-a-car, ou melhor, carrinha. Pegar nela e ir até ao IKEA para comprar o mínimo indispensável para se poder dormir em casa nesse dia, porque nem um colchão existe. Depois é construir uma casa aos poucos, que se irá vender por um terço do que se pagou, uns meses depois, a pessoas que chegam e têm uma casa pronta à espera, que não sabem o que é o chegar sem nada, o trabalho que dá, e ainda regateiam preços depois de lá viverem à borla durante três semanas. E mudar de país e fazer tudo de novo. Voltar a uma situação temporária, voltar a arranjar casa, voltar a ter de comprar o mínimo indispensável, porque nos temos de mudar já, e não é possível esperar pela situação ideal. E mudar outra vez.
Sempre que falo com amigos que adiam a mudança porque ainda não têm cortinas, ou outras coisas secundárias, demorando-se em casa dos pais, penso sempre que a necessidade realmente faz o engenho, e que ter apoio, o conforto de não precisar, nos faz  preguiçosos, acomodados, inactivos. Nunca precisaram de se mudar para uma casa num dia por não ter outro lado onde dormir. E olho para mim antes e depois de sair de Portugal, e noto uma diferença enorme. Toda a gente devia ter de sair da zona de conforto e ter de se desenrascar, pelo menos uma vez na vida. Torna-nos muito mais activos. E independentes. E eficientes. E capazes. Basta precisarmos.

65 comentários:

  1. E criativos. E audazes. E desenrascados. E tanta coisa mais...

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  2. Eu já tive de começar do zero, mas não duma forma tão radical como a tua.
    Sem duvida que nos torna mais fortes, para enfrentarmos a vida de frente, uma coisa e certa deixas de te preocupar com coisas futeis lol

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  3. Concordo!

    Senti um pouco do que falaste quando fui de Erasmus. Fiquei uma semana num quarto para oito de um hostel até arranjar um quarto. Foi difícil mas vale a pena.

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  4. Gabo-te a coragem. E espero fazer o mesmo quando acabar o mestrado.

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  5. Não podia concordar mais!
    Que saudades do meu tempo de Erasmus!

    Bjs

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  6. Toda a gente devia sair de casa e ter que se desenrascar, ponto.
    Toda a gente devia ter que sair de casa pra um País bem longe, onde a nossa língua materna e cultura não é a deles, ponto.
    Toda a gente devia crescer em vez de se armarem em peter pans and proud of it, ponto.

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  7. E o mais incrível é estarmos sempre dispostos a recomeçar do zero over and over again! :p Sem medos!

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  8. Faço a minha viagem até à nova casa do outro lado do mundo e a viagem ao ikea amanhã. Hoje é a minha ultima noite no hotel. Vou fechar as minhas duas malas e dormir. Este post veio mesmo a calhar.

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  9. uau :o onde estás?

    quem me dera ter essa coragem...

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  10. oh god!!! Eu fiz 8 mudanças em 3 anos.... e comecei num aeroporto, com uma mala que nao era de cartão ( como a Linda de suza), mas sim, daquelas de viagem dos chineses...

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  11. eu nunca passei por isso. quando passar também vou escrever um post a dizer que toda a gente devia passar por isso e porquê. Fuerza*

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  12. Exactamente! Sem tirar nem por é isso mesmo.

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  13. Interessante post e entendo-te perfeitamente. Ainda me lembro de chegar ao aeroporto completamente perdido com duas malas e uma mochila sem saber bem para onde ir hahahah :)

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  14. Ola! axo que nunca comentei,mas ha sempre uma primeira vez para tudo. Vou-te referir no meu blog. afinal eu tb ja começei tantas vezes do zero. e tu soubeste espreçar estes reinicios da melhor maneira. beijinhos
    Zi

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  15. Senti-me por momentos em Madrid, nos meus tempos de banhos gelados, de noites mal dormidas por causa do frio pois não tinha roupa suficiente para me aquecer... de correr pelas ruas do bairro onde vivia para não chegar atrasada ao trabalho, hum... saudades.
    Adorei o post, trouxe-me boas memórias!!!!!
    Abraço apertado
    Sairaf

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  16. Já tive que começar de novo (embora não do zero, mas quase), e apenas com os electrodomésticos da cozinha, mobília de quarto, um sofé e televisor. O resto foi-se comprando e compondo. Só tenho cortinhas há dois ou três anos, e vivo ali há sete. E candeeiros? Durante quatro anos foram as lâmpadas penduradas. Uma casa vai-se fazendo.

    Mas deumalibre de mudar de país e de poiso como tu. Enconada como sou acabava debaixo da ponte, a babar-me e a abanar-me de um lado para o outro :D

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  17. E mesmo sem mudar de país, mudando dentro do país para uma cidade onde não se conhece ninguém e muito longe da nossa, também é complicado.
    Mudar de país é o mesmo, mas numa escala maior (e com a questão da distância e diferenças culturais).

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  18. Ena ena...tanta gente corajosa... ;)

    Concordo plenamente com o teor deste post Luna. Em necessidade que remédio tinha eu senão desenrascar-me e sair dessa minha "zona de conforto". Por agora nunca tive necessidade. Espero nunca vir a ter. E sim, sou um gajo desenrascado à mesma. Mas comodista que doi...

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  19. Um verão destes, meto a mala às costas e desapareço. Sempre quis fazer isso...

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  20. "Toda a gente devia ter de sair da zona de conforto e ter de se desenrascar, pelo menos uma vez na vida."
    é mesmo isto Luna!

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  21. 100% de acordo. a zona de conforto é boa mas põem-nos inertes...

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  22. E depois, quando já há tempo suficiente para ver tudo em perspectiva, é tão boa a sensação de "Sofri mas sobrevivi! E sou capaz! Muito mais capaz do que algum dia poderia supor"
    É impagavel a sapiencia de saber que os nossos medos são (muito) relativizaveis.Começar do zero é, sem duvida uma "life changing experience".
    Luna, nao o sabes (porque tambem nunca te o disse) mas tu tiveste uma grande cota parte de influencia na minha decisão de partir para começar.

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  23. Eheheh eu não posso falar muito, saí de Lisboa para Madrid, mas fui a correr comprar o recheio todo, todinho da casa. Mas é super bom mudar de país, posso não concordar com certos pontos da cultura espanhola mas é uma benesse aprender outros pontos de vida.

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  24. Muitas pessoas sabem o que é começar do zero. Da nossa geração menos, muito menos.
    Mas acho que compreendo o que queres dizer, eu só sei como se cresce assim, sozinha numa cidade nova, num país diferente, uma casa vazia, os amigos a muitos quilómetros de distância. Acredito que se façam adultos de outras maneiras, não sei ao certo como.

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  25. 'Da nossa geração menos, muito menos.'

    Margarida, desde 1998 700.000 portugueses emigraram (so comparavel aos anos 60 do seculo passado). E suponho que a maioria fosse da nossa geração (i.e., nascidos no pos 25 de Abril).

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  26. Começa-se do zero. Sem aeroportos, sem malas, sem roupas, sem Ikea nem carros alugados. Começa-se de um zero muito estranho, em que não se sabe bem ao certo o que sentir. Porque os costumes deveriam ser os mesmos e as pessoas tão ou mais iguais, mais que não fosse por a língua, pela terra, mas não. Começa-se a partir de um zero que não nos cabe no corpo.

    E bem que dizes, basta precisarmos.

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  27. que coragem a tua...mas tens razão no que dizes. Começar tudo de novo precisava muito, mas as forças dominam-me. Boa sorte

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  28. 21 years ago, my entire family started from Zero....we survived and was interesting, you learn alot about yourself and your family.

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  29. Realmente, quando somos mais incomodados é que crescemos mais... Parabéns pelo blog. Vou passar mais por aqui!

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  30. Começar do zero não é apenas mudar de país e de casa, deixar para trás amigos, família e a nossa língua. Não sei se será este o teu caso, mas quem vai para o estrangeiro prosseguir estudos, com uma bolsa, não começa do zero, vai mudar de vida, é certo, mas "começar do zero" é fazer tábua rasa daquilo que já se tem. Muita gente tem de começa do zero sem sair do seu país.
    Ana Rita

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  31. Começar do zero não é apenas mudar de país e de casa, deixar para trás amigos, família e a nossa língua. Não sei se será este o teu caso, mas quem vai para o estrangeiro prosseguir estudos, com uma bolsa, não começa do zero, vai mudar de vida, é certo, mas "começar do zero" é fazer tábua rasa daquilo que já se tem. Muita gente tem de começa do zero sem sair do seu país.
    Ana Rita

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  32. Minha cara
    quer dizer que para si começar do zero é ir para um lugar com uma mão à frente e outra atrás, e obrigatoriamente desempregado?
    Eu arranjei emprego na holanda, candidatei-me, vim a uma entrevista, fui contratada, dois meses depois mudei-me para cá de armas e bagagem, assinei contrato, comecei a trabalhar. Não tenho qualquer vínculo financeiro a Portugal, mas mesmo que tivesse uma bolsa, não sei onde é que o facto de uma pessoa se candidatar a uma bolsa para ir estudar para fora interfere com começar do zero. Não é obrigatório passar a fingir que somos analfabetos e sem educação para mudar de vida, não?

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  33. P.S. Por essa ordem de ideias, as únicas pessoas habilitadas a dizer que começaram do zero são os vendedores da revista cais.

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  34. Bom, a parte do desenrascanço começa logo com uns ternos 18 anos, fora da casa dos pais, sem saber estrelar um ovo e gerir um orçamento. Mas compreendo o que dizes, não é fácil largar tudo e ir embora, nem que seja para outra cidade, sem nada a que chamar casa.

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  35. A tirada d'os vendedoras da revista Cais foi brilhante!

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  36. eu quero. quero começar do zero num país onde não conheço ninguém. ou bem, posso conhecer uma ou outra pessoa xD
    um sítio onde se fala uma língua diferente e onde se aprende uma nova cultura. onde não há outro remédio senão uma pessoa desenrascar-se sozinha e fazer de si alguém na vida. é difícil, mas eu gostava.

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  37. E quem diz casa... Bonito, o que escreveste.

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  38. Passei por isso duas vezes, tudo de raíz e só me fez bem.

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  39. Este post soube que nem mel.No espaço de 2 anos é a terceira mudança. A primeira foi tal e qual: hostel (embora com quarto individual) e 3 dias para arranjar um quarto em apartamento a dividir... estávamos em Dublin, Agosto de 2008 e antes nunca tinha vivido fora de Portugal, nem de casa dos meus pais. Em Outubro de 2009, nova mudança, desta vez, pelo menos, a nova empresa pagava uma semana de hotel... Em Novembro de 2010, rescindi contrato e voltei para Dublin, há apenas 3 dias. Amigos que me deixam ficar na sala mas o dinheiro não chega para sempre e há que arranjar emprego brevemente e depois iniciar a romaria de "ir ver casas". Inconstante? Não, realista: se não gosto e é impossível mudar as situações que me envolvem, cabe-me a mim mudar. Há quem não nos consiga perdoar a liberdade esquecendo que a liberdade não tem preço mas, por vezes, é extremamente cara.

    Patsy

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  40. Reduz agora isso ao teu interior. Começar do zero com nós mesmos é duro...

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  41. Compreendo-te muito bem!
    Been there...

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  42. já vivi em 4 sítios diferentes desde que saí da casa familiar, e sim tens toda a razão..... nada melhor para nos fazer crescer e amadurecer como mudar começar do zero, não conhecer ninguém, ser-se anónimo, andar no desenrascanço!Faz bem e permite dar valor a muitas coisas que a maior parte daqueles que nunca sairam da zona de conforto não dão. bj

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  43. eu nunca (ainda) saí da casa dos pais. Considero-me aventureira, so what? Não sou nada comparado com o que escreves. Gabo-te a coragem, a destreza...
    Beijinho

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  44. Este comentário foi removido pelo autor.

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  45. Vim estudar para España com 17 anos, a primeira vez que saí de casa. Conhecia 2 pessoas. Trazia a comida da mamã, ía todos os fim-de-semanas a casa. Pode não parecer mas foi a decisão mais difícil da minha vida. Não consigo traduzir por palavras o quanto cresci. Sinto uma grande vontade de mudar. Estou estagnada há demasiado tempo, apesar de continuar no país irmão. O comodismo torna-me passiva. Gostava de fazer erasmus em algum país europeu mas talvez não seja possível. Talvez volte para Portugal mas para a outra ponta do país.

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  46. A mudança faz bem, em todos os sentidos, quer fisicamente, quer apenas interiormente. Boa sorte!

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  47. ... e depois olhamos para trás e inchamo-nos todos de orgulho. Porque fomos capazes, em circunstancias por vezes muito débeis e pouco amigáveis, montar um estaminé que é muito nosso, desde um apartamento onde nos refugiamos até a um posto de trabalho que conquistámos com mérito e coragem, um círculo de amigos, antes completamente desconhecidos, onde nos movemos com alegria porque fomos escolhidos e fomos nós que escolhemos, muito por acaso.
    A vida ganhou sentido porque se tornou nossa.

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  48. Eu passei por uma situação semelhante mas por motivos diferentes. Só quem passa por isso entende o que é. E sim, é recomeçar do zero, tudo. Estou "fora" há dois anos e só eu sei o orgulho que sinto em mim por ter chegado cá praticamente sem nada e agora ter a minha casa, o meu emprego, os meus amigos, a minha vida! Obrigada por este post, Luna!

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  49. Bem tenho a dizer que tal como tu sei bem o que isso e'...e as vezes tambem paro e penso no quanto mudei desde que sai de Portugal (zona de conforto) e sinceramente...nao mudava por nada! Gostei muito do texto :)

    V

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  50. Eu sei! E muito me orgulho!

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  51. Leio este blog há muito tempo mas nunca comentei. Nunca um post me assentou tão bem como este.
    É difícil, é tão difícil, mas sabe bem sair da zona de conforto.

    Ciao!

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  52. concordo com o post. ser desenrascado ajuda-nos a aprender muito sobre o Mundo, mas sobretudo, sobre nós.

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  53. Nesta sociedade tão materialista, onde "precisamos" de mil coisas para viver (achamos nós), sair da nossa zona de conforto mostra-nos a desnecessidade de tanto.
    Acho que essas experiências nos prepram para os tempos difíceis que aí vêm.

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  54. Eu não falava do teu caso, falava do meu: há 16 anos, quando fui estudar para Clermond-Ferrand, não senti que estivesse a começar do zero; senti que estava a viver uma nova experiência. Há 3 anos, quando a minha vida familiar e profissional sofreu uma grande alteração, senti que estava a começar do zero, embora me tenha afastado apenas 300 kms. Mas lá está, esta é a minha experiência e a minha forma de sentir, não tem de ser a tua ou a de outra pessoa, obviamente.

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  55. Querida Luna, obrigada por teres escrito este texto!
    Já (re)começei do zero por duas vezes na minha vida e sei o que custa, não ter nada, nem ninguém conhecido por perto.
    Lembro-me de querer uma pá para apanhar o lixo da primeira varredela e utilizar uma folha de cartão; lembra-me de uma tampa de uma lata de chocolate que era o cinzeiro...
    Parecem insignificantes estes pormenores, mas são eles que fazem toda a diferença, no que alcancei, no que tenho, actualmente.
    Beijinhos e força :)

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  56. Isso é muito bom, torna as pessoas mais fortes. de louvar.

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  57. Luna já te leio há algum tempo, penso que se comentei foram poucas as vezes...este texto já o li bastantes vezes, desde que o escreveste, esbarro-me com ele e sempre dá vontade de ler. Eu sou uma dessas pessoas que nunca tive que começar do zero, zero, como retratas. Não sei se teria coragem, sei que às vezes a força falha, mas estas palavras vão ficar cá dentro. E tiro-te o chapéu. Mesmo.

    http://so_risoincognito.blogs.sapo.pt/

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  58. Concordo tanto.
    Já passei por isso e revejo-me em cada palavra.

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  59. Penso muito nisto. Um dia quero partir para o estrangeiro. Holanda precisamente. :)
    É o futuro para o curso que estou a tirar.

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  60. E, por curiosidade, porque decidiste embarcar nesta aventura?
    Não tinhas mais alternativas, senão começar do zero? Ou foi pura opção, de forma a testares-te e veres se eras mesmo capaz?

    Estou no conforto do meu lar :), com vontade de entrar no 2º mood!
    No entanto, mesmo que decida começar mesmo do zero algures, terei consciência que foi opção minha...nada mais! ;)

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  61. este post falou-me ao coração. obrigado por o teres escrito ;)

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