18 de maio de 2011

Novas oportunidades, sim, mas para quem chumbou

Depois de ler esta notícia, só me lembro da minha candidatura à universidade. Nunca tendo sido marrona, havia disciplinas a que era naturalmente boa, mas não todas. Vamos cá ver, nem em todas fui melhor do que a média, mas se no básico tinha sempre uns três quatros e o resto cinco, ao passar ao secundário, houve disciplinas em que até tive menos de quinze (acho que até tive um nove uma vez no primeiro período, a educação física, ou assim). Depois, como era faladora, pouco disciplinada, e irritantezinha, sempre fui punida pelos professores, que muitas vezes me davam uma nota mais baixa do que a média dos testes (o contrário nunca aconteceu, a avaliação contínua só servia para me prejudicar). Chegada ao 12º ano, a minha média era de 16. Os exames nacionais vieram provar a injustiça das notas decididas por defeito: tivesse eu desistido, e candidatado-me apenas pelos exames nacionais, e teria tido melhor média, especialmente nas específicas, e na entrada à faculdade. Apesar de ter tido média de entrada de 17, não entrei logo no curso que queria, engenharia biológica, no técnico, mas entrei em engenharia química. Depois do primeiro ano, candidatei-me a mudança de curso, e lá fui fazer o que realmente queria.  E o que me trouxe até ao que faço hoje.
Agora, ao ler isto, penso na injustiça que é para os milhares de alunos que todos os anos se candidatam à faculdade, com as notas desde o 10º ano a contar, em que os exames finais valem apenas 50%, verem-se passados por alguém que não tinha notas para acabar o liceu, mas que precisou de apenas um exame para entrar na universidade. Se acho que todos têm direito a nova oportunidade, sim. Mas se empé de igualdade com quem realmente teve de passar a todas as disciplinas, mesmo as de que não gostava, isso não.

26 comentários:

  1. Passei por algo semelhante ao teu caso e fiquei surpreendida com a notícia. Mas sublinho uma coisa: os alunos maiores de 23 que pretendem ingressar na Faculdade fazem (pelo menos nas grandes faculdades) um exame específico do curso, ou seja, em muitos cursos são obrigados a aprender coisas que ainda vão ter de dar na Faculdade. Isso sim é complicado e daí querer sublinhar esta parte.
    Posso dizer-te que sei de alunos que tiveram de aprender matéria que os colegas que vieram do secundário normal apenas foram dar no 2º ano da Faculdade. Daí não concordar totalmente com a notícia.

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  2. Concordo em absoluto..

    Conheço muito boa gente que ando feita calona, e agora com estas facilidades conseguem fazer cursos. A mim irrita-me profundamente.

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  3. agora entra-se na universidade através dos cet's e das novas oportunidades e ainda passam à frente de quem se esforça durante três anos e têm que usar os exames como prova de ingresso. sou aluna do 12.º de ciências e isto tira-me do sério.. completamente :|

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  4. quando não entrei à primeira no curso que queria, apesar da média de 17 (e nunca pensei em medicina) porque fui prejudicada pela média da avaliação contínua, porque os professores decidiam dar-me um valor abaixo da minha média de testes, fiquei fodida. houve disciplinas em que a nota do exame nacional foi 3 valores acima da minha nota. e já era chato ter gente em contingente especial a passar à frante (que nem acabaram o curso). Mas isto ultrapassa tudo. É quase um prémio à mediocridade.

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  5. Eu olho para estes casos e penso em números. Houve 8 casos de pessoas que entraram ensino superior público no meu concelho, em cerca de 6000 que concluíram o secundário através deste programa. Ora, isto representa 0,13%.

    Eu sou pela felicidade e realização pessoal dos outros 99,87%.

    Que se fodam as demagogias.
    Eu também copiei enquanto tirei o curso e provavelmente um dia vou tirar o lugar a um tipo qualquer 100% íntegro.

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  6. Têm que ver que na realidade não tiram vagas a ninguém, pois estas só existem para eles. Aliás quem tem o 12º ano também pode fazer o M23.

    quando andei na faculdade, tinha uma colega de quarto de linguística, que também não tinha entrado para o curso que queria e no entanto morava na residência um rapaz dos Açores que tinha conseguido entrar com uma média abaixo dois valores, graças a essas vagas especiais: estrangeiros, militares, etc, etc.

    Ou seja acaba por haver sempre injustiças...

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  7. Se fosse hoje teria ido para engenharia biológica e não para biologia..
    http://atulipaazul.blogspot.com/

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  8. R, as vagas especiais que existem não tiram lugar a ninguém, pois também ninguém irá preencher essas. São os contigentes especiais para emigrantes, militares e deficientes. Acho muito bem que existam pois, apesar de eu não ter entrado no regime ordinário, estive a dois passos de entrar por emigrante, e se por um lado a minha média foi das mais altas o que só por si me daria entrada imediata em contigente especial ou não, porque uma forma de colocação na universidade é também por localização, isto é, se eu tiver uma média muito alta e me tiver candidatado a diversas universidades, poderei inscrever-me na que preferir, no curso que preferir das minhas opções em que fui colocada. Logo, poderia ir para qualquer cidade. Mas se um desses cursos for na minha cidade tenho prioridade, mesmo tendo sido aceite em vários. Isto é, para quem quer ir para outra cidade nem faz muita diferença, mas imagine, se eu sou de Évora e candidatei-me a várias universidades, tendo sido colocada em várias opções, mesmo que tenha um lugar de colocação inferior a outras pessoas no curso da Universidade de Évora, eu tenho prioridade pois sou dessa cidade.
    Para um contigente de emigrante obviamente isto torna-se complicado, pois foi oficialmente residente noutro país durante os três anos anteriores, podendo até só voltar para Portugal na altura da inscrição, depois de ter sido colocada. Ou seja, não era de nenhuma cidade portuguesa em particular. Ou seja, no meu contigente poderei à mesma entrar na universidade que mais "convém", com uma boa média, mas ser mais facilmente colocada na cidade de destino. E isto facilita muito não ter que ocupar, eventualmente, residências de estudantes que, se eu tivesse ficado a estudar na minha cidade como planeado, não teria de ocupar e tirar cama a outra pessoa, que não teve escolha, por exemplo, por uma média baixa.
    Por isso, tendo em conta que se os lugares dos contigentes não serão usados por ninguém que a eles não se aplique, acho justo, porque são para situações especiais, e que mesmo assim não deixam de ser lugares competidos pela melhor média. São limitados, e portanto não são qualquer garantia de que se entra. Mesmo que seja com uma média mais baixa que o resto do curso, porque também é por colocação. Se estiver no regime ordinário e a média de entrada for 14, p.e., e se duas pessoas tiverem 14 e 15 e o resto tiver 13 ou 12, essas pessoas vão entrar por ordem até esgotarem as vagas*. Portanto é precisamente o mesmo, a única diferença é que em vez que haver p.e., 50 lugares, logo 50 oportunidades, no contigente são muitas vezes 3 ou 4 lugares, o que torna muito mais diminuídas a probabilidade de entrar. Espero não ter complicado a questão. É só que os contigentes não tiram lugar a ninguém.

    O meu comentário continua abaixo.

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  9. Já este rapaz entrou de uma forma bastante injusta. Foi dar a volta ao sistema e entrou, tirando eventualmente o lugar a alguém que se possa ter esforçado bastante para entrar, e digo eu que me senti um pouco injustiçada pois esse rapazinho entrou precisamente no mesmo curso que eu, e eu tive até de fazer cadeiras por fora no secundário devido à minha incompetência para coisas que nada têm a ver com o meu curso mas que, vinda de uma escola no exterior, nunca tive a hipótese de fazer sequer UMA opção de disciplina no secundário. Tive que ir, a três meses dos exames finais, aprender espanhol para poder ter um exame de substituição a outras disciplinas. E esfolei-me a estudar e entrei devido apenas e exclusivamente ao meu esforço.
    Não estou aqui para julgar mas é uma situação injusta face a quem estudou, muitas vezes o que não precisava, para lá chegar. Mas enfim. É apenas a minha opinião.

    *Em cursos em que a média rege-se pelo último colocado e não por média fixa, claro.

    Peço desculpa pelo tamanho.

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  10. Tu ainda não sabes que até há "faculdades" que aceitam pessoas que entram sem terem acabado o 12º ano nas novas oportunidades? Entram na faculdade e depois logo acabam o 12º?

    Priceless.

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  11. Que engraçado! Acompanho há já bastante tempo o blog e já tinha percebido qual era a tua área mas não sabia ao certo qual era o teu curso. Eu estou a estudar Engenharia Biológica no Técnico e tal como tu também sofri com as notas que os profs decidiram atribuir no fim do 12ºano... A desculpa que davam era que a escola tinha uma grande reputação e ficava sempre bem classificada no ranking nacional então tinham receio que eu descesse as notas nos exames, parecendo a alguém que eu tinha sido beneficiada por eles ou que de certa forma as notas ali eram "fáceis". Resultado: exames com notas superiores à avaliação interna, com diferenças até 3 valores.

    Agora sem ter nada a ver com o post, é interessante perceber que alguém com o curso que estou a tirar tem um trabalho tão diferente dos casos que conheço de pessoas que também concluíram o mesmo curso. A diversidade de saídas profissionais deixa-me muito baralhada mas acho que acaba por ser um grande trunfo na altura de procurar emprego.

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  12. AnaM

    acho que acaba por depender muito das áreas que mais gostas, e no nosso caso, pré-bolonha, dos mestrados que fizemos.

    De entre os meus colegas de curso tenho gente a tirar os mais variados doutoramentos, em diferentes países, desde bioinformática a formulação de proteínas, de celulas estaminais, à área alimentar, gente a trabalhar em cervejeiras, e mesmo delegados de propaganda médica. Há para todos os gostos.
    É questão de pensares no que gostavas de fazer, e tentar arranjar estágios nessa área.

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  13. Já conhecia esta forma de contornar o sistema, e já sabia que os alunos do NO beneficiavam de um regime diferente para entrar na faculdade, sem terem que andar a penar como os demais do ensino regular. Acho fantástico e sintomático que no nosso país se considere uma "nova oportunidade" dar um passe de entrada livre, em vez de incentivar aos esforço individual. Se tivesse um filho no liceu ponderava incentivá-lo a largar os bancos da escola e inscrever-se nisto. Mais vale.

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  14. O bacano entrou em Tradução - há de arranjar muitos empregos...

    ;D

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  15. Tenho uma colega minha que se enfiou num curso profissional de Contabilidade após ter estado no 10ºano na área de Ciências, posso dizer que enquanto esteve em ciências a única nota positiva que teve foi a Educação física, o resto foi só negativas. Neste curso profissional tirou montes de 19's e 20's e tudo mais. Eu pergunto-me como é isto possível? Num ano tira tudo negativas e no seguinte num curso profissional tira logo 20's? Este ano vai para a universidade... provavelmente tirar o lugar a alguém que teve no curso que ela nem o 10º conseguiu fazer...

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  16. Luna deves ter feito estágio no fim da licenciatura mas com bolonha só terei estágio curricular no fim do mestrado.
    Penso que vou conseguir perceber melhor o que quero depois das opcionais do 2º ciclo.
    Até lá vou pensando melhor no assunto.

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  17. Ana, teria sido diferente Eng Quim. Eng Quim e Eng Bio era essencialmente a mesma coisa. Eles tinham la um violador e nos tinhamos um gajo que se despia em pecas de teatro. De resto, a forma de pensar era a mesma. Ha varias maneiras de se fazer medicina, arquitectura, economia e direito sem se tirar qualquer uma dessas licenciaturas ou mestrados. Ter canudo so por ter nao interessa, o que interessa e' fazer e para isso e' preciso vontade e inteligencia, nao notas e certificados. Isso dos "labels" nao serve para nada. Tu mais do que ninguem sabe isso muito bem. Tu podias estar onde estas agora se tivesses tirado quimica, eng quim, bioquimica, biologia, farmacia ou medicina. Deixa la as novas oportunidades em paz.

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  18. Susi*:

    Um curso profissional nada tem a ver com as novas oportunidades e é tão válido quando um o secundário normal. A única diferença é que acaba por ser melhor, porque para além da formação normal, sais com conhecimentos para trabalhar numa área profissional. Quem sai de um curso normal do secundário só tem uma opção, a universidade, porque estás lá três anos a estudar e sais sem saber nada de nada para o mundo do trabalho.

    Aproveito e digo ali também ao sr. Short que Tradução é capaz de ser dos trabalhos mais viáveis, pela sua pluralidade de saídas profissionais, mas também porque, desde manuais técnicos, localização, literatura, legendas, artigos, documentos, intérpretes para o mais variado leque de situações, documentos de ciências ou judiciais (e etc etc etc), um tradutor é sempre necessário. No mundo hoje em dia raros são os países que não têm ligações com outros países, e assim sendo, enquanto toda a gente no mundo não conhecer profundamente uma série de línguas, o tradutor vai ser necessário, com trabalho a aparecer todos os dias. Tem é que se mexer, só isso.

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  19. Oh Alex, sabes bem que nao era nada disso que eu queria dizer. Mas já agora, se nao tivesse entrado em Eng Química, sabes para que é que tinha entrado? Civil. Pois. Achas que estaria onde estou hoje tendo tirado civil? :)

    (provavelmente estaria no dubai a fazer hoteis ou assim)

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  20. P.S. mal por mal, prefiro o tarado que se despia.

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  21. Oh pá, a verdade é que essa história das vagas para determinados contingentes é parvo na mesma.

    É como a história dos atletas de alta competição. Se fizeres um desporto de menor dimensão (polo aquatico ou coisa assim) e fores bom, vais à seleção, pumba. Entradas grátis na faculdade. E os PALOPS. Vagas específicas para PALOPS continuo a achar istúpido.

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  22. Efémera: Sim eu sei que são coisas totalmente diferentes, mas é só um exemplo de um caso especifico em que uma pessoa que tinha bastante insucesso escolar de repente passou a ser uma excelente aluna a tudo, inclusive a português inglês e mais não sei o quê que ela também tinha em ciências, é que passar de 5's para 20's é um abuso. E como ela conheço mais. Mas só por isto é que falei, é estranho, apesar de achar muito bom terem uma qualificação profissional.
    *

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  23. Tenho alunos vindos dos M23, que nem sequer passaram pelas Novas Oportunidades, com o 9.º ano de escolaridade, que têm excelentes notas no ensino superior. Preocupam-me mais os meus alunos provenientes do 12.º dito normal, cuja qualidade tem vindo a decrescer a olhos vistos, do que esses.

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  24. Susi*:

    Um curso profissional ganha aos pontos nos científico-humanísticos exactamente por isso, porque uma pessoa só tem as disciplinas que precisa para o que vai, supostamente, exercer. Não são cursos "para burros" nem nada semelhante.
    Obviamente não conheço o caso da tua amiga. Mas sou exemplos simples. Eu reprovei o nono ano, e admito que tirando uma ou outra disciplina, ao contrário do que sempre tinha tirado antes, tirei notas um pouco medíocres. Acontece que no ano a seguir repeti noutra escola e raros foram os 3 que tirei, tendo uma média de 4-5 (ainda bastantes 5). Não só porque me empenhei mais, mas tive melhores professores e um melhor ambiente de turma. E por exemplo, durante o secundário comecei muito bem e acabei mais ou menos. Entretanto tive cadeiras que de nada me serviram a não ser para complicar a vida, às quais eu era um zero à esquerda. Tive que me esfolar para conseguir uma boa média. Hoje em dia estou na universidade com uma das melhores médias da turma e das que alguma vez tirei.
    Não sei o que se passou com as pessoas que conheces, mas muitas vezes basta uma pessoa empenhar-se um bocado mais, ou sentir-se mais motivada, ou finalmente sentir que está no caminho certo para tirar melhores notas. Às vezes, são as coisas mais simples. É que não há, à partida, nenhum motivo para o sucesso estar relacionado com a ida para um curso profissional a não ser a própria satisfação e o empenho pessoal.
    Conheço quem tenha andado feito um curso profissional e não há nada que leve uma pessoa a pensar que facilitam ou que são menos exigentes. Pelo contrário até.

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  25. No caso específico dela posso dizer que há mesmo facilitismo no curso, os próprios colegas (que estão no mesmo curso) o dizem, mas claro que não vou generalizar, sei que neste caso é assim, não quer dizer que por aí por este país fora também seja, era só o exemplo desta rapariga em concreto. E também desta escola :S. De resto concordo contigo Efémera :)
    *

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  26. concordo absolutamente com a tua opinião! (desculpa tratar por tu, mas acho que é mais simples)
    concordo com as novas oportunidades sim senhor, mas apenas para quem quer ter o 12º ano concluido, mais do que isso não, é uma injúria para todos aqueles que estudaram que nem uns doidos e que andaram na escola a calcular notas e a esforçar-se durante anos a fio para depois vermos que ao fim de contas ficamos todos iguais e que a licenciatura dos outros vale tanto quanto a nossa, que estudámos, batalhámos, fizemos exames nacionais e tudo e tudo e tudo!
    Então se falarmos de exames de acesso a maiores de 23 numa faculdade privada, até dá vontade de cortar os pulsos. Conheco o caso de uma privada muito conceituada - Universidade Lusófona - que o exame é feito da seguinte forma: 1 hora de aula, com um prof a dissertar sobre o que lhe pediram e depois tens o exame que consta nada mais nada menos em o aluno fazer 1 resumo do que disse o professor!!!!
    e isto é ultrajante para todos os que entraram para a faculdade - seja ela qual for - pelas vias normais e justas!

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