"Para todos nós que não conhecíamos Amy Winehouse pessoalmente (incluindo os muitos que pensavam que conheciam ou agiam e opinavam como se a conhecessem), a primeira pergunta que devemos fazer, antes ou depois de fazermos considerações condescendentes e sentimentalistas, é: comparando o prazer que cada um de nós deu a Amy Winehouse (a pequena percentagem que comprou a música dela) com o prazer que Amy Winehouse nos deu a todos, quem é que ficou a ganhar? Fomos nós. A música dela ("voz" é pouco) enriqueceu as nossas vidas para sempre ou, na mais mesquinha das gratidões, durante um bom bocadinho das nossas vidas. Resumindo: ela deu-nos muito mais do que recebeu de nós.
Back to Black é (muito mais do que "continua a ser", como quem fala do que vai morrer) um monumento elegante de interpretação pop. Ali estava uma rapariga inglesa e pequenina, de uma família judia, e freudianamente indisfarçada, que sabia cantar como se fosse gente grande.
Amy Winehouse morreu muito nova. Mas deixou-nos - deu-nos - muito mais do que a grande maioria de cantores e cantoras nos deixaram. Foi - era - uma alma que nos escapou e nos escapa. A verdade é que nos deixou muito mais do que nos roubou. Que foi nada.
Mas faz pena. Pobre coitada: não. Pobre gloriosa: sim. O nosso lamento - de não termos recebido mais - é um egoísmo guloso, que nos fica mal. Amy Winehouse valeu a vida e ficou a perder com a vida que nos deu. Obrigados, Amy Winehouse: deste tudo e não custaste nada."
Crónica de Miguel Esteves Cardoso no Público de hoje
Tenho pena, mesmo.
ResponderEliminarGostei muito do texto.
ResponderEliminarA Amy não se tornou heroína por ter morrido, mas acho que devemos mesmo valorizar o que ela fez de bom e - porque não?! - o que ela nos deu.
Gostei muito do texto. :)
ResponderEliminarNao aprecio a sua musica, creio que por desconhecimento, mas acredito que tenha deixado um legado tremendo.
ResponderEliminarPor mais anunciada que seja, a morte sempre pega a gente de surpresa. Sempre lembrarei da Amy no início do sucesso do BLack to Black: uma mulher atípica e talentosa e, por isso, estranhamente atraente.
ResponderEliminarNem mais nem menos.
ResponderEliminarIpsis verbis, idem idem, aspas aspas... Quando não há mais nada a acrescentar, desce-se o pano. Brilhante texto!
ResponderEliminarBelíssimas palavras. Para não dizer grande artista e música excelente, claro.
ResponderEliminarSim, ela foi uma boa cantora, mas porque é que tenho a sensação de que se está a tornar santa? Sim, teve uma vida complicada e bla, bla, bla, mas parece-me que está a acontecer o que acontece sempre que um artista morre. Enquanto era viva e fazia montes de merdas, a imprensa estava lá para relatar e dizer mal, agora que morreu não param de dizer que era uma grande artista. Não dizendo que estão a mentir, acho que poderiam ser menos cínicos!
ResponderEliminar