23 de janeiro de 2012

A ciência é um longo e difícil caminho

Se pensar bem, a verdade é que nunca tive bons resultados no meu percurso científico, e a maioria das vezes, tal como uma comentadora referiu, os meus resultados resumiram-se sempre a "como não fazer algo". A minha tese de licenciatura consistiu em apresentar os resultados obtidos, explicando por que o objectivo inicial do projecto não tinha sido atingido com aquela estratégia. Na tese de mestrado consegui mostrar alguns resultados interessantes, embora diferentes da hipótese inicial, e aquém do pretendido, sendo o maior elogio à mesma estar bem escrita. Até no meu estágio na Genentech, for gods sake, o projecto que me foi atribuído terminou comigo, depois de 16 anos de estudo, por se revelar, por fim, impraticável comercialmente, tendo sido descontinuado depois dos meus resultados derradeiros. Não é que não tivesse resultados, que tinha, apenas não os desejados.
E agora, 3 anos volvidos do doutoramento, depois de muitos "quase", que se revelavam depois "afinal não", depois de tentar mil coisas diferentes que não resultaram, depois de uma fase de desânimo, e por vezes quase desespero, quando já estava preparada para definitivamente passar ao plano B, no qual já estou a trabalhar há algum tempo, decidi fazer duas experiências finais, por descargo de consciência, só mesmo para fechar o capítulo e passar à frente sem remorso, e não é que tive finalmente resultados promissores com ambas as experiências, quando antes nunca tinha tido com nenhuma? 
E embora ainda tenha de repetir tudo para confirmar a reprodutibilidade, e ainda haja a parte da eficácia a nível imunológico a ter em conta, começo finalmente a ver a luz ao fundo do túnel. Mas como disse Samuel Beckett, "Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better."

17 comentários:

  1. Estou a 6 meses de acabar o meu doutoramento. Como te compreendo...
    Gosto quando partilhas estes posts sobre "Ciência", sempre me sinto mais acompanhada. :)

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  2. É assim a ciência. Digo isto tanta vez aos alunos de mestrado e doutoramento: um resultado negativo não deixa de ser um resultado.
    A frase do Beckett não podia ser mais verdadeira.

    Parabéns pela luz ao fundo do túnel!

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  3. E normalmente é uma perda tão grande quando os resultados negativos sofrem viés de publicação, quando na prática podem ser tão importantes como os positivos.

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  4. sim, eu nesse aspecto tenho montes de resultados úteis para que quem queira tentar saber como não fazer de todo.
    infelizmente sao dificilmente publicados.

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  5. p.s. infelizmente os maus resultados só sao publicados se souber explicar e provar porquê, o que é difícil quando se trabalha com coisas não visualizáveis e que todos os resultados são indirectos.

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  6. At least tentaste. Muy bien, chica!

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  7. Não imagino como será com outras ciências, mas em ciências sociais não há nada mais gratificante do que perceber que aquilo que investigamos faz sentido, é importante e pode abrir uma nova perspectiva.

    Bom trabalho, parabéns e boa sorte!

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  8. "um resultado negativo não deixa de ser um resultado." se não soubesse, dizia que a Luísa era uma das minhas orientadoras!!! ;-)

    Estava há pouco de volta do 3º artigo do meu doutoramento e dou cmg a ter um ataque de riso porque algures na discussão escrevi: "The primary findings of this study confirmed our initial hypothesis that..." sendo que esta hipotese deve ter sido a 11ª a ser testada, e a parte de primeira, deve-se a "primeira a dar qlq coisa de publicável"

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  9. Cara Luna,
    Depois de meses a escrever a tese (recentemente promovida a p#%@ da tese) apetece-me espetar com a frase do Beckett no segundo capítulo experimental e pode ser que na defesa não me venham cá com mimimis porque é que não fez isto e aquilo!
    Parabéns e como diz o meu orientador: não te esqueças que em ciência "o dia tem 24h e a noite é eterna!" e é muitas vezes no último suspiro que os resultados chegam! (muito poético este meu orientador...)

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  10. Espero bem que te consigas safar com esses resultados! O mais frustrante quando se trabalha em ciência, é mesmo ter de lidar com a sorte, visto que nem sempre a qualidade dos resultados espelha o trabalho que está por trás. Muita gente me tem dito que é no último ano que todos os resultados aparecem. Se assim fôr, já não é mau de todo... Muito boa sorte! :)

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  11. Luna,
    Só para avisar que vou roubar a citação - mas vou referenciar-te, direitinho que eu não sou como umas e outras ;)

    E, até pode ser que consigas mais votos para a votação-onde-não-se-ganha-nada-mas-faz-bem-ao-ego-e-nós-gostamos!

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  12. Pois, a minha historia é parecida. A diferença é que ao fim dos 3 anos (e mais um bocado) os resultados não mudam, orientadores, especialistas e afins não os percebem (porque mais ninguém, fez o mesmo ou parecido, isto de se ser um projecto inovador tem que se lhe diga...), e agora a escrever a tese ninguém se entende... Os cabelos brancos que ganhei com isto!
    Mas o amor à ciência...

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  13. Como te percebo... Estou no último ano do Doutoramento e só me apetece... ganir, desistir, nem sei...
    Um grande beijinho e parabéns pelo blog

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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