2 de abril de 2012

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões


É lugar comum em certas discussões, como argumento desesperado ou como simples insulto, acusar-se o interlocutor de incoerência, por ter anteriormente expressado opiniões diferentes, como se isso fosse uma coisa má. Já mudei de opinião diversas vezes relativamente a um sem número de assuntos, e ainda bem. Ao longo nossa existência vamos vendo mais mundo, conhecendo mais pessoas, sendo expostos a mais conhecimento, experiências e culturas diferentes, a outros pontos de vista que vamos absorvendo. Apreendemos o mundo que nos rodeia e vamo-nos deixando moldar, desenvolvendo novos modos de pensar, aprofundando e amadurecendo as nossas ideias e a nossa forma de ver o mundo. Mal seria se eu aos trinta anos pensasse exactamente como aos vinte, denotaria apenas que não tinha evoluído, que tinha estagnado, mantendo-me impermeável a todas as vivências que fui experienciando ao longo do tempo. Só pessoas pequenas e tacanhas nunca mudam de ideias, por serem perfeitamente estanques ao mundo que as rodeia, vivendo sempre fechadas na sua pequenez, nos seus horizontes limitados, e impedindo que o mundo pule e avance, por serem incapazes de pôr em causa as suas certezas pessoais, convencidas de que são absolutas. Gente que não experimenta o que não conhece, por temer o que não é familiar e rejeitar o desconhecido. Aqui na Holanda a este tipo de gente costumam chamar-lhes farmers, o que acho ofensivo relativamente aos verdadeiros farmers, embora o entenda no sentido red necks. Eu chamo-lhes apenas labregos.

11 comentários:

  1. Aqui no Norte considero o termo "labregos" algo lisonjeador e não limitativo. Costumo até dizer que mais vale ser labrego do que azeiteiro, tal é a última estirpe abundante por estes lados ;).Não gostei por isso do termo aplicado ;)

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    1. eu sempre os vi mais ou menos como sinónimos, com labrego a usar-se mais no sul e azeiteiro muito mais no norte (pouco comum usar-se em lisboa, acho).

      mas segundo o priberam:

      labrego: 1. Rude, aldeão. 2. [Figurado] Grosseiro, malcriado.

      azeiteiro: 3. [Popular] Que ou quem é considerado ignorante, simplório. = PACÓVIO, PAROLO. 6. [Gíria] Indivíduo que explora prostitutas. = CHULO, RUFIÃO

      ou seja, ambos são pouco elogiosos, com algumas diferenças mas ainda assim não tão distantes.

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  2. Concordo com aquilo que escreveste, mas ainda hoje pensava no seguinte ditado "quem desdenha, quer comprar". Quem diz que não quer, não gosta, não pensa, não sente... e assim que determinadas circunstâncias surgem, passa a querer, a gostar, a pensar e a sentir.

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    1. Ah poesia. Boa.
      Concordo plenamente contigo, Luna. Eu próprio já fui católico e evoluí, agora sou ateu. Mas mantenho a mente aberta e se alguém me provar cientificamente que há deus, mudo de novo, no hay problema.

      Gosto dessa tua atitude. Isso quer dizer que se vires que em alguma das tuas opiniões seguiste o caminho errado, voltas atrás, certo? Óptimo!

      Mas atenção quando dizes "Apreendemos o mundo que nos rodeia e vamo-nos deixando moldar, desenvolvendo novos modos de pensar". Eu se vivesse numa prisão também aprendia novos modos de pensar... Pois, nem sempre local mainstream = rightstream.

      Lá está, se Nicolau Copérnico se tivesse deixado moldar, tinha aceite que o sol girava à volta da Terra e não se falava mais nisso.
      É que a maior parte das vezes o mundo pula e avança à toa.

      Desde que as tuas opiniões estejam bem fundamentadas e tenham lógica, não te importes se te chamarem um dia labrega. Who cares?

      (Isto que acabei de dizer não serve para as pessoas que não são como tu e que têm como objectivo de vida ser o/a "mais popular". Se querem isso, então agarrem-se à opinião da maioria! É pá sol gira à volta da Terra atão não xe bê? Prontos, votem mas é em mim lol)

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    2. Desculpe Allie, o comentário anterior não era para esta caixa.
      Para aqui era uma questão: acha que a Luna por estar a desdenhar dos labregos quer ser labrega?!

      Just kidding. ;)

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  3. Ah poesia. Boa.
    Concordo plenamente contigo, Luna. Eu próprio já fui católico e evoluí, agora sou ateu. Mas mantenho a mente aberta e se alguém me provar cientificamente que há deus, mudo de novo, no hay problema.

    Gosto dessa tua atitude. Isso quer dizer que se vires que em alguma das tuas opiniões seguiste o caminho errado, voltas atrás, certo? Óptimo!

    Mas atenção quando dizes "Apreendemos o mundo que nos rodeia e vamo-nos deixando moldar, desenvolvendo novos modos de pensar". Eu se vivesse numa prisão também aprendia novos modos de pensar... eheh
    Pois, nem sempre "group stream" = "rightstream"...

    Lá está, se Nicolau Copérnico se tivesse deixado moldar, tinha aceite que o sol girava à volta da Terra e não se falava mais nisso.
    Muitas vezes o mundo pula e avança à toa. Aliás quando se diz que o mundo pula e avança, falamos da civilização ocidental, não de todo o planeta.

    Luna, desde que as tuas opiniões estejam bem fundamentadas e tenham lógica, não te importes se te chamarem um dia labrega. Who cares?

    (Isto que acabei de dizer não serve para as pessoas que não são como tu e que têm como objectivo de vida ser o/a "mais popular". Se querem isso, então agarrem-se à opinião da maioria! É pá o sol gira à volta da Terra atão não xe bê? Prontos, votem mas é em mim lol)

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  4. Foda-se (e tu sabes do que falo). Não há cu. Mesmo.

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  5. Ao ler os primeiros versos do soneto imaginei a revoluçao com o Zé Mário Branco a comandar as tropas. Eheheh

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  6. Subscrevo o comentário da ursa, palavrão incluído.

    Jibóia, a Luna não deve conhecer a música. Ainda nem tinha nascido. :)

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    1. Teresa, eu acho que também nao tinha nascido (teria?) e conheço-a ;)

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    2. A música é de 1971, vivia ele exilado em Paris.

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Mudam-se_os_tempos,_mudam-se_as_vontades

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