4 de junho de 2012

Como torturar um estudante de doutoramento lentamente

Por vezes acontece uma pessoa ter azar. Ter azar com o projecto e os objectivos propostos para o mesmo, assumidos com base em resultados passados, assumindo semelhanças que boa parte das vezes não se verificam, o que culmina em anos de maus resultados, batalhando por sucessos que simplesmente teimam em não chegar. E, quando finalmente chegam, falta o tempo para fazer com eles o que é suposto. E é aí que se pede uma extensão do doutoramento, isto é, mais uns meses para tentar acabar aquilo a que nos propusemos, e que quando começámos nunca pensámos que fosse tão difícil conseguir. E quando se tem os primeiros bons resultados ao fim de três anos, o tempo extra não é só bem-vindo, mas necessário para poder acabar.
Em Janeiro tive a primeira reunião com o big boss sobre a extensão. Nessa reunião decidiu-se que eu deveria escrever um plano realista com prazos para objectivos, a ser reavaliado numa segunda reunião. Tive uma segunda reunião em Fevereiro, onde fiz a minha proposta de objectivos numa timeline. Pensava eu que teria aí o veredicto, mas não, ficaria para uma próxima reunião. Terceira reunião em Abril, e ainda não foi aí que tive uma decisão. Hoje tive a reunião derradeira, mostrando que tenho cumprido todos os prazos propostos anteriormente, devido ter trabalhado literalmente que nem uma mula.
Depois de uma noite praticamente sem dormir, durante a reunião expliquei ponto por ponto onde estava relativamente a cada um dos objectivos acordados, mostrando que os tinha cumprido. Quando o big boss se sai com um "ainda não estou pronto para tomar uma decisão" ia-me caindo tudo. Mandaram-me fazer um plano, fiz um plano. Mandaram-me cumprir o plano, cumpri o plano. O que querem mais, caralho? Afinal é sim, é sopas, eu preciso de saber o que fazer à minha vida, e a partir de quando deixarei de receber salário e de poder pagar a renda da casa. A minha expressão deve ter dito tudo isto, porque ele lá me disse que decidiria ainda hoje. Sim ou não, já não me interessava, só queria mesmo saber com o que contar e não permanecer na incerteza mais tempo, sob pena de ganhar uma úlcera gástrica e entrada directa no Miguel Bombarda.
E depois de mais umas horas de agonia, de estômago apertado, lá recebi a minha tão ansiada e necessária resposta. Foi-me concedida a extensão, e finalmente, após cinco meses de agonia com a corda no pescoço, sem saber se me cortariam as pernas quase perto da meta, finalmente respiro de alívio. Mas custou, porra, se custou. E se isto não é uma forma de tortura psicológica, não sei bem o que será.

18 comentários:

  1. Bolas, realmente isso é tortura...

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  2. É para ver se tem estofo de doutor...

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  3. ...e (muitas vezes) porque se estão borrifando para os problemas alheios...

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  4. Rosa: numa das reuniões que tive propuseram a derradeira reunião para o mes antes do fim do meu contrato... Vá lá que perceberam que para uma emigra é um bocadinho chato nao saber se pode pagar a renda no mes seguinte apenas com um mês de antecedencia, e lá resolveram antecipar a reuniao...

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  5. Podes crer!!!!

    Já para não falar na FCT, que demora meses e meses a resolver o que quer que seja de atribuição ou renovação das bolsas de doutoramento!

    Normalmente os Boos's e advisors mais complicados são aqueles que tiveram um processo de PhD bem facilitado. Ninguém que passa por este nível de stress (além do próprio stress de phD e publicações) tem sequer vontade de infligir tal dor no outro - sendo que há uns lab partners phd wanabees que desafiam até a pessoa mais pacifica!

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  6. Ele há cada um!
    Sempre que te ouço falar do teu boss dou graças a Deus por ter tido um grande chefe! E a Shadow tem razão no que diz, o meu chefe teve um PhD complicado e nunca complicou a vida a nenhum dos seus alunos.

    Força Luna estás na parte final e vais sair vencedora.

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  7. Óptimo. Fico feliz que a resposta tenha sido positiva... :)

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  8. Ainda bem a resposta foi positiva! Por cá, a FCT roça o anedótico... Boa sorte e força agora que estás quase (e com bons resultados)
    Beijinho

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  9. raios' partam!

    um beijinho e ânimo para o que ainda falta - apesar de tudo, são boas notícias... parabéns!

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  10. Fico muito feliz por ti. Carrega, Luna :D

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  11. Muita força para completar, com todo o sucesso merecido, esse trabalho!

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  12. Depois do sufoco, veio a boa notícia. És a maior!

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  13. imagino que já saibas, mas podes sempre pedir o subsídio de desemprego. recebes 1 mês por cada ano de trabalho.

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  14. Que nervos!
    Parabéns pela extensão ;)
    Que maratona :S Espero que arranjes fôlego para o sprint final.

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  15. É uma vitória Anocas. É isso que é. Beijos!!

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  16. Acho que a Luna só conseguiu porque deve ter-lhe feito a sua cara "Luna the Blunt": ele gelou e achou que era preferível dar-lhe a extensão e continuar vivo... :)

    Moral da história:

    Colocar extensões no doutoramento é mais difícil que colocar extensões no cabelo.

    (No entanto, se a seguir ao doutoramento vem o desemprego... extensões nisso!)

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  17. No dia da defesa vai saber tudo muito bem e nenhuns episódios para trás terão importância! Força!

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  18. Não há ninguém que explique à moça que o Miguel Bombarda já fechou?

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