24 de julho de 2012

Livre e espontanea vontade é um conceito vago





do magnífico Persepolis, a história de Marjane Satrapi contada na primeira pessoa (mas sim, ela deve ser a excepção)

10 comentários:

  1. A história é realmente magnífica. Falta-me ver a animação :)

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  3. Recordo-me que nos meus anos de liceu li boa parte dos livros escritos em segredo por mulheres muçulmanas, que estiveram muito em voga na altura. O que mais me chocou foi "a vida de uma Princesa árabe" e durante um bom tempo embirrei com essa cultura. Mas depois comecei a relativizar, mercê de outras leituras e experiências. Porque o uso do véu não é igual em toda a parte, assim como outros costumes. Em Marrocos, no Paquistão ou na Jordânia é uma coisa, no Irão ou na Arábia Saudita outra. Há muçulmanos muito liberais cujas filhas nunca viram véu na vida. Há mulheres que se convertem ao Islão e usam o véu por opção própria.

    http://www.amulhernoislam.com/2009/08/brasileiras-convertidas-ao-islam-erika.html


    Acredito que para as marroquinas, ter uma colecção de véus coloridos para usar consoante a fatiota seja uma experiência muito diferente do que usar burka ou um niqab todo preto. E em Lisboa já vi mulheres de abaya, que nem os olhos mostra. Isso é bem pior do que a burka. Lembro-me da Princesa sultana, a autora, detalhar que detestava a abaya ) mas por outro lado se sentia como uma coisa preciosa, que era necessário esconder dos olhares cobiçosos. Daí dizer que é uma questão mais complexa, como o são todas as questões culturais muito enraizadas.Mesmo para os homens! Não tenho contacto com muitas mulheres muçulmanas para poder opinar, mas uma conhecida minha, cujo pai é árabe, quando ia passar férias à terra dele podia andar à vontade, mas se se portasse mal (não fazer os trabalhos de casa ou coisa assim) o castigo era obrigá-la a usar uma burka. Por isso, acredito que nem todos os muçulmanos achem o véu uma coisa bonita, uma precaução ou um acessório religioso. Alguns estão perfeitamente conscientes de que é desagradável e uma excelente maneira de incomodar as mulheres.

    Creio firmemente que devemos pugnar - pelo menos no espaço europeu - para que o véu seja uma opção das mulheres. Mas se as obrigarmos a tirar o véu, a todas sem excepção, não estaremos a ser demasiado radicais?

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  4. O problema do véu retratado em Persépolis é mais complexo do que autora retrata porque se esqueceu de uma importante fatia: o véu foi uma arma contra o imperialismo britânico e americano, que cobria de ouro o Xá da Pérsia e proporcionava um bom modo de vida às elites ocidentais e persas das grandes cidades. Enquanto isso, o "verdadeiro" povo não sentia os benefícios de viver num país rico em petróleo. Por causa desses excessos, a arma foi precisamente um excesso: o regime dos Ayatollahs e a imposição dos costumes muçulmanos, ergo, o véu.
    Não digo isto para defender a visão islamita extrema, ou que fosse a melhor resposta "aos americanos", antes porque acho que quando se discute um assunto e se apontam casos ou exemplos devemos atender à sua raiz ou contexto.
    Lembrem-se que, até à amizade dos Xas e a proibição do véu muitas mulheres e meninas frequentavam a escola e deixaram de o fazer precisamente por não poderem usar véu. Ou seja foi um suposto avanço que trouxe afinal retrocesso. É difícil o equilíbrio, muito difícil...

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  5. Acho que neste como em outros assuntos, não há nada a fazer, há o que vêem, os que não vêem - porque não conseguem ou porque não querem.

    De facto, há quem tenha óculos côr-de-rosa para ver a realidade e só quando lhes espetarem um véu na cabeça vão perceber e perguntar:
    "como permitimos que isto acontecesse?! Como chegaram eles aqui?!"

    Imperatriz Sissi, já há algum tempo que não debatíamos religião... :)
    Mas diz-me: usar o exemplo de uma(UMA!) amiga tua para formar uma opinião será sensato?
    Não viste o link da escola islâmica que deixei no post "sim já sei que sou muito preconceituosa"?
    Não lês as notícias que vêm do Egito, da Arábia Saudita, do Irão, da Argélia, etc.? Por todo o lado o Islão avança... estás à espera que chegue a Coimbra?

    Tens tanta informação sobre o que é o Islão... até tens escritores que foram condenados à morte e vivem escondidos! Tens mulheres a quem cortaram o nariz, outras que morreram apedrejadas em nome do corão...

    Diz-me, qual foi a parte que não percebeste? Porque olhas para a víbora e vês um patinho?

    O véu é uma das faces da víbora.

    barcelence:

    Proibir filhas de ir à escola por causa de não poderem usar a merda de um véu não fala contra o regime do Xá, por pior que este pudesse ser, fala contra essa gentinha obscurantista e retrógrada.

    Afirma que antes o verdadeiro povo não sentia os benefícios de viver num país rico em petróleo? E agora sente?! Não me faça rir.

    Trocar o imperialismo americano pelo imperialismo islâmico... grande troca! Parabéns para eles!

    Ao menos no tempo do Xá não se enforcavam homossexuais nem se apedrejavam mulheres.

    Acho incrível como pessoas inteligentes como a Imperatriz Sissi e a(o) - mais um(a) de burca virtual... - barcelence apagam da memória os horrores do Islão quando falam calmamente destes assuntos, como se falassem da escolha entre o Sporting e o Benfica...

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  6. Calminha, José. Não sou uma hippie tolerante com os abusos do Islão, pelo contrário, e acho que a Europa devia ser bem mais rigorosa. Só digo que pode haver mulheres que queiram usar o véu, e que tenham uma visão diferente de uma certa emancipação, porque afinal, a cultura delas não é a nossa...as perpectivas são outras. Sou contra todos os feminismos extremos, e não creio que devamos falar por toda a gente. De qualquer modo, discutir a questão das mulheres muçulmanas é um assunto como o ovo e a galinha...até que elas próprias decidam libertar-se bem podemos pregar. Temos direitos das mulheres ocidentais a ser atropelados e se formos resolvendo os problemas mais próximos de nós já é muito bom. I rest my case.

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  7. Imperatriz Sissi

    eu nao me identifico com a posição extremista do Just José (e acabo de o referir como odeio que ele me refira para reforçao uma opinião).
    Proibir nao é o caminho, e vi isso quando visitei a russia, onde vi tanta gente a beijar os santinhos, tendo a religiao como resistencia, e exarcebando-a, que percebi que a repressão nao era o caminho.
    O véu (e versoes mais extremas do mesmo) simboliza a submissao feminina, e faz-me ainda mais confusao quando imposto a crianças pequenas sem opção de escolha. Essas crianças nao têm oportunidade de escolha, regem-se apenas pelo costume e pelo medo. Não há liberdade individual. e ver uma criança de aí uns 5 anos reforça essa noção de não escolha, de falta de liberdade e autodeterminaçao.

    tudo aquilo por que eu luto.

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  8. Imperatriz Sissi e Luna, o que está em causa aqui é mais do que a questão das escravidão das mulheres islâmicas, embora isso seja do mais chocante que o islão tem.

    Luna, a religião na Rússia é inofensiva, não conquistou o poder, continua a haver muitos ateus e não são perseguidos, embora a URSS tenha caído.
    E beijar santinhos não é resistência a coisa nenhuma, é fuga à realidade, os santinhos são o ópio do povo, já dizia o outro.

    Mas Luna, com sabe o Islão é mais que beijar santinhos...

    Eu falo em proibir e combater não todas as religiões mas o avanço do Islão, religião agressiva, totalitária e imperialista que quer expandir-se e impôr o corão ao mundo inteiro. E não se esqueça que para o Islão não há pior demónio que um ateu, um infiel... então uma ateia-cientista deve ser uma super-demónio! :)

    Lembrem-se de Salman Rushdie, que ainda vive escondido! Lembrem-se da história dos cartoons:
    http://sicnoticias.sapo.pt/programas/siceuropa/article619246.ece

    Neste link que vos deixei, há um muçulmano que diz já há uma guerra de civilizações! Ele está certo. Eles já estao em guerra contra os infiéis, nós é que somos "tótós"...
    Com esta gente não há conversa possível pois são dogmáticos, a verdade está no corão.

    A liberdade individual é uma ilusão, Luna e já li aqui reflexões suas sobre o assunto...
    Não há liberdade e autodeterminação na educação de uma menina de 5 anos.
    Educar significa ensinar, amestrar.
    E que lhes vamos ensinar, que o Islão é opção?! Para se "autodeterminarem" a serem escravas?! Não!
    O Islão é caminho proibido, tal como o Nazismo.

    Extremista, eu, Luna? Sim, estou no extremo onde se ama o avanço da ciência e do conhecimento e o desenvolvimento das capacidades humanas, sem a submissão a um qualquer ser imaginário todo-poderoso.

    Estão também neste extremo Richard Dawkins (que, sem medo ou papas na língua, diz que o Islão é o maior Mal no mundo neste momento), José Saramago e muitos outros.
    Guardei duas cadeiras, uma para a Luna e outra para a imperatriz Sissi. Take your time. :)

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  9. Just José parece intolerante e pessimista, mas acredito que não é. De tudo o que li sobre o Islão, pouca coisa agrada-me. E, de facto, acredito que há correntes islámicas muito retrogadas e agressivas, em guerra com os infieis.
    A tolerancia é muito bonita, mas só funciona quando é reciproca...
    Cumprimentos

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  10. Eu só disse que alcançar o equilíbrio é difícil, e constato que não foi alcançado: nos países "do petróleo" no médio oriente, ou vivem mergulhados em ouro e têm acesso a óptima educação, mas têm casos absurdos como as mulheres não poderem conduzir; ou então vivem em guerra (sempre com os USA metidos ao barulho). Quando faço apelo à História e ao contexto cultural, é para atendermos à (des)razão da imposição do véu e às (des)razões de quem o impõe, que tem muito a ver com o exemplo dos santinhos de que fala a Luna. É um caso de, como disse no post anterior mas agora em inverso, de luta pela autonomia, mas que pode trazer retrocesso: o agarrarmo-nos a uma identidade cultural ou religiosa para combater imperialismos, ou do Estado, ou de Estado estrangeiro, e acabar por isso a tapar mulheres e a beijar santinhos, mas sublinhando a diferença apontada pelo Just José de, na Rússia não condenarem ateus à morte. Quanto à minha opinião pessoal sobre o uso do véu convido-o a lêr o 1º post da Luna 23/07/2012.

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