13 de julho de 2012

Post extremamente politicamente incorrecto

Hoje, mais uma vez no TLC, acabei por dar com com um programa sobre pessoas com deficiências graves, a combater essas deficiências. No episódio de hoje havia uma rapariga sem pernas que tinha um grande sonho. E adivinhem lá para o que lhe havia de dar? Pois, queria ser dançarina. Podia querer ser pintora, podia querer ser nadadora, jogadora de basket em cadeira de rodas, uma série de coisas, mas não, queria ser bailarina. Ok, sim, é possivel dançar em cadeira de rodas, e acho óptimo que façam competições de dança para paraplégicos e afins, no entanto, a rapariga sem pernas quis entrar numa competição de dança normal. Ela em cadeira de rodas, ele em duas pernas. Ficou em terceiro lugar. Ora, por mais mérito que tenha a rapariga, o prémio recebido foi devido à pena que toda a gente que sentiu, ignorando o que se olha a todos os bailarinos: joelhos, pontas dos pés, sem falar em lifts, etc., e mesmo eu, com formaçao de ballet dos 4 aos 15 anos, não consegui ver nenhuns braços e mãos extraordinários, tirando na arte de mexer a cadeira de rodas.
Bolas, claro que eu acho que pessoas com deficiencias devem poder fazer o que gostam, mas gente sem pernas a querer ser bailarinas é como gente surda a compor sinfonias (sim, eu sei, mas o Beethoven não nasceu surdo), cegos a querer pintar a mona lisa, alguém sem mãos a querer esculpir um David. A certa altura há que ter noção do que é possível atingir, não?
Sim, todos somos capazes de coisas extraordinárias, uns mais do que outros. E o facto de ter uma deficiência, embora não nos deva limitar, também não deve servir  para ganhar prémios não merecidos.


24 comentários:

  1. Concordo.
    Que todas as pessoas, querendo, tenham a mesma oportunidade para fazer tudo o que gostam, mas também o direito a serem tratadas com igualdade e justiça. Há que tratar o diferente como igual e nesse caso, se a inscrição da rapariga foi aceite, há que lhe fazer justiça e dar-lhe o lugar que a sua técnica merece, não um pitty place. E também justiça a todos os outros que foram prejudicados, porque foram. O pior é que nem foram pela rapariga em si, mas porque atrás dela vinha uma câmara de televisão...

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  3. Post corajoso. Concordo a 100%. A lágrima fácil e a pena não ajudam ninguém. Mas estão na moda...

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  4. Concordo inteiramente contigo. Temos de saber os limites, temos de saber o cúmulo do ridículo. E temos absolutamente de saber viver com as nossas limitações, pq todos as temos quer de uma ou de outra maneira.

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  5. A mesma coisa com o facto de ser mulher servir para ocupar um cargo num sítio A ou B porque supostamente há uma "cotação" de membros do sexo feminino que deve ser cumprida. Não gosto nada desta "discriminação" positiva. As pessoas deviam ser julgadas pelas suas capacidades para esta ou aquela tarefa, seja na dança ou noutra área qualquer, e lá está as regras devem ser iguais para todos ;)

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  6. Concordo contigo mas não acho que a rapariga tenha culpa do que aconteceu, ela quis ir à competição, tinha esse sonho e conseguiu mas alguém da organização teve de autorizar isso e o pior foi mesmo o comportamento dos júris que em vez de avaliarem a técnica dos bailarinos acharam por bem dar notas de acordo com a pena que sentiram... isso sim é ridículo =S

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  7. Espreita aqui:

    http://quadripolaridades2.blogspot.pt/2011/02/portugal-nao-tem-talento.html

    Não há nada pior que a discriminação positiva!

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  8. Talvez seja politicamente incorrecto, mas a verdade às vezes tem dessas coisas. Como dizem nos comentários em cima, a discriminação positiva é má e, acreditem, muitas vezes quem "beneficia" dela também não gosta, acabando por a rejeitar (apesar de, provavelmente, não ser esse o caso da rapariga). O que eu vou dizer a seguir poderá ser do mais insensível que há, mas a verdade é que eu acho que cada um tem que reconhecer as suas limitações e agir de acordo com isso. Ah e tal, isso é muito fácil de se dizer quando as nossas limitações não passam por deficiências. É sim senhora. Mas é também verdade que apesar das limitações, as pessoas são capazes de fazer coisas extraordinárias pelas quais podem ser valorizadas e vangloriadas sem ter que se apelar "à pena". E eu falo disto com algum conhecimento de causa - não tenho nenhuma deficiência física, é verdade, mas tenho uma grande amiga que aos 11 anos teve um acidente de carro provocado por um bêbado (e sabem o que é que ela fazia aos 11 anos? Ballet). E ao longo destes anos todos, acreditem, tornou-se numa pessoa cheia de força, capaz de coisas extraordinárias - mas nunca ganhou nada que não fosse verdadeiramente merecido. E acreditem, é a primeira pessoa a rejeitar algo que lhe seja tentado dar por causa da deficiência - porque isso acontece. E é triste.

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  9. Post corajoso e espetacular! Concordo a 100% ...

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  10. Se há algo que admiro na Luna é a perfeita desconstrução de uma ideia; a forma como a expõe e verbaliza. Não podia ser mais verdadeiro. Não há um pingo de preconceito em nada que diga. É fabulosa a visão realista. Espero que nos brinde com muitos destes posts, "de partir cabecinhas".

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  11. Concordo totalmente! Por vezes dou comigo a ter este tipo de pensamentos e logo no reverso da moeda surge o "provavelmente estou a ser muito má pessoa, a pior pessoa à face da Terra". Pelos comentários que apareceram, fico mais descansada, não sou esse monstro!
    A verdade é que não tolero pena nem sentimentos contíguos... Todos nós temos pontos fortes e pontos fracos, limitações que, quer sejamos deficientes ou não, temos de ser os primeiros a respeitar.




    querocafecomleite.blogspot.pt

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  12. Mas ela até podia querer muito ser bailarina e viver essa experiência. Não vejo nada de errado aí, por mais estranho que possa parecer por não ter pernas. Mas não quero passar por isso para perceber.

    O problema foi o júri ter-lhe dado o 3º lugar por pena e isso é uma coisa que a ultrapassa (à miúda). Na verdade, no meio disto o verdadeiro injustiçado foi o 4º lugar :D

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  13. Fuschia

    tal como não há problema nenhum eu querer ser top model e querer muito viver essa experiencia e ser o meu sonho, apesar de medir 1.56m. Acontece que como a minha única deficiencia é ser baixa, nunca sequer passaria nos castings pré-concursos.

    As pessoas têm de ter noção, e com estas teorias todas new age e do pensar positivo, por vezes perde-se a noção do que é realmente possível atingirmos, dentro até das nossas possibilidades físicas.

    Eu nem que treinasse 24 horas por dia desde os 5 anos conseguiria correr como o usain bolt, porque a genética não me favoreceu com o físico que ele tem, por exemplo, e há que ter noção disso.

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  14. Bem, aí parece-me que a culpa é da organização e do júri.

    Não concordo nada com essa de que cada um terá de ter noção das suas limitações e explicarei porquê.

    Tenho um amigo que é um dos melhores Bboys portugueses. Para quem não sabe, Bboy (ou Bgirl) é aquele que dança Bboying, mais conhecido (erradamente) por toda a gente como Breakdance.

    Ora, o André para além de ser um dos melhores nacionais, escolheu tirar design e é muito bem sucedido (e com trabalho, que hoje rareia) na sua arte.

    Nada de mais comum não tivesse o André nascido sem um braço. O direito. Uma malformação devido a um medicamento. Tem quase meio braço.

    Ainda assim, entendeu que isso nunca o limitaria. De tantas profissões, ele foi escolher duas das mais improváveis: bailarino e designer.

    Sempre fez questão de fazer tudo e mais o que os outros faziam. De ser até melhor. E é, felizmente os prémios, os contratos para performances, aulas e workshops não aparecem por pena. Ninguém o bate facilmente nem na playstation.

    A primeira vez que o vi dançar não percebi sequer que não tinha braço. Só quando parou. Felizmente e normalmente, as pessoas mal vêem isso. Nem as raparigas que o rodeiam. O rapaz é bem engraçado e tem pinta mas todos sabemos que na hora do coração ou da atracção é normal que essas pessoas sejam excluídas, nem que seja inconscientemente.

    Já conheci muitas pessoas com deficiências, todas elas têm os seus traumas como é normal e querem fazer valer-se mas o André é um exemplo a seguir (independentemente da deficiência). Ele encara a vida como um vencedor e nunca se faz valer do seu problema. Pelo contrário, apoia os outros. A primeira coisa que ele diz numa aula é "Se eu consigo, porque não hás-de conseguir" e é excelente porque ninguém se atreve a dizer que não consegue ou que "ai que tenho um joelho sensível" ou "sou mariquinhas".

    Alguns já o devem ter visto a dançar em eventos, na tv ou até no Rock in Rio onde os Jukebox foram o grupo residente do palco Street Dance. Faz parte de dois grupos de dança: Inmotion Crew e Jukebox project, para o caso de quereres pesquisar.

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  15. Alexandra

    ha casos e casos, e o teu amigo tem um braço com que poderá escrever e desenhar, e ainda usa-lo a dançar, e mais importante ainda, tem duas pernas. Atributos suficientes para ele para ser bem sucedido em ambos os campos.

    Já se quisesse muito ser campeao de barras assimétricas provavelmente teria alguma dificuldade em competir com os outros de igual para igual, ou se quisesse ser remador.

    Epá, desculpa, mas eu acho mesmo que se deve ter noção do que é possível atingir com as capacidades que se tem. E no caso do teu amigo, a deficiencia não foi impeditiva, mas em muitos outros casos é. E uma pessoa sem pernas querer ser bailarina clássica, enfim, temos pena, nem a maioria das pessoas com pernas consegue, quanto mais.

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  16. p.s. e é por causa dessa noção de que se quisermos muito uma coisa podemos conseguir e tal, que se ve aberrações que se vê nos castings dos ídolos.

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  17. Concordo que cada caso é um caso, naturalmente.

    Só entendo que as nossas limitações são sempre menores do que as que estabelecemos.

    O que se passa nesses castings tem a ver antes com outra coisa. Protagonismo, querer aparecer e uma televisão que incita a isso. A maior parte desses casos são combinados.

    Nessas questões, condeno as organizações e juris. Odeio, odeio o apelo ao sentimento. Deixei de seguir o SYTYCD americano por causa disso.

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  18. Um observação: É a primeira vez que não vejo a tua caixa de comentários cheia de ataques ao post. Ou falta de entendimento.

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  19. Há uns anos atrás escrevi um post "politicamente incorrecto". Fui bastante atacada. Gostod e ver que as pessoas começam a aceitar pontos de vista diferentes (que todos tempos) sem sentir que é maldade.

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  20. Concordo quanto à bailarina, mas os restantes exemplos falham: há pintores sem mãos, que pintam com a boca ou com o pé, logo, com mais um pouco de esforço podem esculpir um "David"; quanto aos cegos, desde que existe pintura abstracta, podem lá chegar nem que seja por acidente e, em 20 borrões, produzir um que seja genial.

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  21. Por pena também não acho correcto.

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  22. Não seja assim, Luna, que vai para o inferno.
    Temos de ter caridade cristã... puxar pelos piores e menosprezar os melhores! Sim, porque na vida eterna os deficientes ressuscitarão a 100%! :))

    Há uma "lógica" por trás deste tipo de situações e da moral vigente. O "erro-deus" está omnipresente, entranhou-se na nossa civilização:

    http://www.jesusvoltara.com.br/info/deficientes.htm

    http://blog.cancaonova.com/maosqueevangelizam/2010/03/18/jesus-gosta-das-pessoas-com-deficiencia/

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  23. Há um Professor do ISPA, biólogo de formação e cego de nascença, Vítor Almada, e que, diz quem priva ou privou com o senhor, é um magnífico ilustrador científico, faz desenhos à mão com precisão, rigor e elevadíssima qualidade estética. Go figure!...

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