13 de novembro de 2012

Being the bad guy

Isto de avaliar trabalho de pessoas é complicado. Porque tanto apanhamos pessoas extremamente habilitadas que não se esforçam e se estão nas tintas, como pessoas muito pouco habilitadas que fazem esforços hercúleos, trabalham para caraças, mas continuam a não ser extraordinárias. E é aí que nos tornamos os maus da fita, quando temos de avaliar o trabalho de forma objectiva, e sabemos que aquela pessoa trabalhou que nem uma escrava, mas a qualidade do trabalho infelizmente não o reflecte. E é assim que me sinto, a má da fita, ao fazer a avaliação da minha aluna de mestrado. Trabalhou que nem uma camela, mesmo durante o período do Natal, não tirou férias, e no entanto, objectivamente, nunca fez mais que seguir ordens/receitas. Não houve criatividade, não houve iniciativa, não houve nenhuma experiência melhorada por ideia dela, não houve nada que não tenha sido idealizado por mim - ou melhor, houve uma coisa, e estava errada. Basicamente seguiu instruções durante um ano.
E damos uma nota. Uma nota que achamos justa (7/10), mas que é inferior ao que esperam, e reclamam. E falamos com o superior, a perguntar se devíamos subir a nota, e ele acha que até devíamos descer, e ficamos sem saber o que fazer, entre o gostar da pessoa e ser justa na classificação. E depois damos graças pelo facto do superior tratar do assunto, no final a assinatura é dele, e tirar-nos a responsabilidade de cima, sendo ele a decidir, e a comunicar a decisão.
E damos graças de não ter de fazer isto todos os dias.

18 comentários:

  1. Luna, avaliar com justiça é determinante para a forma como os seus pares, os seus superiores hierárquicos e os seus reportes a verão a si. Avalie injustamente uma vez (porque a pessoa é uma querida ou é muito esforçada mas ou porque tem três filhos pequeninos e um pai doente, ou, pelo contrário, é uma ) e nunca mais recuperará a imagem de rigor e de justiça. É dificílimo, terá o efeito de Hallo a puxá-la num sentido, os efeitos de lenência, de severidade e de semelhança a puxá-la para outro.

    (mas, em verdade lhe digo, além de delicioso, é o que determina que não sejamos todos iguais...)

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  2. oh Pipoco, e esta tem dois filhos pequenos... (mas voltando a rever as notas, por mais voltas a dar, ou seria desonesta e injusta com os outros, ou a nota tem de ser mesmo aquela, e o meu chefe mais que concordou)
    mas é difícil...

    (gostaria de melhorar a nota por sentimentos pessoais, mas não seria profissional)

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  3. (caramba, o meu comentário lá em cima saiu todo truncado, tenho que ler antes de editar).

    Gostava que acreditasse quando lhe digo que não se sentiria bem consigo se alterasse uma nota por razões pessoais, seja a alteração para cima ou para baixo.

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  4. 7 em 10 não sendo bom também não é mau. Além de quem não se esforça poderá ter os mesmos 7 por falta de drive. As emoções não podem interferir mas às vezes é complicado. Havendo X parâmetros e fazendo uma média a coisa torna-se mais objectiva e mais fácil.

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  5. Luna isso só faz de si humana. O ter dado o tal 7 faz de si boa profissional. Parece-me que sai sempre a "ganhar"

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  6. Ola

    Sinceramente nunca percebi (nem concordo) a razão pela qual se influencia uma nota por questões extra-trabalho.
    Evidentemente que numa avaliação academica, e especialmente em determinados graus de ensino, se pode ter em conta outro tipo de parametros de avaliação : participação nas aulas, assiduidade, empenho etc.

    Mas a esse nivel não faz muito sentido.

    E principalmente não faz sentido nenhum influenciar notas devido a situações pessoais (ter filhos, etc etc).
    Uma coisa é proporcionar algumas condições mais vantajosas a pessoas com limitações de tempo devido a questoes de familia ou trabalhadores estudantes etc, outra coisa é mudar os parametros de avaliaçao.

    Sobre isto costumo dar um exemplo simples :

    Imagine-se dois alunos de Medicina A e B. O aluno A tem dois filhos e responsabilidades familiares, o B não tem. Então vamos permitir que o aluno A apenas saiba como funciona metade de cada orgao do corpo ???? (isto é só um exemplo).

    cumprimentos

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  7. P.S - Quero dar os parabens à Luna pela excelente blog que mantem. É um blog onde até nem há actualizações muito frequentes, mas onde se aprende sempre qualquer coisa, nem que seja como se vive em outros paises.

    Ao contrario de muitos blogs "famosos" onde realmente pouco ou nada se acrescenta.

    Parabens

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  8. Dear Luna, completamente off subject (I'm sorry). Vou voltar a Ams em Fevereiro, mas gostava de aproveitar e dar um salto a uma cidade vizinha e conhecer um bcd mais da Holanda. Aconselhas Leiden? Ou outra? Ou não valem os preços de comboio? Ou até aconselhas a alugar um carro?

    Muito obg!


    Ps. Não serei ingrata e irei agradecer-te e se quiseres posso levar-te alguma coisa portuguesa de que tenhas saudades.

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  9. Compreendo os teus sentimentos mas considero que foste correcta contigo.

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  10. A questão das emoções não se podem colocar de todo, porém a do esforço e empenho, ainda que sem resultados visíveis devem ser tidas em consideração. Com o mesmo peso dos outros factores? Muito provavelmente não.
    Mas depois lembro-me das relações amorosas, em que A faz de tudo para que a relação com B dê certo. Não se deverá ter isso em atenção?

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  11. O facto da ideia dela não ter melhorado a experiência não me parece que seja algo negativo. Como um investigador que uma vez conheci disse: "Se as tuas ideias funcionarem sempre, então estás a fazer alguma coisa errada."

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  12. O problema não é ter tido uma ideia errada, é nunca ter tido mais nenhuma ideia.

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  13. Ainda há pouco tempo tive uma discussão sobre isso. A minha opinião é a de que devemos ser sempre objectivos, por mais que isso por vezes custe e a emoção tenda a pedir para ser escutada. Costumo recorrer a um exemplo extremo - caso estivéssemos entre a vida e a morte num hospital, quem quereríamos que nos atendesse? Um médico muito esforçado, extremamente empenhado e atento mas que tem uma taxa de mortalidade entre os seus doentes de 80%, ou um médico aparentemente displicente (à la house) e descuidado, que até hoje nunca deixou morrer nenhum? Certamente escolheríamos o 2º. O esforço em si mesmo não é um acto valoroso se o objectivo que o fez emergir não for alcançado. E achar que premiá-lo pode ser justo, mais não faz (na minha opinião) do que induzir as pessoas envolvidas em erro e desestabilizar a evolução natural das coisas. Alguém tem de mostrar ao Sísifo que talvez haja algo de errado e vão no seu esforço - para bem dele próprio e dos que vivem no sopé da montanha.

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  14. Falta brio à sua aluna. O mais complicado será explicar a nota na medida em que realmente se esforçou mas nunca se superou ou arriscou - mostra outro tipo de empenho, diria mesmo personalidade.

    A forma como fazemos chegar essa avaliação também é importante. Se a está a orientar profissionalmente (e já notei que simpatiza com a aluna), deve abordá-la com incentivos. «Vejo que foi incansável, mas precisa melhorar os seguintes aspectos», até mesmo perguntar-lhe por que motivo não arriscou mais, não se questionou.

    Podemos ser justos sem que fiquemos com peso na consciência por isso. Afinal, não a está a prejudicar.

    Andreia

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  15. Não tenho alunos mas tenho estagiários e dou-lhes notas de estágio curricular que contribuem para a média de final de curso. Sei perfeitamente do que estás a falar. Um dos meus últimos estagiários "desamigou-me" quando soube o valor que lhe atribuí, porque era muito prestável, chegava sempre a horas, e achava que nos tinhamos dado bem, mas era só isso. Ficámos os dois tristes, mas não seria justo de outra maneira.

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  16. Estou a deparar-me exatamente com esse problema la na minha empresa. tenho de avaliar os funcionários ate ao fim do ano e sinto que é extremamente complicado tentar ser o mais justa possível. Há pessoas prestáveis a toda a hora, oferecem-se para tudo mas que cometem muitos erros e há aqueles mais reservados, mas que fazem o trabalho deles e mais algum sem ninguém lhes pedir e a quem não há erros a apontar. Depois, para complicar tudo o resto, vem o feitio de cada pessoa e a forma como reagem ao que lhes é dito. Tudo isto é uma verdadeira complicação.

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  17. Há muitos comentadores que confudem um desabafo com falta de racionalidade da autora.

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  18. Avaliar é sempre complicado. Mas já dizia Piaget "A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores"

    Criei um blog à pouco tempo se pudesses passar por lá e dar a tua opinião eu agradecia ;)

    Beijoo
    http://euacreditoproject.blogspot.pt/

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