20 de fevereiro de 2014

A vida dos outros

O caso Tordo é mais uma triste lembrança do quanto o nosso povinho comentador de redes sociais gosta de se meter na vida dos outros, dar palpites, e fazer juízos de valor sobre as suas opções e a forma como decidem ganhar a vida. Faz lembrar aquelas pessoas que relativamente ao meu percurso académico/profissional gostam muito de comentar - anonimamente, claro está - que nunca trabalhei na vida e vivi sempre à conta de bolsas* e do que me "davam". Preocupem-se com as vossas vidinhas e deixem as dos outros em paz, sim? Pelo menos enquanto não vos estiverem a pedir dinheiro.


*já agora, nunca tive bolsas, mas ordenado, que na Holanda investigação é considerada trabalho e pagava impostos como toda a gente (e não eram poucos), e nunca niguém me deu nada.

19 comentários:

  1. Isso é que me espanta, esta capacidade de meter o bedelho na vida das pessoas, como se lhes pagassem as contas. Falta-lhes vida para se entreterem.

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    1. Pois. Há tempos apanhei noutro blog uma tipa a comentar a minha vida como se soubesse imenso dela e a dizer coisas tipo "ah, eu tinha vergonha de nunca ter trabalhado, de não ter a minha casa, de viver do que lhe dão". Nesse dia descobri que vivia de esmolas e tinha sido sem abrigo na holanda.

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    2. Faziam melhor se comentassem a própria vida, isso é que era de valor ;)

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    3. Existia alguém de um blog a comentar a tua vida? Estou chocada, com tanto assunto para um blog acho que fantástico que comentem a vida de outra blogger. Mas isso quer dizer que já és blogofamosa Luna? ahahah

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  2. Traço geral, parece-me bem, mas só tenho um aspecto extra a considerar tendo tu mencionado o caso Tordo (e não tenho qualquer animosidade em relação a Tordo pai ou Tordo filho, antes pelo contrário).

    Quando tu abres a porta e tiras vantagem de um meio público (online) para propagar uma mensagem - neste caso a carta de despedida ao pai estás a abrir as portas quer aos defensores, quer aos opositores. Se o fazes de forma consciente sabes perfeitamente que a par da onda positiva onde muitos se identificam com a tua experiência, a tua vivência ou a mensagem que queres passar, também vai ser despejado muito lodo.

    "A vida dos outros" torna-se um linha muito ténue quando se expõe parte dela online. Se te estiveres a borrifar para o que dizem na Internet não faz diferença nenhuma, mas é claro que vai haver gente a deturpar, perverter ou recriar a realidade à medida da sua vontade.
    O activismo de sofá é tão cómodo como o trolling e o online tem aquele grande bónus do anonimato e da distância que permite mandar pedras à discrição.

    Mas isto sou eu que também nunca tive bolsas, mas quase que já usei uma pochette daquelas à jogador da bola ;)

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    1. E sendo figuras públicas torna-se ainda maior o efeito, mas causa-me muita confusão o calor que o pessoal põe nos seus comentários e julgamentos à vida de quem não conhece de lado nenhum, bem como as certezas inabaláveis que têm sobre as suas vidas.

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  3. Dá raiva não dá? A porcaria dos bitaites alheios se pagassem imposto é que eu queria ver.

    12 LOVE

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  4. Tenho o mais profundo nojo por este tipo de gente. É só isto.

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  5. Gostava tanto que todos os portugueses vivessem a vida de um "bolseiro" só por uma semana.Por exemplo: hoje cheguei às 8h30, ainda estou no lab e ainda vou ficar mais umas horas a "bolsar". Os portugueses têm este defeito horrível de acharem que sofrem mais do que ninguém e que só eles próprios é que trabalham. Contudo, quando um "bolseiro" aparece nas notícias estando envolvido numa descoberta importante, somos todos os maiores...

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  6. Quem sobe ao palco da vida e ali interpreta os seus dramas reais não pode estar apenas preparado para aplausos. E muito menos fazer-se de ofendido quando é vaiado. Cada um com a sua opinião, e para a próxima, se não quiserem ouvir opiniões que não agradam, ficam sugaditos e vivem a sua vida como as pessoas normais. Gossip sempre houve, agora com a net tem é mais praticantes, e um gajo sabe logo o que andam a dizer nas suas costas.

    (nota: não tenho opinião sobre o caso, porque não li a carta. um problema que eu tenho, começo a ler qualquer coisa do JT e sou acometida de um ataque de tédio)

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  7. A atitude de quem comenta é feia, publicitar a partida para o Brasil como forma de protesto era escusado. Como se não se soubesse que Portugal não tem estrutura para suportar carreiras artísticas, yada, yada, yada.

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  8. Eu venho muitas vezes ler. Mas fico deste lado de cá. Não queria generalizar mas é como aqueles casos que vão para a TV contar a vida deles toda e depois ainda se submetem ao polígrafo. "Animosidades"....

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  9. As pessoas ainda não perceberam que o sistema de bolsas é a escravatura de trabalho altamente especializado

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    1. Essa é a melhor definição de sempre. :(

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    2. Tinha um contrato que acabou e como oferta fizeram-me uma de bolsa para fazer o mesmo. Não concorri, não quero bolsas, tenho anos demais para ir para o sistema de bolsas com as quais concordo só para obter graus (mestrado quando havia, doutoramento agora, tive-a para o fazer). Toda a gente me chama corajosa, menos o dito cujo que me propôs a bolsa e não percebe porque é que não concorri.
      Só estou a mostrar que não trabalho a qualquer custo e que quero dar-me ao respeito e não aceito a desvalorização a que estou a ser sujeita ao fim de alguns anos (ia ganhar menos, ainda por cima, se contabilizado o valor anual). Estou desempregada com o subsídio de desemprego porque acredito que vou voltar a conseguir um contrato.
      Não compactuo com a escravatura citada, que é um facto. Mas que também só existe porque houve uns pioneiros a aceitá-la...

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  10. Só soube que ele se ia embora quando li a carta, por isso a ideia que tenho é que nem houve alarido nenhum à volta do assunto, o senhor decidiu ir embora e foi. É um acto de coragem alguém se fazer à vida aos 65 anos, seja músico ou carpinteiro.

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  11. Bom dia, A questão aqui, tal como alguém referiu, quem não quer ser comentado não se "mete a jeito". O filho escreveu uma carta onde se queixou que o pai sobrevive, em Portugal, com duzentos e tal euros de reforma (mais os direitos de autor pagos pela SPA). O que ele não disse, porque não interessa para nada, é que o coitadinho do senhor que tem de se ir embora porque recebe uma miséria de pensão, é que, ao longo da sua vida activa ao serviço das artes e espectáculos, se esqueceu de descontar devidamente para a Segurança Social. Essas reformas pequeninas pequeninas são pagas a quem, ou não descontou porque não trabalhou, ou porque recebia muito pouco e os descontos eram proporcionais. Não me parece que seja o caso dele... Nem de outros. Uma maçada!

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  12. sim, é o "comentarismo" nacional no seu melhor.

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  13. Palmas, muitas palmas.
    (adoro quando me dizem, paternalizando-me: ah, mas tu não és como os outros, porque tu estudas [PhD] mas também trabalhas. Fuck-you-all, que não há pachorra para ignorância orgulhosa)

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