7 de março de 2014

The ugly truth

in "There is a culture of acceptance around mental health issues in academia"

11 comentários:

  1. O meu doutoramento não implicou experiências, mas implicou que durante três anos estivesse todos os dias pelo menos 8h em frente a um computador. Deixei de sair, de ir ao cinema, de jantar fora, de fazer aquelas coisas normais, pelo simples facto de que se estivesse a fazê-las me sentiria culpada por não estar a trabalhar. Nem sei como é que o meu namoro aguentou, já que durante o último ano convivia cerca de meia-hora, ao jantar, com o meu namorado. No fim, quando tudo acabou, andei seis meses sem saber o que fazer com o tempo livre. Não era capaz de passar por tudo outra vez...

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  2. O meu doutoramento meteu grandes discussões com o meu supervisor, choradeira, pedidos de desculpa por parte dele, ataques de pânico a meio da noite a pensar que nunca mais ia terminar aquilo. Enfim. Tudo isto numa relação à distancia que durou 5,5 anos, com os dois últimos a tentar engravidar. Vá-se lá ver: assim que defendi, engravidei num mês. Sim, fazer um doutoramento é uma prova à sanidade física e mental...
    Cláudia

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    1. Nunca chorei em frente ao meu orientador, mas eu, que não sou pessoa de chorar, cheguei a ter de me fechar na casa de banho a chorar depois de reuniões particularmente stressantes. Também deixei de dormir a certa altura, a acordar às 3 ou 4 da manhã sem conseguir dormir mais, e a deixar de conseguir conviver normalmente porque não conseguia parar de pensar naquilo, e me sentia culpada quando saía. Quando vim para portugal acho que estava a chegar ao fundo do poço, e teria sido mais grave se não tivesse decidido mesmo fazer uma pausa. Acho que tenho andado a recuperar os 5 anos de sono. :)

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  3. Infelizmente não é só nos doutoramentos. Não imagino sequer o stress e a instabilidade financeira pela qual passa a maioria dos doutorandos, mas avaliando a minha experiência e a dos meus amigos próximos ao nível da licenciatura e mestrado posso dizer que o problema é mesmo geral. Tirando aquelas pessoas que passam os anos de licenciatura e mestrado meios bêbedos e sem saber muito bem o que estão a fazer, o que eu vejo são pessoas extremamente stressadas,com fraca auto-estima, problemas de sono, depressões ou tristeza permanente, ansiedade constante e muitas vezes uma perda de perspectiva da vida, no geral, como se tudo deixasse de fazer sentido. E quando isto é assim para a maioria, ou pelo menos para a maioria das pessoas que se preocupam e gostam de fazer as coisas bem, alguma coisa está errada. É muito triste que seja assim e ainda mais triste que este tipo de situação seja tão frequente que tenha começado a ser aceite como algo vulgar e normal.

    Vi algures um estudo que defendia que em 2012 ou 2013 os níveis de stress dos alunos de final de secundário/inicio de licenciatura eram iguais aos níveis de stress dos doentes mentais internados em hospícios e submetidos a tratamentos de choque, nos anos 50, mas não sei até que ponto é que as conclusões são credíveis nem em que tipo de trabalho cientifico e de pesquisa é que foram baseadas.

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  4. Estou a 6 meses do prazo final de entrega do doutoramento. Será o fim de um percurso de 4 anos. Nos dois primeiros anos trabalhei em part time e nunca nessa altura me senti tão mal como agora. Vá lá que ainda tenho tido o discernimento de ir ao ginásio quase todos os dias por saber que me ajuda a manter a sanidade mental e o bem estar fisico. Mas ainda assim sinto me sempre tensa, eu que nunca tive problemas pa dormir tenho tido, comecei a ter problemas de estomago... há dias em que me sinto mesmo uma desgraça! Estou mortinha para terminar isto mas vivo com o sufoco de não conseguir cumprir o prazo... mas há dias que o que me assusta ainda mais é: e depois??? Como vai ser???

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  5. Bem...uma vez que estou a reformular a tese que já tinha entregue...posso dizer que é preciso paixão, temos de acreditar em nós e naquilo que estamos a fazer. Ajuda-me pensar sempre no 1º conselho que recebi quando o comecei: "isto é importante, vais ganhar e perder pessoas ao longo deste processo, mas lembra-te que isto não é tudo na vida". Ajuda ter uma boa relação com o orientador, e eu felizmente tenho...aliás é ele o meu motor. E ajudou-me começar a correr e a nadar, a treinar diariamente, é o que me mantém mentalmente sã. De resto, a minha vida não é isto, trabalho em full-time com exigências diárias e é esse que me paga as contas.E depois de um ano de clausura (casa-trabalho-casa) decidi que tenho de viver, por isso agora divido o tempo entre o estudo e aquilo que me dá prazer (amigos, saídas, concertos, desporto) e acredita o meu rendimento aumentou. Temos é de acreditar em nós!

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  6. Como alguém prestes a embarcar num doutoramento, estes relatos metem-me nervosa. Não sabia que podia ser assim tão mau.

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    1. Pode, especialmente quando a relação com o orientador é má.

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    2. Várias pessoas já me tinham realmente dito que uma das coisas mais importantes na escolha de um doutoramento é a supervisão. Até mais do que a universidade em si. Começo a perceber então que deve ser não só das coisas mais importantes, como se calhar o fundamental...

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    3. É mesmo, uma boa relação com o orientador - que eu não tenho - é crucial para que as coisas corram bem. Há alturas em que a motivação esmorece, os resultados teimam em não chegar, e ter alguém que nos motive em vez de nos puxar para baixo é muito importante.

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  7. O meu foi um pesadelo. Muito longo. Eu sei que os phd nos US e particularmente na minha area sao muito longos. Sao todos feitos em part-time basicamente, em que das aulas enqto tb fazes o doutoramento, mas as circunstancias do meu foram horriveis. Em parte por causa de uma total falta de orientacao tb. Em parte porque fiz uma pausa a meio e custou muito mais depois a recuperar. Em parte porque fiquei doida com o processo. Em parte porque escolhi mal o tema. Em parte porque tentei fazer 2 phds num. Enfim. Todos cometemos erros. Pena ter perdidos os a minha quase decada dos 20 anos e BMI<25 nessa brincadeira. Mudou-me para o resto da vida. Sou muito mais forte agora, mas tambem muito mais traumatizada, e nao o tempo nao apaga cicatrizes no cerebro.

    Nao deixes arrastar. E' uma espiral sem fundo.
    Ha luz ao fundo do tunel... ha tempo para mudar tudo. Forca, termina de qq jeito e comeca uma vida nova!

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