31 de maio de 2014

You can't always get what you want

Escolhemos o lugar com tempo, não demasiado perto que eu tivesse claustrofobia, não demasiado longe que não se conseguisse ver nada. Ali à nossa volta era tudo trintões para cima, calmos, numa de ver o concerto tranquilamente. Apareceram-nos umas pitas irritantes espanholas que não paravam quietas, todas de minissaia, insistiam em tentar pôr-se às cavalitas umas das outras, incomodando o pessoal à volta, e ocasionalmente caindo-lhes para cima. O pessoal inspirava e expirava, e lamentava a sorte por ter calhado ao pé de pitas histéricas, eu incluída. O tempo todo a tirar fotos, fazer macacadas, saltar, mandar foguetes e apanhar as canas, mas a verdade é que estavam sempre na delas. Quatro amigas a divertir-se num concerto de Rolling Stones, e isso bastava-lhes. Até que apareceram uns rapazes, que certamente as terão visto como presas fáceis, já com uns copitos, e vai de assediar, agarrar, um deles a segredar ao ouvido de uma, aproveitando para se roçar e a agarrar, enquanto ela o tentava afastar, cada vez mais incomodada, naquela fase do "tentar sair diplomaticamente antes que ele me pregue um murro nas trombas" que todas nós conhecemos, ao ponto de me sair um "larga a miúda, caralho!" (sim, também sei usar vernáculo). E sim, vá que a largou.
Percebo agora, felizmente, via blogosfera, tão nobre e instruída, sofisticada e moderna, que elas afinal estavam mesmo era "a pedi-las" e que eu, "puta que pariu" de feminista ressabiada, devia era estar caladinha no meu canto de gorda-feia-intelectual-mal-fodida-whatever, que estavam a ter o que mereciam e coiso e tal, e até deviam estar gratas pela atenção, amassos e roçanços incluídos, para fazer bem à sua auto-estima, e se não querem que as olhem que vão de burqa. Porque é maravilhoso ser mulher e estar tranquilamente na sua a curtir com amigas e (sem) ser incomodada, a não ser, claro, que esteja mesmo a pedir para sê-lo: ou seja, ser mulher.

(e não faço links directos para o nojo do texto porque não estou para me chatear e amanhã vou para um casamento  e só volto domingo e tal e não vale a pena)

*mas está tudo dito aqui

42 comentários:

  1. É muito feio ler coisas que nunca, em tempo algum, foram escritas.
    Se quiser debater o assunto com honestidade intelectual e sem fundamentalismo vamos a isso. Posso muito bem despir a pele do boneco e trocar impressões sobre o assunto consigo.
    Mas o que está a insinuar é feio. E advém das suas conclusões, não do que foi escrito. E, cara Luna, as pessoas são responsáveis pelo que escrevem, não pelo que os outros lêem.

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  2. Cara Picante, a única coisa a discutir é o teor daquele post, e o que nele está escrito, e que, muito preto no branco, diz "puta que pariu as femisnistas". E que durante diz o mesmo a todas as ideias que defendo muito (defendemos, nós essa tribo das "feministas", e da ideia que faz de nós).
    Sim, a pessoas são responsáveis sobre o que escrevem, e este post é prova disso, não há uma frase no post que não me choque em termos de direitos de mulheres, e a forma como o feminismo é concebido, etc.
    Lamento, mas na minha concepção do mundo o post é simplesmente abominável.
    Se o quiser discutir frase a frase, be my guest, mas honestamente acho que não vale a pena, estamos nos antípodas da opinião sobre o assunto.

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    1. Cara Picante, confesso que não tenho tempo, nem paciência, para me alongar em discussões que não levam a lado nenhum. O post é extremamente infeliz, e não há sarcasmo que lhe tire a boçalidade.
      Eu também gosto muito de ser mulher, e tenho demasiado respeito por quem lutou para que tenhamos cada vez direitos mais iguais para poder discutir academicamente um post que acaba com "Feministas? Ide com os porcos, pá! Ou para a puta que as pariu. Dá-me igual.", porque é dirigido a mim e a todas as mulheres que todos os dias se batem por um mundo mais justo.

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    2. Eh pá, desculpem lá estar-me a meter, mas uma coisa é lutar pelos direitos das mulheres, uma coisa é ser activista pelo que as mulheres passam em países terceiro mundistas, uma coisa é lutar contra a violência doméstica, outra coisa completamente diferente é dizer ai coitadinha de mim que me mandaram uma boca a propósito das minhas mamas... A sério... Não brinquemos com coisas sérias, não?

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    3. Mas essas bocas são exactamente um sintoma de uma mentalidade retrógada que julga que o corpo de uma mulher é espaço público. Infelizmente ainda vivemos num mundo em que uma mulher não pode sair à rua com a roupa que lhe apetece sem ouvir bocas porcas de mentecaptos. Por isso, não acho que ficar indignada com isso seja fazer-se de coitadinha. É um comportamento que tem que ser combatido.

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    4. Smelly Cat,
      Nada justifica uma agressão verbal ou física, Nem uma mulher em bikini no meio do Marquês de Pombal. Mas quem não quer olhares, evita-os, não é?
      E dizer, ai coitadinha de mim, que tenho de trabalhar mais, ganho menos, não me levam a sério porque sou bonita, se sou gorda sou gozada, é uma mulher fazer-se de vítima. Caramba, na nossa sociedade há igualdade.
      Os homens não são todos uns sacanas opressores das pobres mulheres. A grande maioria são pessoas normais, com defeitos e qualidades, tal como as mulheres.

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    5. Bom, se as pessoas só são responsáveis pelo que escrevem, e há tanta gente - eu incluída - a ter interpretado o escrito de uma certa forma, a tal honestidade intelectual exige que se ponha a mão na consciência e se pense um bocadinho. Se se tiver mão e consciência, claro; e não se tiver o hábito de se achar infalível.
      A minha sobrinha tem 13 anos, um peito a começar a aparecer, umas pernas compridas, e gosta de andar de calções no verão, usa calças skinny como aliás todas as suas amiguinhas, e usa t-shirts às vezes justas, às vezes largas. Há calmeirões com mais do dobro da idade dela que a olham como se fosse um bife suculento, terei de a avisar para ter mais decoro e não se fazer de coitadinha, ou deverei antes adverti-la que há gente doente, e que ela não tem culpa nenhuma disso? É que se calhar estamos errados, mas até agora a família tem encarado a situação como eu pensava que devia ser encarada: olhar nos olhos esses nojentos a ver se percebem que ainda acabam de cabeça rachada.
      Até Lady Godiva, senhora, até Lady Godiva teve a liberdade de se passear nua em seu cavalo, e recordai o que aconteceu ao trangressor que ousou olhá-la.

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    6. Smelly Cat, a mim, o que me tira do sério é meter tudo no mesmo saco... Uma coisa é falar de piropos, outra coisa é falar de violações e burkas e o diabo a quatro. E as mentalidades estão a mudar. Esta conversa dos piropos e das coitadinhas já não faz sentido nenhum. Sim, infelizmente é cultural, sim infelizmente partimos (passado) de um plano inferior, mas este discurso já não faz sentido... Temos é que olhar para a frente e usar as nossas capacidades em benefício de toda a sociedade... E todas sabemos que damos quinze a zero em inteligência emocional aos gajos, certo?

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    7. Não está a mudar, NM. Trinta anos depois, a minha sobrinha de 13 anda sujeita ao mesmo que eu me sujeitei e ouvi. Isto rasga-me o coração.

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    8. Não acho que as mentalidades estejam a mudar assim tanto e tão depressa. O exemplo que a Izzie deu acima é a prova disso e como esse há muitos outros.

      E vamos ver se eu consigo explicar isto: a estrutura de pensamento que está por trás desta mentalidade (a do piropo) é exactamente a mesma que está por trás daquela do "ela estava a pedi-las" que serve de "justificação" às violações. Ou seja, é diferente em termos de escala, mas igualzinho em termos de mentalidade.

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    9. Izzie, tem toda a razão, o que descreve não é aceitável (e eu nunca disse que era, já agora, para mim um piropo é uma frase galanteadora, não é uma ordinarice).
      Mas tipos mal educados, sempre houve e sempre haverá, como também há mulheres extraordinariamente mal educadas. Quando escrevi, não pensei em crianças, confesso, pensei em mulheres. Vi muitas, a vestirem-se com curtas mini-saias ou brutos decotes, inclusive no local de trabalho. Caramba, se eu usar um vestido pelo rabo, poderei queixar-me que as pessoas olhem?

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    10. Smelly, aí discordamos profundamente. Dizer que um "ó boa" não causa danos por aí além ou dizer que admitir isto é o mesmo que um "estava a pedi-las", quanto a mim, não tem nada mas nada a ver.
      Violação é crime "ó boa" não é nada, quando muito é aborrecido.

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    11. É o que eu digo... Meter tudo no mesmo saco é ofensivo! (Obviamente crianças à parte, Izzie)

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    12. A Mais Picante,
      já vi uma miúda que saiu à rua com uma saia täo curta que deixava ver as nádegas. Nem sei se tinha cuecas. Foi à minha frente durante algumas centenas de metros, e durante esse percurso vários homens olharam disfarcadamente, mas nenhum assobiou ou disse fosse o que fosse. Estou convencida que a miúda atravessou a cidade sem ser alvo de violencia verbal, apesar da figura em que ia. Foi em Weimar.
      Ontem levei o cäo a passear num lago cá perto de casa, onde há nudistas. Havia um grupo de homens näo alemäes sentados a gozar o panorama, e havia uns rapazolas também näo alemäes a passear ao longo do lago e a fazer comentários sobre os corpos que viam. Uma velhinha contou-me que às vezes o pessoal se chateia e corre com os mirones.
      Também já vi portugueses no estrangeiro a fazer figuras tristíssimas, porque comem as mulheres com os olhos e fazem abertamente comentários em países onde esse comportamento é uma ordinarice e uma anomalia. Ninguém lhes perdoa isso, e däo péssima imagem do seu país.
      A reaccäo dos homens a um decote, uma minisaia ou um corpo nu é um dado cultural, e näo uma qualquer ordem natural das coisas. Cabe a nós decidir que tipo de sociedade queremos dar aos nossos filhos.
      Quanto ao "ó boa" ser apenas aborrecido: discordo. O "ó boa" é uma invasäo da integridade da mulher. E a mulher que o ouve näo é uma "coitadinha" choramingas - é uma pessoa consciente da sua dignidade, que sabe que näo tem de se sujeitar a essa falta de respeito no espaco público, e que quem diz "ó boa" é que está mal.

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    13. Helena,
      Eu não digo, em lado nenhum, que o assédio é aceitável. Digo que equiparar um "ó boa" a uma violação ou assumir que o tipo que diz "ó boa" tem como passo seguinte a violação é um ultraje.
      Na minha opinião, obviamente.

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    14. Se näo diz que o assédio é aceitável, o que quer dizer com "näo há cu que aguente ouvir a conversa das pobrinhas que se ofendem com piropos na rua, que lhes olham para as pernas ou para as mamas, que são gozadas em sendo gordas ou desejadas em sendo bonitas" e "em não tendo segurança para sustentar os olhares provocados por um bom decote é tapar as mamas"?
      No seu post, em momento nenhum criticou o comportamento masculino de assédio. Refere-o sem o criticar, optando por atacar em termos muito violentos as mulheres que protestam contra esses comportamentos, por considerarem que säo vítimas de assédio sexual.
      Näo sei quem equiparou o "ó boa" a uma violacäo, mas sem dúvida que a atitude subjacente ao "ó boa" atirado contra uma desconhecida tem a mesma raíz da violacäo: violencia contra as mulheres. Na minha opiniäo, obviamente. Mas comeco a admitir que nem todas as mulheres sejam como eu, e que haja realmente quem goste de ir para a rua oferecer o corpo aos olhares despudorados e aos comentários desbragados de qualquer homem que passe. É o seu caso? Sente-se suficientemente segura para aguentar um olhar de mergulho no seu decote, um "belas mamocas, que bem tas fodia"? Sente-se apreciada na sua feminilidade, e grata por isso?

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    15. Sobre o "ó boa!", a violencia contra as mulheres, e porque é que näo podemos permitir esses comentários no espaco público:
      http://whereisyourline.org/tag/street-harassment/

      Basically, with every rude comment or leering stare, the harasser is saying this: “I have the right to say what I want and do what I please here, and you just have to deal with it.” He is saying, “your body is mine to look at and to comment on without your consent.” And he is saying, “you’re going to like this attention I’m giving you, you should like this attention I’m giving you, and if you don’t, there’s something wrong with you, not me. You’re too uptight, too frigid, too whatever. Your reaction is the problem, not my behavior.”
      Victims of street harassment are often made to feel like they have no right to be upset, like they should just shut up and take it when people speak to them like that. But we need to fight back against that notion and call it out for what it is – a large, steaming pile of bullshit. I’m asking you (all of you – men, women, gay people, straight people, ALL people) to do this: take street harassment seriously. Don’t harass people, don’t let other people be harassed, and don’t let yourself be harassed. Stand up, fight back, and make a difference.
      Our streets and our world will be much better for it.

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    16. Helena, esta conversa já má cansa. Acha mesmo que aquilo que escrevi é um discurso sério sobre o tema? É que se acha está enganada. Aquilo não é um discurso ou critica seria, nem aqui nem na China, e não passa de uma opinião extremada e provocadora do que eu acho que é a visão da mulher no discurso de "coitadinha". Discurso esse que me incomoda e que acho ser origem de discriminação.
      Se quiser discutir o tema com seriedade, cá estou.
      (desde que me deixe considerar o piropo como um mero aborrecimento e não como o último flagelo da humanidade, claro; até porque as bocas ordinárias já são puníveis por lei, eu não tenho a culpa de as pessoas não apresentarem queixa ou do sistema não funcionar)

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    17. Mais Picante, ao que julgo saber - e posso estar enganada - a Helena não estudou direito e nem vive em Portugal, pelo que não terá muito contacto com a nossa lei penal. Mas eu, que cursei os ditos estudos, não estou a ver onde é punido o comportamento da boca ordinária. Agradecia que me fizesse o enquadramento penal / contraordenacional, por favor, que se calhar eu devia voltar aos bancos da faculdade.
      (é escusado falar no crime de injúria, p.f., porque este não abarca bocas ordinárias, a menos que o ordinário diga qualquer coisa como 'és uma valente puta')

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    18. Izzie, não sou advogada, não deve estar à espera que vá consultar códigos. Posso disser-lhe que já apresentei uma queixa na polícia por ouvir um "F###-te toda", com arrolamento de testemunhas e tudo, por indicação da própria polícia. Alguma lei foi infringida ou a polícia ter-me-ia mandado ir passear. Posso estar enganada mas diria que o que me fizeram foi assédio...

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    19. Então se não sabe, não afirme as coisas como se soubesse. O assédio não é punido por lei. Presumo que essa queixa não tenha ido a lado nenhum? Se não foi, tal não se deve ao sistema não funcionar, mas porque a conduta não é punida.
      (não deixa de ser profundamente irónico e até muito cómico, que a Picante ache esta discussão inócua e esteja convencida que o assédio é punido por lei, quando não é; e "deste lado", as tais fundamentalistas, defendam exactamente que o assédio seja punido. Como já disse alguém, a ignorância é atrevida)

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    20. E, já agora, na minha tábua de conceitos, alguém vir tentar arrumar um adversário numa discussão com um argumento falso, e sobre factualidade ou assuntos técnicos que desconhece, ou com base numa simples suposição sem qualquer suporte, enquadra-se em desonestidade intelectual. Algo que foi muito lesta a imputar a alguém, mas pelos vistos anda com falta de insight.

      Como me sinto profundamente pedagógica, aproveito para informar. Sim, o que lhe fizeram foi assédio, e não, não é punido por lei. A polícia não tem formação jurídica e não pode recusar receber participações; não faz parte das suas atribuições (embora não sejam raros os casos em que tentam dissuadir os queixosos, mas isso é falta disciplinar). Estas participações são enviadas para o Ministério Público, que é o titular da acção penal. Face a esta queixa, e não havendo enquadramento legal, arquiva-se. Simples. Se o MP quiser complicar, pode notificar o queixoso para se constituir assistente, caso entenda ter havido injúria. O queixoso, se nada fizer, tem o procedimento arquivado, simples. Se se constituir assistente, terá também de deduzir acusação, correndo o sério risco de não ser considerado que um comia-te toda com f seja uma injúria, dado a lei penal estar sujeita ao princípio da tipicidade, i.e., as previsões legais não são elásticas para abranger aquilo que se possa achar que deve abranger (tipo, ah, mas devcia ser uma injúria, porque é muito ofensivo: não é assim que funciona; a actuação só é punida se se reconduzir perfeitamente a um tipo de crime previsto e descrito na lei. e pronto, mais explicações, só pagas, que já isto veio da minha gaveta das memórias, visto que de há 15 anos a esta parte o direito penal não faz parte do meu dia a dia)

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    21. Presume mal. A queixa não avançou porque, na realidade, eu só quis pregar um susto ao tipo e quando me chamaram disse que não queria avançar.
      Dificilmente o relato de uma experiência pessoal poderá ser apelidada de desonestidade intelectual, mas a sua tábua de conceitos será a que será, é assunto que não tenho interesse em debater,
      (e esqueci-me que aqui todas as palavras são pesadas e estudadas, de modo a serem arremessadas de volta, efectivamente não deveria ter dito "boca ordinária", o termo é demasiado lato, deveria ter dito injúria, a falha foi minha)
      (quanto ao resto, não me leve a mal que não é nada pessoal, mas vou ignorar a sua arrogância e respectivo atestado de estupidez, não estou para isso, o assunto já enfastia)
      Tenha uma santa noite.

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    22. Juro que agora fiquei mesmo confusa (e nem estou a ser irónica, bem, só um bocadinho).
      A ver se eu percebi bem: a Picante tem vindo a afirmar, over and over, que a questão do "piropo" - e atenção, eu não gosto do termo, porque tanto engloba um "és bonita" como um "fodia-te toda", pelo que preferiria o termo assédio verbal - é um mero aborrecimento, não uma questão prioritária a ser comtemplada na lei, como nós, as fundamentalistas (como nos tem apelidado e defendido no seu blog), defendemos. E no entanto confessa aqui já ter apresentado queixa na polícia ao ser vítima desse tipo de comportamento, o que, a meu ver, quer dizer que, de facto, no seu entender, deveria ser punido - porque ninguém apresenta queixa na polícia contra um comportamento que não acredita dever ser punido em termos legais. Ora, se isto não é uma enorme incoerência*, então, não sei o que é. E estou quase certa que estas fundamentalistas daqui nunca chegaram tão longe em termos de acção concreta contra "piropos" de que tenhamos sido alvo. Embora - e aqui presumo por todas novamente - apoiemos a sua atitude, e a defendamos (apesar de sabermos que a lei não a protege, porque o assédio verbal simplesmente não é comtemplado).

      *e sim, poderia aqui falar de desonestidade intelectual, mas a expressão ficou gasta nesta discussão, e apelidar a sua série de posts sobre a perigosidade do nosso "fundamentalismo" de sensacionalismo e caça de protagonismo e visitas, mas estamos cansadas desta guerra, especialmente com pessoas que, a avaliar pelo que nos contou aqui, afinal até concordam connosco sem se aperceber.

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    23. errata: contemplada.

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    24. E sabe o que é que foi pior mesmo? Foi que os seus posts continuados foram nocivos, nocivos relativamente ao debate sério destas matérias, nocivos relativamente ao que as pessoas que a lêem (e que dobraram nestes dias) pensam relativamente ao assunto, ao taxativamente arrumar-nos como um bando de malucas que que querem coisas estapafúrdias, só porque arrecadou embirrações pessoais. E isso é uma pena, porque poderia ter capitalizado o seu protagonismo momentâneo a favor de uma causa justa, mas escolheu fazê-lo através do oposto. Uma vitória das "forças do mal" portanto. Razão para chegar a casa e fazer um brinde a si própria, sobre o valer tudo neste pequeno mundinho da blogosfera: "Yay you, fizeste uma bela merda".

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    25. A minha arrogância é ter-me licenciado e estudado direito, e saber mais disso que V. Exa. A minha arrogância é mostrar que a pessoa que vem mandar larachas não sabe do que está a falar. A minha arrogância é dizer-lhe que não tem razão, apoiada em factos. Arrogância, na minha tábua de conceitos, é alguém achar que pode falar de cátedra sobre assuntos que não domina, e nem sequer admitir que estava errado quando esclarecido por quem sabe.
      E sim, passei-lhe um atestado de estupidez, porque não sabe do que fala. O seu caso foi um em que o MP registou e autuou a queixa, e mandou ouvir o ofendido. É norma perguntar ao ofendido se quer o prosseguimento da acção penal, e V. Exa disse que não. Se dissesse que sim, provavelmente terminaria com um arquivamento ou absolvição, pelas razões que já apontei. Portanto, não venha dizer que o sistema não funciona, que há leis que a protegem, porque tudo isso é falso. E se só voltei à carga é porque não gostaria que alguém, lendo esta caixa de comentários, ficasse convencido do contrário, só porque alguém que não sabe do que fala vem dizer que o preto é branco: não basta afirmar, há que demonstrar.

      Portanto, de uma vez por todas: o assédio verbal / moral não é punido.

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    26. Izzie a sua arrogância vem da maneira como fala. Mais nada,
      De acordo com o que diz as pessoas podem andar aí a injuriar-se sem qualquer tipo de problema, terei percebido bem? Achava que havia qualquer coisa onde se podia pegar, não me lembro do palavreado técnico, qualquer coisa como danos morais.

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    27. Obviamente não percebe nada de direito nem de leis, e eu ainda estou em horário laboral, não vou explicar-lhe quando me estão a pagar para fazer outras coisas.
      E de acordo com o que eu digo não, as pessoas não podem andar aí a injuriar-se sem problemas. A chatice é que um comia-te toda pode não caber no tipo legal de injúria (bocejo). E danos morais (não patrimoniais) são ressarcidos por indemnização, em processo crime se estiver em causa um crime, em processo civil nos restantes casos.

      Repito: não há protecção legal ao assédio verbal.

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    28. Luna,

      Vamos por partes.
      Em primeiro lugar, está a dar-me muito mais importância que a que tenho. Cinco mil visitas não é nada, até porque pelo menos metade são duplicadas.
      Por outro lado eu não uso o blog para passar mensagens sérias.
      Finalmente, e não sei quantas vezes já disse isto, mas nunca é demais repetir, eu não acho o piropo, ou assédio verbal, se preferir, aceitável (em falando-se de bocas ordinárias, claro, um "ai és tão gira" não me causa o mínimo de transtorno). Ainda assim, não sendo aceitável, para mim não passa de um mero aborrecimento. Na altura tinha tempo e decido pregar um susto ao trolha que me disse aquilo. Estava um polícia a meia dúzia de metros e eu resolvi aborrecer o trolha. Mais nada. Ele apanhou um susto, eu diverti-me com a situação. Não há mais conclusões a tirar.
      E só para terminar, eu não acho que a Luna, ou qualquer outra pessoa, seja fundamentalista por querer o assédio verbal contemplado na lei, acho que é fundamentalista por não ouvir as outras pessoas e por lhes deturpar o discurso, de maneira a fazer prevalecer o seu ponto de vista.
      E acho que o discurso "mulher a pobre vítima do homem que só existe para a explorar" também é fundamentalista.
      Eu sei que não concorda comigo. Mas será que posso ter uma opinião sobre o assunto? Será que posso achar que ouvir um piropo não passa de um mero aborrecimento?

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    29. Acontece que nenhuma de nós, e quando digo nós refiro-me à Izzie, Rita e Helena, cujas opiniões conheço melhor, retratam a mulher como uma pobre coitadinha, e nem consideram que todos os homens são horríveis exploradores destes seres fracos e indefesos, isso tem sido a Picante a constantemente pôr na nossa boca.

      Apenas reconhecemos que as mulheres ainda são as principais vítimas de uma série de comportamentos - violência doméstica, sexual, assédio, etc -, comportamentos esses praticados maioritariamente por homens, pelo que é necessária essa consciencialização. E que dizer que uma mulher se não sabe aguentar olhares não deve usar decotes, é nocivo no sentido em que culpa a vítima em vez de quem não se sabe comportar.

      (e sim, essa frase quer dizer que "estão a pedi-las", mas a que olhem, e é só nesse sentido que admiti ter extrapolado neste post em que a situação passava do olhar ao agarrar, mas só isso)

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    30. Luna, acho que toda a gente reconhece que há muito mais mulheres vítimas de homens que o inverso. Eles têm mais força, fisicamente falando.
      Quanto ao resto vamos acordar em discordar. Eu acho que quem usa uma saia pelo rabo quer atrair olhares. Acho mesmo. Como também acho que os decotes que deixam ver o umbigo são usados pela mesmíssima razão. Em não querendo olhares será normal usar um decote menos acentuado. Qual é o crime das minhas palavras? Juro que não percebo..
      E eu vi vários discursos de vitimização da mulher, que ganham menos, que trabalham mais, que têm medo por ser mulheres e mais uma série de coisas. Acontece que eu não me identifico em nada com esse discurso.
      (obviamente que não me refiro à partilha de experiência traumáticas, ok?)

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    31. Dizer que as mulheres ganham menos não é vitimização, é constatação de um facto, demonstrado estatisticamente. Eu também não me posso queixar de ganhar menos, porque trabalho no sector público, onde a paridade de salário se faz em relação à função, seja esta exercida por homem ou mulher. Mas no sector privado, onde existe negociação individual e aumentos individualmente atribuídos, as coisas não se passam assim. Daí o desvio estatisticamente comprovado. Mas lá está, o mundo é maior que o meu umbigo, e gostava que todas as pessoas vivessem esta paridade, e não só algumas. É uma coisa que me chateia, isto das injustiças.

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    32. Picante: acontece que nem todas as mulheres que se sentem incomodadas com olhares insistentes têm uma saia pelo rabo, ou um decote pelo umbigo, e que mesmo a atenção tem uma certa gradação: é diferente um olhar de relance, de um olhar insistente ao ponto de incomodar, e quando isso acontece, quem o faz, sabe que está a incomodar.
      Eu, por exemplo, sou muito discreta no vestir, porque sou tímida, e não gosto de despertar certas atenções, mas chateia-me ter de ter esse cuidado para que assim seja, e que tenha de decidir se me apetece chatear-me por causa de algo que vista - e que em mim, asseguro-lhe, nunca seria um decote até ao umbigo nem uma saia pelo rabo.
      A última vez que usei uma minissaia muito curta tinha 17 anos, era uma magricelas a quem aquela saia não ficava indecente, e no entanto nunca mais a fui capaz de vestir porque me senti um naco de carne com ela, ao ponto de ter de dizer a um tipo com 32 anos que não me largava "sabe que idade é que eu tenho? tenho 17 anos!" - o tipo ficou de todas as cores e desculpou-se. E não, quando vesti aquela saia não procurava aquela atenção, simplesmente era verão, estava calor, e a saia era gira e ficava-me bem.

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    33. Tenho estado sem internet, por isso só hoje volto aqui.
      A Mais Picante, entendo perfeitamente que esta conversa a canse muito. É que quanto mais fala mais se enterra, e por este caminho daqui a nada chega à Austrália. Depois manda-nos um postalito com cangurus? Obrigadinha. ;-)

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  3. Mas a Luna pega-se com a Picante??? A Picante não é para ser levada a sério!

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    1. Eu não me pego com ninguém, simplesmente há coisas que são nocivas quando escritas, e que não se devem deixar passar como se nada fosse.

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  4. Não foste tu que escreveste já há uns tempos um texto sobre o "estavam a pedi-las"? Adorei aquele texto, mas andei à procura e não encontrei. Bom, tudo espremido, acho lamentável que em pleno século XXI ainda haja mulheres a cuspir na sopa que as avós lhes prepararam, mas também, diga-se de passagem, que só podem cuspir nessa sopa, porque alguém a preparou.

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    1. Não. Não fui. E desafio-a a encontrar qualquer coisa dentro desse teor escrito por mim.
      Em tendo tempo eu já cá venho...

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    2. Picante,o post é nojento de todos lados que olhemos para ele. As comparações são absurdas, as ideias repugnantes, a conclusão é ofensiva, parece mais um vómito do que qualquer outra coisa.

      Foi uma desilusão completa.

      A Luna tem toda a razão. De uma pessoa que escreve que as mulheres deveriam de cobrir as mamas se não querem que olhem para elas só se pode esperar, além da manipulação dos factos, a extensão de que as vitímas de abuso merecem em parte o que lhes acontece.

      O conceito de feminismo é falseado, as feministas são apresentadas como mulheres que odeiam homens, ignorando que o feminismo é uma ideia, não uma caracteristíca de género, e que é contra todo o tipo de discriminação. Nenhuma feminista defende que um homem gordo seja gozado, mas também nenhum homem o é como uma mulher é, nem nenhum homem tem os seus pés fotografados para que se possa gozar com eles. O nojo já começou nesse post anterior.

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    3. Picante, referia-me a um texto escrito pela Luna e que evidentemente tendo sido escrito por ela jamais lhe leria uma concordância no "estava a pedi-las" ou estavam a pedi-las", e só assim eu poderia gostar do texto, nunca o contrário :)

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  5. Eu li o post da Leididi. Estava tão, mas tão bom, que me chateou um bocado a picante ter pegado neste assunto para fazer pilhéria (porque acredito que a intenção fosse só essa). É que tanto a Filipa como a picante têm vários seguidores, e infelizmente há quem leia as coisas literalmente (sim, as pessoas são responsáveis pelo que escrevem não pelo que os outros leem, mas ali a ironia está - se é que está, quero acreditar que sim - demasiado subtil.). Os seguidores da Filipa e da Picante não serão muito diferentes dos outros: um bando de carneiros, prontos a concordar com tudo que lhes é impingido. Assim, hoje foi um dia pior que ontem, porque de certeza alguém se identificou ou se descobriu nas ideias da picante nesse tal post. Bem, mas nem tudo é mau, hoje foi um dia melhor que ontem porque foi o dia em que a Leididi escreveu o post original.

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