13 de agosto de 2014

Coisas que m'apoquentam

Cá por coisas frequento quase diariamente uma papelaria/quiosque/tabacaria de uma terra pequena. Aquilo ao que vou é uma única transacção rápida, mas quase sempre tenho de esperar na fila bastante tempo, devido ao volume de euromilhões, raspadinhas, e outros jogos da sorte que os clientes à minha frente vão processar. Hoje, estive uns bons 10 minutos à espera de ser atendida, com uma única cliente à frente a processar inúmeros totolotos ou lá o que é, mais raspadinhas e a comprar mais, até que depois de um prémio de 4€ ainda pagou mais 18€ pelo resto, sendo alguém que, enfim, ganhará pouco mais do que o ordenado mínimo. E sem me querer imiscuir onde o pessoal gasta o seu dinheiro, ganho com o seu trabalho, era o que faltava, mas não tendo eu hábitos de jogo, a verdade é que fiquei ali a matutar se será normal uma renda de cerca de 20€ semanais para gastar em algo hipotético. E depois lembrei-me do BES e do BPN e tudo começou a fazer sentido.

19 comentários:

  1. com a diferença de que ela gasta guita que é dela...

    ResponderEliminar
  2. Há pessoas que gastam em jogo, e há pessoas que compram acções do BES. A vantagem das primeiras é que não armam escarcéu nem vão lamuriar-se para a tv que o Estado devia reembolsá-los quando a raspadinha não dá nada.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu não tinha bem noção da dimensão do jogo, e confesso que fico um bocado chocada com o volume. Soube pelo dono da papelaria, que é meu amigo, que tem clientes que chegam a gastar aos 100€ semanais... (eu só fiz euromilhões duas vezes e foi só uma aposta em cada)

      Eliminar
    2. É aflitivo, é. Cá em casa não temos o hábito, ele faz um boletim quando há jackpot e chega. Ainda assim há quem fique muito surpreendido quando nos vê a pedir uma aposta baixa, e com números aleatórios dados pela máquina. O pessoal leva o seu jogo muito a sério, tem crenças e rotinas estranhas. Comprar um jornal ou maço de tabaco em dia de jogo é um suplício - já me aconteceu o mesmo que a ti, seeeeca, e juro que não entendo como se pode jogar tanto dinheiro fora.

      Eliminar
    3. E a cena das raspadinhas ainda me ultrapassa mais... E a tal papelaria deixou de fechar para almoço à quarta e sexta para conseguir dar vazão ao pessoal nos dias de sorteio.

      Eliminar
    4. Tenho um familiar que gasta 20€ semanais no euromilhoes e totobola, ele tem um rendimento bem acima da média e pode gastar, mas mesmo assim eu acho um absurdo. Ele gasta à volta de 1000€ por ano em jogos da treta. Mesmo saindo alguns prémios, nunca chega a sair esse valor, nem metade. Ele já tem uns 38 anos, e desde que começou a trabalhar que faz isso, ou seja há quase 20 anos. É um desperdício estupido, mas isto é a minha visão.

      Eliminar
    5. Ainda existe totobola?

      Eliminar
    6. Existe :) também fiquei a saber através dessa conversa

      Eliminar
  3. Pois... A fantasia do dinheiro fácil ainda é uma coisa que prolifera. Mas essa senhora deve ter poucas semelhanças com os senhores do BES.

    ResponderEliminar
  4. É só mais alguém que queria ter um dinheirinho que se visse mas não sabe como o fazer. Os outros senhores sabem exatamente como o fazer.

    ResponderEliminar
  5. Estamos a esquecer um detalhe: o jogo pode ser um vício para muitos, como o beber (logo, a racionalidade da "coisa" perde-se pelo caminho). Mas, não faz mal, afinal de contas, é por uma boa causa: ajudar a SCM! :/

    ResponderEliminar
  6. Eu não gasto dinheiro em euromilhões, totolotos e coisas q tais. Dizem-me q se não jogar não ganho nada mesmo. Mas olho para as pessoas, como essa q aí referes, q gastam... e nunca ganham nada. E, se a ideia me surge, desisto logo.

    ResponderEliminar
  7. Tenho em relação a essas pequenas tabacarias o mesmo comportamento que tenho em relação às estações dos Correios. Entro, analiso a fauna à minha frente e deduzo quanto tempo cada um deles me pode custar. Raspadinhas na mão é logo um mau indício, envelopes abertos com contas, outro e pacotes com chouriças ou a cheirar a queijo, é o toque final que leva à meia volta imediata e a batida em retirada.

    Já nem para análises sociais tenho tempo, é a vida.

    SMak

    ResponderEliminar
  8. Nos anos 70 e 80 desenvolveram-se as primeiras teorias e evidencia empirica de como estes jogos da sorte nacionais, que servem na teoria para financiar causas publicas, funcionam na pratica como um "imposto sobre os pobres" . A literatura sobre este assunto e' muito vasta, criando-se cada vez modelos mais complicados de incerteza e dinamicos, pelos anos 90 e 00's fora, com a maioria (mas nao todos!) ainda a reiterar evidencia a que funcionam como um imposto sobre os pobres - um imposto regressivo portanto (ao contario de progressivo como o IRS, que afecta proporcionalmente mais as camadas de mais rendimento, este tipo de gasto em lotarias afecta proporcionalmente mais as camadas mais baixas). Ha muitas questoes de etica, que os lucros do Estado advem da exploracao dos mais pobres, ate que em alguns estados dos US, sao ate proibidas.

    Gostei particularmente deste artigo de 98 - http://www.jstor.org/stable/30000768 - em que avaliaram a literatura toda ate 'a data, como casos de estudo tambem - e concluiram que de facto sim, sao um imposto regressivo, mas com os novos mercados de jogo (anonimo) se tornam menos regressivos, e que se deviam atentar ao marketing das novas formas de jogo. Isto ainda no advento da maluqueira do jogos online e ja prevendo os seus resultados... verdadeiramente revolucionario. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. AEnima, desconhecia por completo essas teorias, obrigada pela informação, muito interessante.

      Eliminar
  9. Há dias travei conversa com uma senhora entradota que faz a sua vida com o dinheiro da reforma mas que arranjou um biscate de propósito para pagar essa renda nas raspadinhas e coisas que tais (a filha não ia gostar de saber que ela anda a gastar o dinheiro da reforma no jogo, então decidiu arranjar um trabalhinho). É triste. Acho que às tantas estas pessoas já nem se interessam pelo prémio em si, jogam apenas para manter a esperança viva, esperança de qualquer coisa que nunca mais vem (e não há-de vir...).

    ResponderEliminar
  10. os avós de um amigo meu, depois de anos a jogar todas as semanas, ganharam 5000 euros. ele fez as contas: uma vida a gastar cerca de 5€ por semana, adivinha lá quanto dava? 5000€. ganharam o que gastaram. mas tiveram a alegria de "ir para a ilha". não é por acaso que os vencedores do euromilhões têm direito a psicólogo (cujos serviços nunca nenhum vencedor quis).

    ResponderEliminar