10 de fevereiro de 2015

Ninguém nos prepara para de repente ter 35 anos

Na minha forma displicente de encarar a minha vida, tive uma primeira tentação de dizer que desde os 25 pouco tinha mudado e havia pouco a acrescentar, mas não é verdade. Tanta coisa aconteceu. Perdi a minha mãe e com ela o meu colo e uma parte de mim. Fiz um cruzeiro na Russia entre São Petersburgo e Moscovo com o meu pai. Tirei um mestrado. Fui viver para os Estados Unidos e voltei à cidade onde nasci, Monterey. Conheci São Francisco, o Big Sur, Yosemite, Lake Tahoe, o Grand Canyon, Las Vegas, Miami e o Hawaii. Fui ao México e passei a passagem de ano com uma família mexicana a convite de pessoas que conhecemos num bar dias antes. Fui fazer doutoramento para a Holanda. Vivi um mês num complexo de apartamentos para idosos. Fui viver com um francês. Passei um aniversário sozinha a jantar pizza congelada de pijama na cozinha, e não foi bom. Fui viver sozinha. Comemorei os 30 anos e fiz uma housewarming party. Quarenta pessoas na minha casa minúscula. Fiz grandes amigos para a vida. Fui a um casamento na Alemanha e outro na República Checa. Fui a Londres, Bruxelas, New York, Budapeste, Praga, Munique, Madrid e Copenhaga. Fiz férias na Croácia e em Ibiza (grande merda). O doutoramento correu mal e demorei 3 anos a ter os primeiros bons resultados. Ganhei uma poster presentation para surpresa geral. Publiquei o primeiro paper. Tive uma sobrinha linda. O meu contrato de doutoramento acabou. Com resultados para dois papers pendentes e dependentes de outras pessoas. Fiquei deprimida. Tive entrevistas de trabalho em Lausanne e Cambridge que não deram em nada. Numa delas fui entrevistada pelo francês. Voltei para casa. Iniciei uma espécie de semestre sabático. Apaixonei-me. Fui a um casamento nos Açores. Voltei a trabalhar na tese. Mas ainda faltavam os resultados para um paper. Fiz uma viagem de carro de Portugal à Holanda, passando pela Bretanha e Normandia. Trouxe as minhas coisas da Holanda. Entrei em conflito com o meu orientador e vi o meu doutoramento por um fio. Recorri. Ganhei. Juntei os trapinhos. Publiquei mais um paper. Chegaram os resultados para o último paper. Ainda não acabei a tese. Mas está quase. Continuo sem certezas quanto ao futuro e sem estabilidade profissional. Mas estou mais feliz. Fiz 35 anos hoje. Fim.

51 comentários:

  1. Muitos Parabéns, um beijinho bem GRAAAAAANDEEEEE e que este ano que hoje inicia seja fantástico, tu mereces!
    Bjs

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  2. O problema dos balançosobre, Ana Luísa, é que deixam os outros roídos de inveja. Eu incluída.
    Parabéns!

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  3. E fizeste bem mais em 35 do que muita gente numa vida inteira. Muitos parabéns, Luna, és uma inspiração! Um beijinho de uma leitora assídua há já vários anos (embora comente pouco) que faz a sua vida lá fora, bem pertinho da Holanda ;)

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  4. Gosto tanto de ti cachopa. Beijos de Parabéns, e que haja muitos mais sucessos que tristezas nos próximos 10 anos, cá estarei pra assistir ;)

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  5. Muitos, muitos parabéns! E não, não é fim, é pausa e siga. Ainda há mais para cronicar ;)

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  6. Parabéns!
    (Uau, que década de vida incrível!)

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  7. Muitos parabéns pelos 35 anos. E o que é que aprendeste com tanto vaivém? Ir e conhecer sítios penso que a maioria também gostaria de o fazer, havendo possibilidades para tal. Olho para este post e vejo uma listagem de sítios. Com certeza deve ficar bem no currículo. Mas e as aprendizagens, aquelas coisas que realmente merecem ser listadas e transmitidas, não há?

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    1. Caro/a Gante, lamento que o meu post balanço de dia de aniversário não seja do seu agrado e não descreva detalhadamente todas as minhas experiências de vida e aprendizagens dos últimos 10 anos. Peço imensa desculpa. Pelos vistos ir viver para países diferentes onde não se conhece ninguém não conta como experiências de vida e aprendizagem que mereçam ser listada e transmitidas. Ou a morte da minha mãe. Ou ter-me apaixonado. Lamento não lhe contar pormenorizadamente num post todas minhas vivências e sentimentos de foro íntimo e pessoal da última década. Mas se tiver mesmo muita curiosidade em saber tudo o que se passou na minha vida e aprendizagens que valem a pena tintim por tintim, pode sempre ir ao arquivo do blog e começar a ler desde 2005. São só 4619 posts. Boa sorte.

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    2. Por acaso acho que te falta uma aprendizagem essencial: ignorar gente parva! Mas tens mais 35 anos pela frente e eu ainda não perdi a esperança... ;)

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    3. Talvez se eu tirar os sítios onde vivi e por onde passei a coisa fique mais do agrado, ou daí não sei, talvez nada disto conte como experiências e aprendizagens e venha a descobrir que tenho uma vida completamente vazia e sem significado...

      "Na minha forma displicente de encarar a minha vida, tive uma primeira tentação de dizer que desde os 25 pouco tinha mudado e havia pouco a acrescentar, mas não é verdade. Tanta coisa aconteceu. Perdi a minha mãe e com ela o meu colo e uma parte de mim. Tirei um mestrado. Fui viver para os Estados Unidos e voltei à cidade onde nasci, Monterey. Fui fazer doutoramento para a Holanda. Vivi um mês num complexo de apartamentos para idosos. Fui viver com um francês. Passei um aniversário sozinha a jantar pizza congelada de pijama na cozinha, e não foi bom. Fui viver sozinha. Comemorei os 30 anos e fiz uma housewarming party. Quarenta pessoas na minha casa minúscula. Fiz grandes amigos para a vida. O doutoramento correu mal e demorei 3 anos a ter os primeiros bons resultados. Ganhei uma poster presentation para surpresa geral. Publiquei o primeiro paper. Tive uma sobrinha linda. O meu contrato de doutoramento acabou. Com resultados para dois papers pendentes e dependentes de outras pessoas. Fiquei deprimida. Tive entrevistas de trabalho que não deram em nada. Numa delas fui entrevistada pelo francês. Voltei para casa. Iniciei uma espécie de semestre sabático. Apaixonei-me. Voltei a trabalhar na tese. Mas ainda faltavam os resultados para um paper. Entrei em conflito com o meu orientador e vi o meu doutoramento por um fio. Recorri. Ganhei. Juntei os trapinhos. Publiquei mais um paper. Chegaram os resultados para o último paper. Ainda não acabei a tese. Mas está quase. Continuo sem certezas quanto ao futuro e sem estabilidade profissional. Mas estou mais feliz. Fiz 35 anos hoje. Fim."

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    4. Pffff! Coisa pouca (e não contas o que estudas tu, afinal, porquê, Luna? São trivialidades, quase que aposto...)

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    5. Espera, também posso fazer sem os estudos:

      "Na minha forma displicente de encarar a minha vida, tive uma primeira tentação de dizer que desde os 25 pouco tinha mudado e havia pouco a acrescentar, mas não é verdade. Tanta coisa aconteceu. Perdi a minha mãe e com ela o meu colo e uma parte de mim. Fui viver para os Estados Unidos e voltei à cidade onde nasci, Monterey. Vivi um mês num complexo de apartamentos para idosos. Fui viver com um francês. Passei um aniversário sozinha a jantar pizza congelada de pijama na cozinha, e não foi bom. Fui viver sozinha. Comemorei os 30 anos e fiz uma housewarming party. Quarenta pessoas na minha casa minúscula. Fiz grandes amigos para a vida. Tive uma sobrinha linda. Fiquei deprimida. Tive entrevistas de trabalho que não deram em nada. Numa delas fui entrevistada pelo francês. Voltei para casa. Iniciei uma espécie de semestre sabático. Apaixonei-me. Juntei os trapinhos. Continuo sem certezas quanto ao futuro e sem estabilidade profissional. Mas estou mais feliz. Fiz 35 anos hoje. Fim."

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    6. E sem as mudanças de casa:

      "Na minha forma displicente de encarar a minha vida, tive uma primeira tentação de dizer que desde os 25 pouco tinha mudado e havia pouco a acrescentar, mas não é verdade. Tanta coisa aconteceu. Perdi a minha mãe e com ela o meu colo e uma parte de mim. Passei um aniversário sozinha a jantar pizza congelada de pijama na cozinha, e não foi bom. Fiz grandes amigos para a vida. Tive uma sobrinha linda. Fiquei deprimida. Tive entrevistas de trabalho que não deram em nada. Numa delas fui entrevistada pelo francês. Iniciei uma espécie de semestre sabático. Apaixonei-me. Juntei os trapinhos. Continuo sem certezas quanto ao futuro e sem estabilidade profissional. Mas estou mais feliz. Fiz 35 anos hoje. Fim."

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    7. Ou posso tirar mesmo tudo o de irrelevante:

      "Fiz 35 anos hoje. Fim."

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    8. Tira o relevante mesmo: "Fiz anos hoje. Fim"

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  8. Pessoal, como diria o Ruben Patrick, estão aqui! (mão a bater no peito)

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    1. Mto bom, só me falta saber quem é o Ruben Patrick :D

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    2. lol
      mas pode ser sem Ruben Patrick, pode?
      ;)

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    3. Andorinha: é o sobrinho do Tio Pipoco. :P

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  9. Beijinhos! e parabéns também, por, pelo meio disso tudo não teres perdido o fino sentido de humor nem o adorável mau-feitio.

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    1. Uma pessoa acorda, até bem disposta, dada a calamidade de fazer 35 anos, vai ver o mail e fica sem saber bem o que são vivências e aprendizagens dignas de serem contadas, está mal...

      Beijinhos miúda!

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  10. Depois de um bonito balanço permanece a dúvida: porque é que não puseste a pizza no forno? :-)

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  11. Parabéns Luna! Que venham os próximos 35, cheio de novas experiências, que serão certamente memoráveis. Hei-de ler-te nessa altura para o comprovar :)

    Como diria alguém que muito prezo: "Feliz ano novo"

    Beijinho xxl

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    1. Será que ainda há blogs em 2050? ;)

      Beijinhos

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  12. E no meio dessa agitação toda despertou aqui e além um sorriso, mais adiante um momento de reflexão, de uns quantos caramelos que vêm aqui porque gostam de vir e acham que não perdem o seu tempo. Também conta, não?

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    1. Conta muito! Se este blog ainda se mantém é por causa de quem continua a vir. Obrigada :)

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  13. Foi uma grande década :) Parabéns!

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    1. Obrigada. Olha que tu também podes fazer um balanço de andanças jeitoso. ;)

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    2. É verdade, talvez um dia faça o meu ;)

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  14. A pizza claramente não era do Pingo Doce, que essas até são boas. :)

    Parabéns!

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    1. Na Holanda não há Pingo Doce! :(
      Obrigada miúda!

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  15. Muitos Parabéns Luna!!!!
    Que venham mais 35 x 18262!!! :)

    Beijinhos!

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  16. Tanta coisa que te aconteceu e tanta coisa que fizeste, viste e alcançaste em dez anos!
    E a sério, já passaram mesmo cinco anos desde a tua housewarming party?! Lembro-me como se fosse ontem, a tua preocupação (como boa portuguesa) que faltasse comida, o drama dos guardanapos de papel...

    Bom, já te disse isto no Facebook, mas repito aqui, que hoje é que é o dia de to dizer:

    «Thirty-five is a very attractive age. London society is full of women of the very highest birth who have, of their own free choice, remained thirty-five for years. Lady Dumbleton is an instance in point. To my own knowledge she has been thirty-five ever since she arrived at the age of forty, which was many years ago now.»

    Oscar Wilde, The Importance of Being Earnest

    ENORME beijo de parabéns.

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    1. Como te disse, a partir agora só faço 35 anos todos os anos! :)

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  17. Acrescenta aí o "Não ganhei um Samsung Diva", sff!

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  18. Parabéns Luna :)

    A tua última frase fez-me lembrar um artigo do NY Times que li há dias: "There are no grown-ups", dizia a autora, "Everyone is winging it, some just do it more confidently."

    http://www.nytimes.com/2014/03/01/opinion/sunday/what-you-learn-in-your-40s.html?smid=fb-share&_r=0

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  19. Parabéns! :) E que contes muitos mais, anos e aventuras :)

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  20. Muitos parabéns, querida Luna! Já te leio há tanto tempo e é sempre um prazer te ler e reler. Que vida preenchida ! ! Espero que vivas muitos e muitos , connosco sempre por cá a te ler e a saborear a tua escrita leve, bonita e inteligente!

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  21. Tens todos os motivos para celebrar, Luna :)
    Parabéns e que continues a partilhar connosco as tuas palavras. E força para esse doutoramento!

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  22. Querida Luna, os meus parabéns. E não te preocupes com as aprendizagens. Estas serão apenas tuas. Para o bem e para o mal. Um beijo.

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  23. Parabéns, Luna. Que sejas feliz!

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  24. Adorei o texto. Felicidades e a muitos mais trintas e cinco!

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