Quero dizer que o povo se indigna muito com o pouco que muitos ganham, mas amocha e nem um piu com o muito que poucos ganham. Que durante esta crise, nunca vi tanta gente feliz por muitos terem os seus privilégios (salários, abonos sociais) cortados, e nem se detiveram um minuto a pensar naqueles que enriqueceram brutalmente com a especulação financeira que nos trouxe a este buraco. Quero dizer que nunca vi tanta gente apontar o dedo aos calões que os servem no sector público, a culpar os madraços dos desempregados, que não querem trabalhar, a achincalhar os horríveis que vivem à custa do rendimento mínimo, e que se calhar são os mesmos que agora se surpreendem com os números chocantes de crianças que passam fome, crianças que eram alimentadas graças a esses rendimentos mínimos. E, ainda assim, não fazem chiqueiro, antes se acomodam. E falo dos que acham que os professores e os médicos ganham muito, e devem ser metidos na ordem, mas ficam mudos a ver o sistema escolar público, universal e gratuito, a ruir, e não levantam um dedo para defender o sistema nacional de saúde, afinal há seguros de saúde tão jeitosos, até deram à luz de cesariana, num quartinho privado com vista, e nem um segundo se detêm a pensar que bastaria a necessidade de uma quimioterapia para verem o plafond desse seguro esgotar-se num ápice, ou mesmo ser cancelado porque aquilo é um negócio a que gente doente não interessa. Falo também dos que acham normal o mundo milionário da bola, que tem rendimentos fabulosos de publicidade, ser ainda alimentado de subsídios pagos por todos, perdões fiscais, benesses várias. Mas deunolivre de estarmos a repor salários entretanto cortados, subsídios negados, não há dinheiro, a menos que seja para salvar um clube, um banco, uma empresa que emprega estagiários pagos pelo IEFP (nós, portanto) da bancarrota. Falo de um povo que perdeu a espinha dorsal e até o exoesqueleto, se vendeu a lógicas fáceis e culpabilizadoras do vizinho do lado, que abdicou de pensar e pior, de exigir.
Obrigada, Angela, fez-me bem ler isto logo de manhã :) (estivesse a minha vida um nadinha menos caótica, e talvez tivesse vontade de voltar. saudades até tenho. mas coisE)
Estamos totalmente de acordo. Não tinha entendido o teu comentário inicial. Apesar de ir ao futebol e de gostar de bola, ainda estou bastante longe de ser estupidificado pelo sistema e mais longe ainda de deixar de ter espinha dorsal.
Não podia expressar melhor o que penso :)
ResponderEliminarChama-se paixão e amor à camisola.
ResponderEliminarDesde que não sejam funcionários públicos a ganhar mesmo que um mísero aumento, é sempre motivo de júbilo.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarA izzie quer dizer o quê exactamente?
ResponderEliminarQuero dizer que o povo se indigna muito com o pouco que muitos ganham, mas amocha e nem um piu com o muito que poucos ganham. Que durante esta crise, nunca vi tanta gente feliz por muitos terem os seus privilégios (salários, abonos sociais) cortados, e nem se detiveram um minuto a pensar naqueles que enriqueceram brutalmente com a especulação financeira que nos trouxe a este buraco. Quero dizer que nunca vi tanta gente apontar o dedo aos calões que os servem no sector público, a culpar os madraços dos desempregados, que não querem trabalhar, a achincalhar os horríveis que vivem à custa do rendimento mínimo, e que se calhar são os mesmos que agora se surpreendem com os números chocantes de crianças que passam fome, crianças que eram alimentadas graças a esses rendimentos mínimos. E, ainda assim, não fazem chiqueiro, antes se acomodam. E falo dos que acham que os professores e os médicos ganham muito, e devem ser metidos na ordem, mas ficam mudos a ver o sistema escolar público, universal e gratuito, a ruir, e não levantam um dedo para defender o sistema nacional de saúde, afinal há seguros de saúde tão jeitosos, até deram à luz de cesariana, num quartinho privado com vista, e nem um segundo se detêm a pensar que bastaria a necessidade de uma quimioterapia para verem o plafond desse seguro esgotar-se num ápice, ou mesmo ser cancelado porque aquilo é um negócio a que gente doente não interessa.
EliminarFalo também dos que acham normal o mundo milionário da bola, que tem rendimentos fabulosos de publicidade, ser ainda alimentado de subsídios pagos por todos, perdões fiscais, benesses várias. Mas deunolivre de estarmos a repor salários entretanto cortados, subsídios negados, não há dinheiro, a menos que seja para salvar um clube, um banco, uma empresa que emprega estagiários pagos pelo IEFP (nós, portanto) da bancarrota. Falo de um povo que perdeu a espinha dorsal e até o exoesqueleto, se vendeu a lógicas fáceis e culpabilizadoras do vizinho do lado, que abdicou de pensar e pior, de exigir.
Tenho mesmo saudades destes comentários e do blog!
EliminarObrigada, Angela, fez-me bem ler isto logo de manhã :)
Eliminar(estivesse a minha vida um nadinha menos caótica, e talvez tivesse vontade de voltar. saudades até tenho. mas coisE)
Estamos totalmente de acordo.
ResponderEliminarNão tinha entendido o teu comentário inicial.
Apesar de ir ao futebol e de gostar de bola, ainda estou bastante longe de ser estupidificado pelo sistema e mais longe ainda de deixar de ter espinha dorsal.
http://www.willtirando.com.br/?post=928
ResponderEliminarMuito top..
ResponderEliminarParabéns!
FLAVIO AGAZZI