12 de janeiro de 2016

I feel you

"Tenho cada vez menos paciência para escrever sobre feminismo, e suspeito que isto tenha pouco a ver com o facto de estar a fazer uma investigação sobre ele. Sinto que estou sempre a bater na mesma tecla, que o que tenho para dizer é óbvio, básico, que já toda a gente sabe isto, para quê repeti-lo. Que as mulheres ainda são discriminadas por serem mulheres deveria ser óbvio, a parcialidade do status quo deveria ser mais que evidente a qualquer pessoa minimamente inteligente, a objetificação e hipersexualização das mulheres deveria ser um fenómeno que é mais que óbvio (e consequências nefastas também, já agora), a necessidade de uma lei que criminalize a importunação sexual uma coisa que já cá devia estar há mais que tempo, a justeza de sistemas de quotas uma evidência, que existe violência contra mulheres por estas serem mulheres (ou seja, que deriva dos papéis atribuídos a elas e respetiva 'correção' quando estes não são respeitados) idem. Mas depois leio coisas, oiço coisas e vejo discussões que ainda estão presas ao significado de palavras, que o feminismo não se devia chamar feminismo, que igualdade é que é, que humanismo é que é, e que há homens que também são, e chego à conclusão que o que parece óbvio não é óbvio, não senhora, e o senso comum não é tão comum quanto isso. O problema é que adotei uma posição de aprendizagem exclusiva, que é como quem diz: eu educo-me, os outros que se lixem. Prefiro perder tempo a ler coisas do que a debatê-las, que não devo explicações a ninguém e quem se quiser educar há muito material à solta, é só pesquisar. E isto é um bocado triste.

 Pela DS, no seu Em terras da raínha

5 comentários:

  1. Também me deu vontade de fazer copy/paste. Resmas, paletes de vezes que me apeteceu teclar sobre a tal punição de assédio verbal, os acontecimentos de Colónia, mas. Montes de suspiros.

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    1. Cada vez me cansa mais discutir o óbvio, e cada vez me arrependo mais quando decido fazê-lo em vez de ficar quietinha no meu canto.

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    2. Agora sou eu que digo I feel you. Uma pessoa esgota a paciência para ser chamada de tudo à face da terra... e ainda acusada de ser demasiado, ahém, veemente na defesa de um ponto de vista, e que isso depois afasta os "humanistas/igualitários" moderados, e pronto, tudo bem.

      É claro que o facto de, no primeiro quartel do século XXI, acontecer uma pessoa ser tratada como presumível culpada de uma avaria automóvel porque, sendo mulher, necessariamente conduzirá de certa forma, é excesso de sensibilidade minha.

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  2. Nem mais! São daqueles grandes mistérios do Universo, o sentido de humor divino colocado em prática, que faz do simples tão complicado, do senso comum um atributo tão raro, e por aí fora...

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  3. ontem ouvi uma discussão semelhante sobre racismo. uma amiga minha mulata jura a pés juntos que existe racismo não assumido na sociedade civil, escondido dentro de portas, manifestado em variadas situações, nos transportes, nas escolas, nas ruas, apesar da opinião formal e racional de todas as pessoas é dizerem que não existe. à volta, todos juravam a pés juntos que não eram racistas e não havia racismo em portugal.

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