15 de fevereiro de 2005
Freak Show
Sempre me arrepiei ao assistir ao verdadeiro circo de horrores apresentado nos programas do Guinness World Records, pensando de mim para mim que nunca quereria conviver com os loucos que lá vão. Assustam-me, de uma forma quase inexplicável, e todos os meus sentidos, em especial o sexto, me dizem que aquelas pessoas se encontram algures no limiar da loucura, não se diferenciando muito dos psicopatas mediáticos.
Ambos fazem tudo, mesmo o mais bizarro, com o único intuito de aparecer e ser famoso, na ânsia doentia de ficar na história, ser imortal, ter o nome perpetuado em livros, arquivos televisivos, mesmo que em freak shows, por actos pouco dignificantes e de completa inutilidade para a humanidade. Acredito convictamente que de aberração do Guinness a grande psicopata, basta apenas um pequeno passo de bebé, que consiste em transpor a ténue barreira da ilegalidade, que, alegadamente – apesar de eu não estar totalmente convencida – os recordistas não ultrapassam.
O que me preocupa mais ainda é que, em vez de dissuadidos, estes maníacos totalmente anti-sociais, com toda a certeza incapazes de se inserir nas suas comunidades, são incentivados e premiados pelos actos de tortura auto-infligidos e o mau exemplo que transmitem, disfarçado pelas recomendações inúteis aos mais novos de não o tentar fazer em casa e avisos aos mais impressionáveis da possibilidade de um enfarte do miocárdio ao ver um homem pendurar um ferro de engomar nos testículos. Maravilhas das telecomunicações transmitidas em horário nobre.
Por curiosidade quase mórbida, resolvi passar os olhos no site do Guinness World Records e confirmar as minhas suspeitas sobre o desfile de monstros que fui encontrar. De modo a partilhar a minha estupefacção, ainda que em dose mais moderada, não resisto a descrever alguns exemplos mais ilustrativos.
A senhora Vivian Wheeler do Illinois, USA – Surpresa! Porque será que a taxa de incidência de distúrbios mentais é exponencialmente maior no país do grande sonho? – deixou crescer a barba após a morte de sua mãe, atingindo um comprimento de 27,9 cm! Que bonito, preferir deixar agir a natureza hormonal livremente, pôr de parte a gillette e finalmente assumir o barbão, e ganhar um prémio por isso. Continuará com certeza a ter muito sucesso em ambientes gay desde que não revele a verdadeira identidade e use soutien de desporto, e se não se importar de ser sodomizada o resto da vida nem terá problemas em manter uma vida sexual.
Curiosamente mais uma senhora americana, Lee Redmond do Utah, bateu o recorde de maior comprimento de unhas, num total de 6 m, ligeiramente atrás de Shridhar Chillal, da India, que teve pelo menos a sensatez de só as deixar crescer numa mão. Que contente deve estar Lee com as suas unhacas nogentas, apesar de não poder fazer nada com as suas mãos… Pelo menos, com o dinheiro do prémio, já deve ter arranjado quem lhe dê banho, lave o cabelo, limpe o rabo e lhe enfie tampões nos dias difíceis.
Por vezes, no meio de toda esta insanidade encontram-se pessoas normais, como o marido da recordista de maiores unhas dos pés, a californiana Louise Hollis – curiosamente não é da Ribeira do Sado - que segundo a própria lhe fez um ultimato que pôs fim a um casamento de 21 anos: ou as unhas ou eu! Ela escolheu as unhas. Boa escolha. Agora deve sentir-se bem mais realizada com as suas garras de 15 cm cada, apesar de se sentir bastante mais só e provavelmente sentir falta de alguém que lhe empurre a cadeirinha de rodas.
Continuando a bizarria, encontro em exéquo Elaine Davidson e Charlie Wilson, do Reino Unido, ela por deter o recorde de maior número de piercings: 720 com 142 só na cara, ele por ter feito o maior número destes numa só sessão: 600 em 8 horas e meia. Felizmente só lhes vejo a cara, que nem quero imaginar o estado de outras partes do corpo.
Já o valente Brad Byers do Idaho, obviamente dos EUA, conseguiu engolir uma espada de 68,5 cm e rodá-la 180º no esófago. Brad confessa que uma vez lesionou de tal maneira a epiglote – mas como é possível com uma brincadeira tão inofensiva? – que não conseguiu comer nem beber por 48 horas – só? Vendo pelo lado positivo, certamente não lhe custará muito fazer a endoscopia quando tiver de ter o esófago examinado enquanto se esvai lentamente numa hemorragia interna.
O – adivinhem? - californiano Ray Macaraeg conseguiu fazer 119 bolas de sabão – ya, ya, grande coisa… - com uma tarantula viva na boca, enquanto o seu conterrâneo Dr. Norman Gary conseguiu fechar a boca durante 10 segundos com 109 abelhas lá dentro! No comments... O inglês Ken Edwards conseguiu ingerir 36 baratas num minuto - absolutamente delicioso. O também britânico Stevie Starr conseguiu em directo regurgitar uma bola de bilhar, uma abelha e um peixinho, e de seguida engoliu um anel, um cadeado e uma chave e devolveu o anel trancado no cadeado, perante uma assistência vibrante. Sim, há quem pague para ver outros vomitar.
Por fim*, o sem dúvida brilhante texano Michael Lloyd of Midland detém o recorde máximo de pontapés na cabeça num minuto, auto-infligidos – ainda não consegui perceber como, mas no Guinness tudo é possível – num total de 42. Não sei se estará em estado vegetativo de morte cerebral, mas isso não interessa nada.
Depois de tudo isto, não vos parece bastante normal dar um tiro em alguém?
*Poderia continuar infinitamente, mas à falta de tempo e paciência, sugiro uma visita turística e sem dúvida esclarecedora sobre a natureza humana ao Guinness World Records. Acreditem que será inesquecível…
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O problema "Luna" é que esses tipos não são vistos como loucos. Louco, e até estúpido, é aquele que abdica do aspecto material em prol do seu semelhante, com a seguinte agravante ao fazê-lo: não consta do "prestigiado" livro ;)
ResponderEliminarUm tiro? Que tal uma rajada?! ;)
Infelizmente a fama passou a ser um fim, em vez de uma consequência. Felizmente esses loucos não querem constar do livro.
ResponderEliminarHola Luna, hay dos opciones sobre este post. Si encontraste las imágenes en algún lado e inventaste las historias quiere decir que tenes mucha imaginación. Ahora bien, si todo esto es real me parece lamentable y coincido totalmente con vos. Esta opinión se basa en lo que pude entender ya que no se casi nada de portugués. Igualmente, salu2.
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