16 de fevereiro de 2005

Pega-monstros


Cais do Sodré, uns minutos para o comboio, resolvo enganar a fome e dirijo-me apressadamente ao café, de modo a abastecer-me de combustível que me aguente até casa. Nesses escassos metros sou abordada 3 vezes por essa raça peganhenta que não descola, não desiste, não se envergonha de invadir o espaço dos outros mesmo depois de um leve aceno de “Não”, de alguém suficiente simpático para não fingir que são pedras. Hoje eram vendedores do Circulo de Leitores, a uma razão de 4 ou 5 por cada 10 metros quadrados.

Não sei lidar com eles, não os desprezo o suficiente para fingir que não noto a sua presença, tentando descolar uma pastilha elástica do sapato ou inventando qualquer outra manobra de distracção enquanto me abordam. Olho para eles, até sorrio – coitados estão a ganhar a vida, mas fico irritada, comigo e com eles, quando dou por mim a sentir-me obrigada a explicar as razões de não querer subscrever um serviço. Deveria bastar dizer “Não, obrigada, não estou interessada.”, mas invasivamente perguntam porquê, e acabo inevitavelmente a responder que já tenho livros encaixotados por falta de espaço, que o meu pai já foi sócio, que não preciso de edições encadernadas para enfeitar estantes, etc., enquanto olho o sorriso ensaiado do vendedor não-descola que precisava de uma boa escovagem aos dentes urgentemente.

Depois outro e mais outro. Não, não quero, porra! Nem quero dar explicações a pessoas que não conheço, sejam elas a falta total de interesse cultural ou a total falta de dinheiro!

Os vendedores, por sua vez, tinham o ar de nunca ter lido sequer os livros obrigatórios no liceu. Era muito mais fácil ler os resumos.


6 comentários:

  1. "Luna", quando escreves a tua voz faz-se ouvir - aprecio imenso quando isso acontece.

    Não vou, provavelmente, andar constanetemente aqui a escrever pareceres sobre o que pensas, etc. Mas estarei, sempre que possível, atento ao que fores escrevendo.

    Resta-me desejar que continues com toda essa sensibilidade (vida fora) e sentido crítico...

    Estou aqui ao lado ;)

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  2. Descobri que gostava de escrever dia 7 de Janeiro, quando iniciei este blog, pegando numa ideia copiada de uma amiga.

    Fico contente de saber que não só quem me conhece me lê, e me entende. Espero não desapontar.

    Já agora, obrigada pelo link. Já retribuí, assim que me livrei da tortura auto-infligida da versão coração, e voltei à versão original.

    Até já. ;)

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  3. "circulo de leitores" soa-me sempre a livros encarnados e dourados todos iguais postos numa estante e a combinar com os cortinados. Ah e ainda nos plásticos para n ganharem pó, claro.

    Eu normalmente minto e digo que já sou sócia (shame on me)

    Beijinhos

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  4. Ainda por cima as capas duras não dão jeito nenhum a quem quer, realmente, ler os livros, em posições estranhas e com capas dobradas. Já o meu avô preferia as edições de bolso. Bjinhos

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  5. Juntem a tudo isso uma vendedora oxigenada a dizer "prontos" e a relembrar-me quase semanalmente que posso trocar os pontos por livros e é a completa loucura!!!

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  6. Dão pontos enquanto dizem prontos? Se soubesse tinha pensado duas vezes, que perspectiva atraente! ;)

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