21 de março de 2005

Aviso à Nação


Sempre que resolvo escrever sobre assuntos delicados, racional e objectivamente, sobre a forma como vejo o mundo e penso que o mundo me vê a mim, acodem-me logo muitos amigos preocupados com o meu estado de espírito e alegada falta de amor próprio. Volto então à mesma tecla, na esperança de ser mais clara desta vez.

O facto de eu saber que não sou igual à Monica Belucci, ou mesmo à nova namoradinha de Portugal, Isabel Figueira – linda e burra como convém – não é sinal de fraca auto-estima nem nada que se pareça, mas de lucidez. O que seria preocupante era o contrário, aí aconselharia mesmo a internarem-me, pois seria penoso eu viver toda a vida atormentada sem perceber por que razão nunca tinha sido convidada para capa da MaxMen.

Um dos maiores constrangimentos, para mim, é assistir à exposição de pessoas sem noção alguma do ridículo e das suas limitações pessoais, sujeitando-se assim a humilhação pública e sendo alvo de chacota, como víamos frequentemente nas audições para os “Ídolos”, só para minutos depois serem destroçados pelo júri. Ou facilmente imaginamos as pequenas provincianas de buço farto, anca larga e celulite, que tentam desesperadamente entrar no mundo da moda e das revistas cor de rosa, concorrendo a concursos de “Misses” e afins, para verem os seus sonhos terminados abruptamente nas bocas insensíveis de outros, em comentários irónicos e escárnio, que não percebem. Esses sim são dignos de pena, que vivem no seu mundinho paralelo, acreditando em talentos que não existem e em belezas que ninguém vê. Eu prefiro a lucidez e o sentido crítico aguçado.

Para acabar de vez com as preocupações, resta-me afirmar que sei que sou bem mais inteligente e interessante que a Isabel Figueira – o que, entre nós, não é difícil – sei escrever e falar melhor e sobre mais assuntos do que a maioria dos protagonistas dos “Morangos com Açúcar”, e sou bem mais simpática que a maioria das figuras pseudo-VIPs, além de ter outros atributos que a modéstia e decoro não me permitem enumerar. E gosto de mim assim.

Avete capito?

19 comentários:

  1. completamente, sem qualquer possibilidade para margem de dúvidas :)
    bom ver pessoas que conhecem tão bem o seu interior e as suas capacidades!

    (e em relação a tudo o que disseste, concordo com todas as críticas aguçadas por ti expostas)

    beijinhos

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  2. Que bom que alguém me entende... tem sido díficil explicar e convencer que não se trata de um problema falta de amor próprio. ;)
    Bjinhos

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  3. Como costumo dizer: o que mais admiro nos palhaços é eles não serem palhaços.

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  4. Luís, isso é uma crítica?

    Eu diria, os verdadeiros palhaços são os que não sabem que o são...

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  5. Não pretende ser uma crítica, mas apenas o que é - uma reflexão interessante.

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  6. tá bem tá bem... mete mas é aí uma foto de corpo inteiro pa ver o que achamos do teu intelecto... : P

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  7. 1º Toda a gente pensa que conhece o seu interior e as suas capacidades, o problema começa logo aí (Cf. Xarinha).
    2º Depois, por haver pessoas que não têm mesmo noção do ridículo, é que se sujeitam a determinadas figuras (de urso, naturalmente).
    O que mais me irrita nesse tipo de pessoas (as que mencionas dos concursos e afins, sobretudo as pseudo-Vips) é a invasão do meu espaço: é que mesmo que queira, não consigo de deixar de sentir vergonha alheia!
    Por último, uma breve consideração: no que diz respeito às provincianas (o termo causa-me algum incómodo porque o associo logo à triste dicotomia «Lisboa vs província»), o que mais me entristece é conhecer, através delas, o Portugal profundo e real: tenho alunas, fora da urbe, que realmente têm buço farto; que realmente se levantam às quatro da manhã para tratar do gado antes de apanhar o autocarro para a escola; que, com 16 anos, não sabem o que é a Torre de Belém ou o Padrão dos Descobrimentos; que compram a Ragazza e sonham um dia ser uma modelito. Mas o patinho feio também tem o direito de sonhar e ser feliz enquanto sonha, não? Ninguém sabe se por trás do buço farto e da celulite, que não têm como disfarçar, não está um magnífico cisne! Bom... mas isso é outra história.

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  8. Não queria de todo ofender as provincianas, até pq neste contexto, muitas moram mesmo no centro de lisboa. Quanto à felicidade do alheamento da realidade e dos sonhos cor-de-rosa, duvido, pois no seguimento o mundo torna-se muito mais cruel.

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  9. Concordo com a primeira parte mas, como diría Pedro Calderón de la Barca: «La vida és sueño».

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  10. Claro que concordo que a vida é feita de sonhos, mas quando são passíveis de serem realizados, ou pelo menos aparentemente alcançáveis. Não quando consistem no desejo de ser Top Model e se tem 1 metro e meio.

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  11. tenho-te a dizer k es uma granda mentirosa... kem é k n keria ser capa da maxmen? eu keria ser capa da maxmen pah... e sou homem... ser capa da maxmen é o auge... tas a ver receber uma medalha do presidente por merito? entao capa da maxmen tá acima disso... é tipo a medalha olimpica de... de... de kualker coisa pah... n m xateies... ora então um grande bem haja

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  12. Caro Insolente, se soubesses ler, ou se tivesses perdido mais de 2 segundos a ler com atenção, terias sabido interpretar o que escrevi e não estarias a chamar-me mentirosa - o problema chama-se analfabetismo funcional.

    Se voltares a ler devagarinho, ou melhor, se gentilmente pedires para alguém te explicar, verás que eu não disse que não queria ser capa da MaxMen, apesar de efectivamente não ser a minha maior aspiração.

    O que eu disse foi que, tendo noção da realidade, sei que nunca o serei, e como tal não vivo nessa ilusão nem ansejo. E que certamente serei mais feliz assim, que eternamente angustiada com um convite que não chega.

    Quanto a não te chatear, vou fazer os possíveis, mas será bastante difícil se continuares a visitar voluntariamente o meu blog.

    Ora então um grande bem haja para ti também

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  13. Com um metro e cinquenta ainda pode sonhar em ser modelo fotográfico (aliás, lembro-me agora que a Madonna no seu glorioso 1,57 desfilou para Versace).
    Mas eu percebo onde queres chegar e, como comecei por dizer, concordo contigo na raiz da questão que colocas.

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  14. Já agora, não tem nada a ver mas lembrei-me: quando é que nos delicias com uma crónica sobre os teus dedos dos pés? Acho que prometias!

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  15. Blackmarrow, claro que existem sempre as Madonnas e Kylies da vida, felizmente existem excepções à regra. Quanto aos dedos dos pés, tenho que pensar nisso, e hei de lá chegar...

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  16. A futilidade, por enquanto, não é uma virtude. Ainda bem que não apareces nas capas "cor-de-rosa". Isso seria imundar um curral com perfumes exóticos, inefáveis para os "habitantes locais". Obrigado por partilhares as tuas ideias, os teus momentos.

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  17. «eu não disse que não queria ser capa da MaxMen, apesar de efectivamente não ser a minha maior aspiração»

    Eu nunca comprei a MaxMen mas compraria esse número.

    E não se esqueçam que as top-model de metro e meio sempre podem passar roupa da Cenoura!

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  18. «A futilidade, por enquanto, não é uma virtude.»

    Discordo completamente. A futilidade tem o condão de proporcionar segundos de felicidade absoluta a muita gente. Que é como eu fico quando chega a casa a minha nova câmara fotográfica antiga (a última foi uma maravilhosa Agfa Isolette I de 1954). E quando ando pela rua a tirar fotografias com a mesma, embora aos olhos de muita gente seja bastante esquisito ver um tipo com uma câmara de fole em 2005...

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