20 de março de 2005
Estou Além
Ultimamente tenho-me sentido assim, perdida, deslocada, como peixe fora do aquário, sozinha quando rodeada de gente e música, em mundos a que não pertenço. Lembro-me dos versos de António Variações e parecem feitos para mim:
“…Vou continuar a procurar
O meu mundo
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só quero estar
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou”
Foi desde que voltei, nunca mais consegui estar à vontade, solta como estava lá, divertir-me e ser feliz… Talvez pela falta da leveza das relações fugazes, em que tudo tem de ser aproveitado nos momentos, pela falta da liberdade total ou mesmo a falta de precisão linguística, que deixa no ar uma aura de mistério de personalidades para descobrir. Nunca sabemos se por trás da dificuldade de expressão não está alguém interessante, e damos facilmente o benefício da dúvida. A vontade de partilha era imensa e a troca de experiências urgente, os sorrisos fáceis e os afectos necessários.
Aqui nada.
Por vezes vem a melancolia, a vontade de mudar, os desabafos, mas até aí deparo com a dificuldade de expressão e em fazer-me compreender. Vamos a esta ou àquela festa, gente gira, desconhecida… Não, não me sinto bem em ambientes onde não conheço ninguém, e sei de antemão que não vou conhecer, no mundo da gente alta e bonita, onde me torno invisível e fora do seu raio de visão. Quando sou apresentada o papel secundário da amiga feia também não me agrada. E não, não é falta de auto-estima ou confiança em mim, é a consciência, um apurado sentido da realidade e capacidade de análise. Tudo é relativo face aos termos de comparação. Não me considero inferior, mas nesse mundo do ver e ser visto, nessa fogueira das vaidades onde conta apenas a imagem – sim, a atitude também, desde que à partida se tenha 1,70 m e olhos verdes – eu não entro nem encaixo, e muito menos me atrevo a competir. Nem toda a gente tem de ser modelo, e eu não sou.
É por isso que me sinto melhor entre amigos, gente normal e descontraída, não tão bonita, não tão fashion, de cabelo em desalinho e calças gastas, mas onde me olham como igual, e onde ser a mais pequenina vem sempre acompanhado de cumplicidade e ternura.
P.S. Era isto que te estava a tentar explicar há bocado mas não consegui. Entendes agora?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Já tinha percebido isso desde o inicio da conversa...
ResponderEliminarFalei de ambientes e gente diferente como uma forma de mudar de ares e não de escape ou competição ou inserção no mundo k n é o teu (nem o meu)...
kiss...
Mas por força das circunstâncias estás mais habituada...
ResponderEliminarHoje vou recolocar um poema em prol dessa dos ambientes fashion... mas não só
ResponderEliminarhá tanto tempo que não "ouvia" a história do patinho feio... devo dizer que me agradava mais a versão que me contavam quando era puto e não esta urbana e moderna. se esse não é o teu mundo não sei porque dás a indevida importância a pessoas cujos princípios e ou valores muitas vezes não andam longe de banalidade e futilidade, além do mais o que dizes pode mesmo chegar a ser confundido com inveja.
ResponderEliminar"vivemos" no mundo da imagem, sexo e dinheiro portanto não me surpreende que te sintas além (como eu me sinto, mesmo tendo mais de 1,7 m e outros requisitos... dizem) mas tenho por garantido que não estou sozinho
LFS, dedicado a mim? ;) Vi que voltaste a retirar os comments, resta-me esperar que passes aqui.
ResponderEliminarLuís, não é de todo inveja nem a história do patinho feio. Como disse, tudo é relativo Até acho que sou um patinho muito giro, mas não ao pé de pavões...
Angela, nesse post o contexto era diferente e as "mães" não eram de todo as mais simples. Mas no resto concordo contigo. ;)
mas que graça tem os pavões? nesses sitios onde "dominam" os pavões o interessante até são os patinhos (por poucos que sejam) além do mais hoje em dia, apesar de me sentir deslocado na mesma, já não me sinto tão mal como dantes, confesso que agora até sinto um certo prazer em não me identificar com os ditos pavões e por vezes a coisa até se torna bem divertida. no entanto, os versos do antónio continuam a fazer todo o sentido
ResponderEliminarAinda bem que o conformismo não ataca todos os olhos... seria tão aborrecido andar todos os dias engravatado por obrigação, só para parecer bem. Parecer bem aos olhos de quem?... bah... eu adoro não ser uma figura tipificada, tal como tu... :)
ResponderEliminarEu cá também odeio ambientes falsificados! Curto estar com o pessoal que conheço, nos sítios que conheço. Por força das circunstâncias tive que sair da cidade onde fiz a universidade, onde conheci as pessoas mais interessantes e importantes da minha vida, onde vivi anos loucos dos quais lembro com carinho mas que só fizeram sentido naquele contexto.
ResponderEliminarHoje vivemos noutro lugar, não temos os nossos amigos íntimos, não conhecemos ninguém realmente interessante, as gajas e os gajos saem produzidos à noite e ir ao teatro é sinónimo de pôr a roupa domingueira!
Todavia, ando sempre com um sorriso nos lábios, encontro os meus interesses dentro de casa ou enquanto ando incógnito pelas ruas.
No trabalho, vivo aquelas hora para os alunos e não arranjo amizades. No próximo ano a escola vai ser outra mesmo!
Quando tenho que ir àqueles lugares cheios de gente emproada, penso seriamente duas vezes. A última vez foi um colóquio internacional. Odiei tanto os bastidores e as máscaras daqueles farçolas que recusei dois convites para novas comunicações. Faço investigação em casa e quem quiser que compre o livro!