10 de março de 2005

Câmara Lenta


Lembro-me das cenas dos filmes em que, inevitavelmente, o par romântico se cruza num choque frontal, deitando por terra os conteúdos dum típico saco de papel de supermercado americano, e os seus olhares se encontram no preciso momento em que ambos seguram uma maçã que rolou pelo chão com o único intuito de lhes juntar as mãos e o destino.

Esse momento de troca de olhares é sempre em câmara lenta, e sempre pensei ser mais um truque cinematográfico para enfatizar o encontro, até à noite em que o vi pela primeira vez, no bar do costume com os amigos do costume, quando um amigo me chamou para mo apresentar e de repente me voltei. O tempo parou no preciso instante em que os nossos olhos se cruzaram num momento infinito, os milésimos de segundo se tornaram uma eternidade, e toda a gente à volta desapareceu, ficando só nós, até que a realidade reclamasse os seus direitos e me trouxesse de volta à terra.

Ainda hoje, passados cerca de 3 anos, tenho a certeza que se naquele suspender do tempo ele me tivesse estendido a mão e dito “vem comigo” eu teria a teria agarrado e partido sem hesitar, não importa para onde nem como, para a Austrália ou até para o pólo norte, sem trocar mais palavras que as ditas com o olhar.

Mas ele não o disse, e a realidade mais uma vez encarregou-se de nos prender à terra, o tempo foi passando e os encontros ocasionais cada vez mais raros. Voltei a vê-lo mais tarde, nunca mais em câmara lenta, porque existe um tempo certo para tudo, e ou nos atiramos de cabeça nesse instante, ou ele perde-se para sempre.

4 comentários:

  1. Bem, espero K a evidência seja propositada...
    Quanto aos momentos certos, eles vão e vêm, podem é ser bloqueados pelo nosso agriloamento ao térreo...

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  2. não queiras fazer isso...
    Não sei o que motivou esse sentimento.
    mas imagina que é como se colocasses em "mute" a tua audiência.
    Em relação ao texto: e pq é q TU naquele momento, então especial, não oconvidaste para Trafaria ou Mondim de Basto? Indicas que "se naquele momento coiso e tal", então e pq tu não "coiso e tal"?

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  3. Acontece... nem sempre temos segurança suficiente para fazer loucuras, nem sabemos se a outra parte é tão louca como nós. Até hoje não sei se não me terão metido alguma coisa na bebida!

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  4. Pois é minha cara...
    De certo que são essas as situações que nos deixam mais inquietos e pensativos: "e se, e se". Passei por uma situação idêntica e ainda hoje penso no que aconteceria se apanhasse o 36 pra Odivelas...
    Terá sido algo na bebida como dizes? Encanto? Ou simplesmente Hormonas?

    Take care

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