31 de março de 2005

Discussões


Gosto de discutir. Trocar ideias, pontos de vista, conhecer os meus interlocutores através das suas opiniões, ver a sua essência exposta nos ideais defendidos. Pegar numa ideia e dissecá-la, até à exaustão, sob uma análise lógica e objectiva, viajando até ao âmago da questão, ir à origem da divergência, com a frieza suficiente para não transformar uma troca de ideias num conflito acalorado.

Por vezes esbarro na incapacidade de distanciamento e abstracção, a dificuldade de afastamento dos casos particulares, das experiências vividas e trabalhar conceitos gerais. Muitas vezes, demasiadas vezes. Principalmente com pessoas mais velhas, pouco estudadas, que olham para mim como a miúda irritante que tem a mania que sabe alguma coisa da vida, e “se fosse minha filha já a tinha mandado calar”.

Então abstenho-me, calo-me e abano a cabeça em sinal de anuimento, enquanto os meus pensamentos vão já muito longe, ouvindo o tom alterado e demasiado alto da voz que me responde como se fosse música de fundo. Não vale a pena. Impossível discutir com base em casos particulares, ideias pré-concebidas, impermeabilidade a pontos de vista diferentes, quando nem os próprios foram sujeitos a análise racional.

A emotividade mata discussões académicas, saudáveis, tolda a capacidade de raciocínio e baralha as mentes, resultando em incoerência. A reflexão quer-se fria, racional, abstracta, não influenciada pelo caso da amiga da prima do marido da vizinha. Porque é impossível rebater o que aconteceu à vizinha do marido da prima da amiga, ou será ao contrário?

4 comentários:

  1. Eu cá gosto de uma boa discussão, de preferência de faca e alguidar!
    No meu grupo de amigos, somos todos muito diferentes e qualquer assunto polémico faz ferver o pessoal em pouca água.
    Não creio que a emotividade mate «discussões académicas, saudáveis, tolde a capacidade de raciocínio e baralhe as mentes, resultando em incoerência», pelo contrário ela é a turbina que põe tudo em movimento.
    Adoro chegar a casa depois de uma discussão acesa, com aquela sensação Godinhiana «ai eu mato, eu esfolo, estrafego, deito os corpos ao rio e nem olho para trás!».
    No dia seguinte, o céu volta a estar descarregado e tomamos café como se nada tivesse acontecido.

    ResponderEliminar
  2. Não quando se discute com pessoas completamente impenetráveis e incapazes de raciocínios lógicos e elaborados, que começam a gritar e esbracejar antes sequer de perceberem o que se acabou de dizer. É muito frustrante!

    ResponderEliminar
  3. com certas pessoas/mentalidades (ou falta das próprias) é realmente missão impossível discutir assuntos e trocar ideias. acho que não é necessário recusar qualquer sinal de emotividade que possa transparecer com o tema tratado, mas há que saber estabelecer o limite. e as experiências pessoais só servem para formarmos melhor a nossa opinião em relação ao assunto em que se incluem, mas nunca como desculpa.
    sinceramente, a análise puramente racional dá-me arrepios. capacidade de raciocínio existe para ser utilizada, sim senhor, mas as emoções que esses mesmos raciocínios nos evocam, não devem ser totalmente negligenciados :)

    beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Conheço muita gente assim. Mas não discuto com elas. Já foi tempo em que caía nesse erro. Agora não, quando começam a querer esgrimir de forma fanática e cega digo-lhes apenas:
    «-Comigo não discute quer quer. Discute quem pode.»
    Ficam «piursos»!

    ResponderEliminar