16 de março de 2005
Futilidades
Gosto de escrever sobre questões fúteis. Ou aparentemente fúteis. De tão banais que qualquer pessoa com um pingo de normalidade não perde tempo a pensar nelas. Não, nunca disse que era normal. As pessoas normais não têm graça nenhuma. O que me fascina é a importância do detalhe, das pequenas coisas, aquilo que se pode encontrar logo abaixo da superfície de pretensa futilidade. É assim mais ou menos como o pequeno defeito da unha do dedo mindinho do pé - voltarei a este ponto mais tarde – tudo tem a sua importância.
Porque a profundidade pesa, arranha, dói. Porque vomitar as entranhas num mapa de bits parece-me exposição demasiada e prefiro ficar-me pela ponta do iceberg. A profundidade cansa, já basta aturarmo-nos a nós mesmos todos os dias, saber como somos e pensamos, sofrermos e inquietarmo-nos. Não sou um livro aberto, embora me esforce por parecê-lo. Não gosto de sofrer por sofrer, sofrer de véspera, chorar ou lamentar-me – só sobre questões fúteis, uma boa fita sabe sempre bem – porque toda a gente tem as suas feridas e fracturas expostas, outras são hemorragias internas que não se vêm, só se sentem. Eu prefiro as segundas.
E prefiro escrever sobre futilidades e coisas banais, com a sua devida importância, como o pequeno defeito na unha do dedo mindinho do pé, que acaso houvesse dúvida, seria um detalhe mais que suficiente para dispensar um teste de DNA na prova de paternidade.
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Minha cara como te compreendo...
ResponderEliminarFalando em coisas futeis o que dizer então dos meus devaneios? Agarro em coisas parvas multiplico pelo infinito elevado às profundezas do inferno* e não faço a menor ideia do que é!
* - "in Joe Black"
é... profundidade cansa, exige. e por vezes quer-se apenas simplicidade, ver as coisas de outros como deja-vu nosso. e quem disse que a flor do campo aparentemente mais singela não contém o mais profundo dos pensamentos? basta procurar - como disseste - a importância dos pormenores, ao dissecar as suas pétalas.
ResponderEliminarbeijinhos & take care
Concordo plenamente com a exaltação das coisas fúteis. Até porque a futilidade tende em ser relativa. Quem disse que não é importante escrever sobre a unha do pé? É interessantíssimo. Uma unha do pé tem muito que se lhe diga. Por exemplo, o Vampire XXII - n'As Sombras - escreveu um texto sobre a desvalorização das hienas face aos golfinhos e hienas. Achei o genial! Prometes, miúda
ResponderEliminaronde se lê golfinhos e hienas, deve ler-se golfinhos e gazelas!
ResponderEliminarEstou com medo de ser simples, de ser o que sou! - escrevi um dia a propósito do ridículo.
ResponderEliminarDe facto, não devemos recear ser simples, ser o que somos.
Quanto à unha do dedo mindinho, ou lá o que é, dava tudo para a ver ;)
Acredita, Luís, não é nada de especial, apenas um pormenorzinho genético no meio de tantos que nos constituem, mas que me faz tão filha de quem sou. ;)
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