5 de maio de 2005
Bicadas
Nunca reagi bem a críticas. Por mais que tente mostrar-me cordata e tolerante, capaz de aceitar as críticas “construtivas” com a maturidade e tranquilidade que se espera de alguém racional como eu, por baixo da aparente serenidade sinto-me a explodir, como se me espetassem farpas. Lembro-me de Glenn Close, em Ligações Perigosas, explicando como aprendeu a sorrir publicamente enquanto se espetava com o garfo debaixo da mesa. Assim fico eu, em ponto de ebulição silencioso, esperando que alguém levante a tampa do tacho para explodir numa nuvem de vapor. Depois passa.
Sempre me deixei “picar” com facilidade, já os meus amigos mo dizem, enquanto se divertem com isso e me vêem argumentar, barafustar, fazer fitas, beicinho e amuar com alguma provocação. Quando deixar de assim ser, será porque perdi a combatividade e sentido de justiça que sempre me caracterizaram desde a infância, e ganhei a apatia e acomodação da terceira idade cinzentona.
Pois acusaram-me de pouca profundidade, fiquei piursa – deu para notar não? É como ser chamada de feia. Sim, já me chamaram feia. Claro que eu sei que o gajo era um atrasado mental frustrado, que não arranjou outro meio de me atingir que o ponto fraco de qualquer mulher, a beleza física, face à minha postura de irritante superioridade - nestas alturas detesto ser gaja! Apesar de o saber, aquilo andou-me a remoer durante muito tempo, e não fosse uma enorme capacidade de contenção, teria andado a perguntar a todos os elementos do sexo masculino conhecidos se partilhavam da mesma opinião. Depois ponderei bem, e face à possibilidade de me confrontar com uma resposta indesejada, achei por bem resistir à tentação.
Pior, só mesmo ser chamada de burra. Antes feia que burra, costumava eu dizer – agora já tenho algumas dúvidas. Felizmente ninguém me chamou burra até hoje, talvez receando a possibilidade de vir a ser vítima de homicídio qualificado, ou de uma retaliação verbal inesquecível e dolorosa. Uma vez um professor qualificou-me de insuportável, mas isso não é ser burra, e hoje em dia reconheço que aquele ar insolente que fui aprendendo a perder desafiava estalo.
Mas esta agora de ser pouco profunda… É que esta aproxima-se já, ligeiramente, de burra, e chateia-me. Porra, é que me está aqui entalada. É assim como uma espinha cravada na garganta, e não há miolo de pão que me valha e ma faça engolir. E como não tenho dinheiro para a psicanálise, nem outro meio de exteriorizar os sentimentos que me inquietam, cá venho mais uma vez fazer deste espaço a minha bola anti-stress. Pouco profunda… Humpf…
(Contenho-me e respiro lentamente para não exclamar alto e a bom som: “pouco profundo és tu, ó palhaço!”. Seria demasiado infantil e de muito mau gosto. Só me ficava mal. Não o vou fazer.)
Conto até 10, respiro fundo, endireito as costas, empino o narizinho, e com um ar muito compenetrado, aceito as críticas construtivas e agradeço ao júri, com um sorriso, como vejo fazer nos concursos de canções na televisão. Vou no bom caminho, por este andar um dia destes conseguirei parecer adulta.
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Ya pelo menos aproveitaste para chamar palhaço ao outro.
ResponderEliminarQuanto ao conceito burro:
Sugeria-te que visses o Triunfo dos Porcos(já que ainda és novinha, esquece o livro e vê em desenhos animados...são muito bons).
Vais reparar que o único animal que revela alguma sabedoria, porque foge da quinta(animal farm)é precisamente o burro.Claro que, mais tarde, acaba por ser assassinado...é a sua única burrice mas não deixa de ser o único animal que percebeu os vícios do poder e que prova ser verdadeiramente livre.Liberta-se ainda que pela morte.Quando estou perante alguém a quem se convencionou, socialmente,chamar burro também reparo que no meio de tanta burrice, às vezes, sai uma frase, uma expressão, uma reacção brilhante e daí a vantagem em espetares garfos no joelho e teres paciência para perceber que tipo de burro é que tens pela frente.Já sei que já sabes isto mas, por causa da tua juventude e feitio, podes precipitar-te na avaliação.Saberás isto mas sinto que o sabes apenas teoricamente.Claro está que em primeiro lugar deves aproveitar a tua juventude e precipitares-te à vontade(corres o risco de perder um bom burro).
Quanto à falta de profundidade?Eu chamar-lhe-ía antes(já o disse aqui no post das filhas do MEC)falta de imaginação...corrijo...MAIS imaginação.
No entanto, a primeira vez que te atreveres a desatinar com os meus comentários, podes ter a certeza de que te chamo feia.
...epá e pior do que ser um homem a chamar-nos feia...só mesmo ser uma mulher a fazê-lo.
ResponderEliminarolha , eu concordo contigo... e mais a mais, burros são eles quando acham que as burras somos nós... ;)
ResponderEliminarSempre fui conhecida por refilona e outros mimos por isso estou solidária com a tua intolerância a críticas desconstrutivas. Também preciso sempre do truque do garfo para as engolir. Burra é bem pior que feia nos dias cosmético-modelantes que correm.
ResponderEliminarComo te digo sempre... deixa-os andar...
ResponderEliminarEles adoram falar e principalmente picar...
E o pior que lhes podemos fazer é olhar com aquele ar de regojizo e de "eu sou mais eu", dar uma pacadinha nas costas e dizer: "pois pois, tu lá sabes.."
;)
Eu ás vezes faço isso...mas não resulta...
ResponderEliminarJinho, BShell
Após ter lido este post, uma grande amiga comentou que sempre achou que eu até reagia muito bem a críticas... pelos vistos ando a disfarçar melhor do que pensava. ;)
ResponderEliminarE tú dás-lhe com o Burro!!!
ResponderEliminarIsto já começa a ser perseguição!
A mim também me chamam feio, burro e machista!
E a minha resposta é simples: LOL
Já agora, tú que és uma pessoa inteligente tira-me uma dúvida:
Como é que um Burro pode ser Machista?
Epá... com essa lixaste-me! Vou carregar beterias para pensar no assunto e depois respondo. Pode ser que alguém mais inspirado, e menos cansado a esta hora, entretanto te responda. ;)
ResponderEliminarÉ pá, solidariedade feminina?
ResponderEliminarEstou muito desapontado com os comentários femininos a este post. Pensei que iam falar de coisas com interesse, agora coisas como o facto do gajo te ter chamado feia e «pouco profunda»... pff... francamente! Já sabes que as amiguinhas vão passar a mão pela cabeça e dizer «deixa lá, não és nada, és bem gira e bué inteligente, o gajo é que é um def., etc, etc, etc».
O que interessa neste post é a essência: «Nunca reagi bem a críticas. Por mais que tente mostrar-me cordata e tolerante, capaz de aceitar as críticas “construtivas” com a maturidade e tranquilidade que se espera de alguém racional como eu, por baixo da aparente serenidade sinto-me a explodir, como se me espetassem farpas.»
Eu também sou assim! Acho que toda a gente o é... reajo no momento e só depois em casa (e passados muitos dias) é que penso nas críticas e vejo se são realmente defensáveis! Se sim, olha dou a mão à palmatória, se não, olha continuo a espetar farpas, mas não por baixo da mesa!
1) «Ya pelo menos aproveitaste para chamar palhaço ao outro.»
ResponderEliminar2) «pior do que ser um homem a chamar-nos feia...só mesmo ser uma mulher a fazê-lo.»
3) «olha , eu concordo contigo... e mais a mais, burros são eles quando acham que as burras somos nós... ;)»
4) «Como te digo sempre... deixa-os andar... Eles adoram falar e principalmente picar...»
Se isto não é superficialidade (prefiro o termo a «pouca profundidade», até porque a palavra existe), já não sei nada deste mundo.
Quanto às constantes alusões da Catarina à juventude... esse tom pio e paternal é, no mínimo, «improfundo», para não me estender mais.
Welcome back, já tinha saudades vossas, dos vossos comentários, e das vossas discussões com os outros comentadores!
ResponderEliminarAgora que já se me acabaram os dias de licença de paternidade tenho de por as contas em ordem. Aqui e nos outros blogs, incluindo o meu.
ResponderEliminaró vampire vai dar banho ao cão e ao puto...estes gajos que exibem a paternidade têm a mania da piadética.
ResponderEliminarpronto ó vampiro toma outra deixa e deixa-te de reflexões sobre os improfundos.pior do que esses só os que reflectem sobre eles.Totó.
Se certos blogues têm os melhores comentadores e comentários, o meu tem, sem dúvida, os mais conflituosos... Mas já me habituei e até gosto, que quem não tem mau feitio não tem graça nenhuma. ;)
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminar«Se certos blogues têm os melhores comentadores e comentários, o meu tem, sem dúvida, os mais conflituosos... Mas já me habituei e até gosto, que quem não tem mau feitio não tem graça nenhuma.»
ResponderEliminarDesculpa lá, cara Luna, mas tu tens dos melhores comentadores a comentadores da blogosfera! Assim, muito se revela da superioridade de uns e da mediocridade de outros.
Em relação à minha afirmação acima sobre os comentários de «Catarina» (note-se que não aludi à sua pessoa, que não conheço, mas à forma como se expressa) respondeu alguém em seu nome ou a própria (não fez o login) da forma como todos puderam verificar. É à pessoa que colocou este comentário que me dirijo.
ResponderEliminar1) «ó vampire vai dar banho ao cão e ao puto...»
É uma menina.
Quanto à primeira parte da frase, vejo que domina perfeitamente o vernáculo na sua vertente mais elegante e delicada, o que, pelo menos, já diz alguma coisa sobre as suas origens.
2) «estes gajos que exibem a paternidade têm a mania da piadética.»
Com «piadético» a minha cara pretende dizer o quê? É que a palavra, pura e simplesmente, não existe. Isto revela uma insuficiência lexical que não deixa de ser preocupante. E, mais uma vez, reveladora da natureza da pessoa que a emprega.
3) «deixa-te de reflexões sobre os improfundos.pior do que esses só os que reflectem sobre eles.»
Saiba a minha cara que na minha profissão vejo a sociedade no seu todo, mas não fecho os olhos aos indivíduos que a compõem (o que não é o mesmo que ver a sociedade como um corpo autónomo ou uma soma de individualidades).
Por isso, dou-me a liberdade de reflectir sobre si. De forma profunda.
4) «Totó.»
Utiliza aqui um depreciativo popular. O que já se esperava. Não está à espera que eu lhe chame nomes, pois não? É que não me ofende quem quer, mas quem pode.
Além disso, «Accipere, quam facere, praestat injuriam». Não se esforce, é Cícero, autor que não leu e que, certamente, nunca lerá.
Não se irrite com as minhas observações. Irrite-se consigo. É que, minha cara, falta-lhe substância.
catarina: você é aquele tipo de pessoa a quem eu costumo dizer: "caladinha fazia um figurão!"
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