3 de maio de 2005
Fahrenheit 451
Estou muito chateada. Devo ser a única pessoa da blogosfera que não foi convidada a responder ao questionário de palavra-chave Fahrenheit 451, e sinto-me profundamente discriminada. Das duas uma, ou simplesmente se esqueceram da minha existência, ou então desconfiaram que não teria absolutamente nada de interessante a dizer sobre o assunto. Se foi este o caso, não andaram muito longe da verdade, uma vez que não fazia a mínima ideia do que se tratava, tal como desconfio seriamente que o não fizesse a maioria dos autores de blogues que tão afoitamente responderam. Isto porque acredito piamente não ser a pessoa mais inculta do universo blogosférico. Andarei lá pelo 3º quartil – e com esta já lixei o pessoal de letras que não percebe nada de estatística.
Aproveitando a formação de base científico-tecnológica, ainda usei a lógica para tentar decifrar o código, e lembrando-me ainda do factor de conversão, lá fiz a conta: ºF=32+1,8.ºC, ou seja, Farenheit 451, nome pomposo, não passa duns míseros 232,8ºC. Assim à vista, continua sem me dizer absolutamente nada. Passo à fase seguinte, não há nada que uma breve pesquisa no Google não resolva.
Lá está. Fiquei a saber que Fahrenheit 451 (232,7ºC), é o ponto de auto-inflamação do papel, e consequentemente dos livros, e também nome de um filme (que já não é do meu tempo) sobre um regime totalitário que considera a literatura nociva e ordena a incineração de todos os livros existentes, organizando-se uma resistência em defesa da literatura, onde cada membro memoriza um livro, para deste modo se perpetuar o conhecimento e obras literárias consideradas património da humanidade. Lá pelo meio há ainda um incendiário de livros que começa a questionar-se e duvidar sobre as suas funções, tornando-se dissidente, mas isso já não vem ao caso.
Portanto, aquela pergunta “que livro querias ser?” significa no contexto do Fahrenheit 451, “que livro querias decorar?” – confessem lá que assim explicadinho já percebem melhor a pergunta. Aqui aparece o problema, eu sempre odiei decorar - lembro-me logo de bioquímica, ciclos e aminoácidos e só me apetece fugir – logo a resposta inevitável seria: um fininho, obviamente, com poucas páginas e bem simples. Ainda me lembrei das histórias infantis, tipo Branca de Neve e os Sete Anões ou Fábulas de La Fontaine, mas seria pouco profundo. Felizmente entretanto lembrei-me do livro ideal, fininho e conceituado q.b.: “A pérola” de John Steinbeck, prémio Nobel da literatura em 1962. Queriam não queriam? Pois este é meu! Os pseudo-intelectuais presumidos, com a mania das grandezas, que enunciaram obras intermináveis, que fiquem com os tais calhamaços para verem o que é bom para a tosse. Saber tudinho. Palavra a palavra. De cor!!!
Quanto ao resto das perguntas, cá vai.
Se já fiquei apanhada por algum personagem? Não, sempre tive os pezinhos bem assentes na terra, e se já não tenho assim tantas hipóteses com personagens de carne e osso, muito menos com ficcionais, que não sou menina de sofrer à toa nem andar para aí obcecada, e prezo muito a minha sanidade mental. Gosto muito do Principezinho, mas é uma criança, e por isso seria pedofilia qualquer sentimento além da ternura.
Qual foi o último livro que comprei? Foram sete, graças à fnac e aos seus livros de bolso a 2,5€, irresistíveis. Foram estes o Budapeste, de Chico Buarque; O Livro do Riso e do Esquecimento, de Milan Kundera; Encontro de Amor num País em Guerra, de Luís Sepúlveda; O Fim da Aventura, de Graham Greene; Timbuktu, de Paul Auster; A Substância do Amor, de José Eduardo Agualusa e Os Cisnes Selvagens, de Jung Chang. Uff…
Qual o último livro que li? O Budapeste, excelente, adorei, talvez pela parte sentimental das descrições de Budapeste e da língua magyar, que tanto me lembram a minha amiga Eva, companheira inseparável das aventuras Erasmus, ou talvez pela escrita surpreendente de Chico Buarque, que nos faz viajar por um mundo de sons, palavras e sentimentos.
Que livros estou a ler? Na cabeceira estão Il Piccolo Principe (em italiano e parado há uns tempos), As Virgens Suicidas e Timbuktu.
Quanto aos livros que levaria para uma ilha deserta… não sei! Nunca fui de repetir livros, na verdade até hoje nunca reli nenhum, por isso é difícil responder. Talvez aqueles grandes calhamaços que são sempre citados, mas que na verdade poucos leram além do resumo, e que nunca tive coragem de iniciar. No entanto, como acredito que não sobreviveria o suficiente para tranquilamente os ler, pois passado o pânico inicial, e com a sorte que tenho, provavelmente apanharia logo uma desinteria lixada, uma malariazita ou qualquer febre tropical marada, não considero uma escolha muito importante.
A quem vou passar? A ninguém, claro! Fui ignorada, discriminada, esquecida por todos, pois não passo cartão a ninguém. E tenho dito.
*Dedico este texto a todos aqueles que acharam que não sou suficientemente profunda para responder a semelhante inquérito.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Houve uma hiper-vantagem em não teres sido contagiada por esta epidemia: a produção deste texto fora de série :))
ResponderEliminarMiga, se te consola também fui deixada de lado, mas cá por mim ainda bem...
ResponderEliminarE depois quando falas de medidas de dispersão não te esquças que o pessoal de letras também tem umas noçõezitas de estatistica... Se bem me lembro IQ=Q3-Q1, ou seja onde se situam 50% dos casos... certo?
E seria todos os sonetos de Florbela Espanca...
Bem, no caso, algures no terceiro quartil significa entre os 50 e 75%, ordenados de forma crescente.
ResponderEliminar1 palavra... LIRÍCO!!
ResponderEliminarLuna:
ResponderEliminarNós no it's também não recebemos o bendito questionario... e se queres que te diga, também não acho que alguem se tnha lembrado de nos perguntar sequer se sabemos ler... de qualquer forma, pensa que podem não te ter mandado o questionario porque concerteza pensaram que não iriam conhecer nenhum dos teus livros... e que és demasiado iteligente para responder a questionarios!
beijokas
Obrigada a todos os que, esquecidos e desprezados ou não, aqui manifestaram o seu apoio.
ResponderEliminarAcho que depois disto, ninguém se atreverá a ignorar-me nos próximos questionários correntes na blogosfera! ;)
Belissima explicação! Mas se quizeres saber mais, poderás visitar este link e verás que tem partes interessantes que revelam em parte professias, o medo do comunismo e a memória do holocausto!
ResponderEliminarhttp://www.answers.com/topic/fahrenheit-451
Pois... não foste a única realmente.. :)
ResponderEliminarE viva o Bradbury!!!!
Como vês afinal, tanta gente que ficou de fora! :)
ResponderEliminarLuna:
ResponderEliminarPoupo-te a mais um elogio embora saiba que os elogios nunca são demais e fazem-nos bem ao ego...enfim, depende do ego.
Mas vou tentar tornar este um comentário útil para mim.
Neste caso, em relação às Virgens suicidas, com qual delas é que te identificaste mais, ainda que nunca tenhas tido vontade de te suicidar.Eu por exemplo, que nunca me suicidei...longe disso, tive vários processos de identificação com cada uma delas.Pronto, hoje lanço eu o desafio da blogosfera e começo logo por ti:
Com qual das virgens suicidas se identifica(tanto no livro como no filme)?
Aí está Luna, ultrapassa a discriminação e avança para bingo.
Aconteceu-nos precisamente o mesmo.
ResponderEliminarDa mesma fora, decidimos responder, até como forma de protesto!
Podes ver aqui:
http://profitrolls.blogspot.com/2005/04/questionrio-maldito.html
Tantos comentários e eu sem tempo para responder convenientemente!
ResponderEliminarCatarina, para responder ao desafio tenho que acabar o livro primeiro. ;)
«Fiquei a saber que Fahrenheit 451 (232,7ºC), é o ponto de auto-inflamação do papel, e consequentemente dos livros, e também nome de um filme»
ResponderEliminarAntes de ser filme já era livro, não era, Stephen King?
Mil perdões pela ignorância e falta de precisão: livro e filme. Infelizmente não conhecia, mas como se costuma dizer, aprender até morrer.
ResponderEliminarÓ minha cara, tu não precisas de te desculpar. Se leres o livro já fico contente.
ResponderEliminarAcho que vai ter de esperar. Primeiro porque não está nas minhas prioridades; segundo porque não o tenho, o que significa que teria de comprar; terceiro porque tenho mais de 300 livros cá em casa à espera de ser lidos. Mas quem sabe, pode ser que mo ofereçam. ;)
ResponderEliminar